Adepto do ‘Baleia Azul’ é salvo por bombeiros ao tentar saltar de viaduto
“A culpa é da baleia”. A frase postada por um adolescente de 17 anos em sua página pessoal no Facebook já anunciava o que ele estava por fazer. Cerca de 15 horas depois da publicação, por volta das 11h dessa terça-feira (18), o garoto tentou se jogar do viaduto sobre a rodovia Marechal Rondon (SP-300), que dá acesso ao bairro Colina Verde, em Bauru.
A atitude dele mobilizou vários homens dos bombeiros. Após cerca de uma hora de operação, a equipe conseguiu impedir um desfecho trágico.
À reportagem do JC, a cunhada do jovem confirmou que ele teria sido motivado pelo jogo que incentiva o suicídio chamado desafio da “Baleia Azul” (“Blue Whale” em inglês).
Em uma das publicações, amigo tenta dizer ao jovem que Deus o ama, mas ele responde que é ‘tarde demais’; nas outras postagens, adolescente se despede da família e fala que a ‘culpa é da baleia’
‘JOGO DA MORTE’
O “game” vem gerando preocupação a pais e autoridades de Bauru e região. Conforme o JC noticiou, um adolescente de 16 anos usou uma lâmina de apontador para cortar várias partes do rosto na última sexta (14), no Mary Dota, e revelou estar disposto a se matar. Um dia antes, outro jovem, de Jaú, precisou ser internado em hospital psiquiátrico depois de cumprir desafios de automutilação do jogo.
Os administradores do “Baleia Azul”, chamados de “curadores”, agem em grupos fechados nas redes sociais e aplicativos (Facebook e WhatsApp), sempre durante a madrugada. São lançadas 50 missões de graus variáveis de dificuldade aos jogadores, como automutilações. A última tarefa seria o suicídio (veja dicas de alerta no quadro ao lado).
CUMPRINDO ETAPAS
O adolescente resgatado pelos bombeiros ontem pode ter cumprido uma das etapas do jogo, cujo desafio é: “suba em uma ponte e fique na borda por um tempo”. Entretanto, o conteúdo de suas postagens no Facebook dava a entender que ele, de fato, cometeria o suicídio.
Um dos amigos dele reagiu à postagem e respondeu com a seguinte frase: “Deus te ama, ele é a única salvação”. Na réplica, o garoto parece estar decidido a dar fim à própria vida. “Tarde demais não tem volta”, escreveu.
Cerca de três horas antes de ir para o viaduto, ele publicou ainda o que seria uma mensagem de despedida para a mãe.
“Sempre muito quieto, ele ficava boa parte do tempo trancado no quarto. Já se envolveu em brigas na escola e costuma fazer o que está na moda. É meio ‘Maria vai com as outras’. Mas ninguém imaginava que ele pudesse fazer algo assim. A mãe dele está desesperada e, agora, fala em arrumar um psicólogo para ajudá-lo”, relatou a cunhada do adolescente.
BALEIA NO BRAÇO
Outra familiar do jovem conversou com a reportagem enquanto ele recebia atendimento médico no Pronto-Socorro Central (PSC), nesta terça-feira (18). Ela disse que o menino já havia mutilado um dos braços, desenhando a imagem de uma baleia. “Ele usava o celular da mãe para jogar. Ontem (na última segunda-17), ela (mãe) descobriu e tomou o aparelho dele”, contou a parente.
É crime!
Conforme o JC divulgou, o advogado e perito especializado em direito digital, José Antônio Milagre explica que, no Brasil, o criminoso ou “curador” apresenta dados pessoais e até mesmo o IP dos jovens e os constrange a participar do desafio.
“São jovens que estão fragilizados, muitas vezes coagidos e constrangidos com a divulgação de informações pessoais, que, na verdade, já são públicas”, diz Milagre.
As vitimas do crime digital ou seus pais podem realizar a quebra de sigilo informático judicialmente, com apoio no Marco Civil da Internet, para identificar os cibercriminosos que, se localizados, podem responder até por lesão corporal grave, caso as vitimas tenham se mutilado.
“Os criminosos virtuais também podem responder por induzimento ou instigação ao suicídio, caso as vítimas efetivamente deem cabo à própria vida. A pena pode chegar a seis anos de reclusão”, diz Milagre. Caso os autores sejam adolescentes, responderão por ato infracional.
No Brasil
No Brasil, já há mortes registradas que teriam relação com o jogo “Baleia Azul”. No Mato Grosso, uma jovem de 16 anos foi encontrada em uma represa. O corpo apresentava cortes nas coxas e nos braços.
Ainda nesta semana, em Pará de Minas, um jovem de 19 anos foi encontrado morto por sua esposa e o caso foi atribuído ao “game”. Isso porque familiares teriam relatado à polícia que ele era participante do desafio e vinha tentando deixar o grupo secreto.
Monitorar
Psicóloga ouvida pelo Jornal da Cidade para reportagem no fim de semana, Sílvia Helena Diegoli Machado destacou que os “curadores” do “Baleia Azul” fazem uma espécie de busca na Internet por pessoas que costumam “dar dicas” de vulnerabilidade emocional em publicações.
Para a especialista, os administradores do “game” têm perfil psicopata, pois gostam de ver a dor do outro. Por isso, ela alerta que os pais devem monitorar a rotina dos filhos nas redes sociais e sempre estar atentos aos indícios, como ferimentos pelo corpo, queda no rendimento escolar e comportamento depressivo. A ajuda profissional e o diálogo são importantes.
Bombeiro: ‘Vi a baleia no braço e entendi porque ele era tão focado’
O tratamento dado pelo Corpo de Bombeiros ao salvamento do adolescente de 17 anos não foi diferente das demais tentativas de suicídio registradas na cidade. Um detalhe, no entanto, surpreendeu e assustou o tenente Saulo Vitale, comandante da operação. “Quando vi o desenho da baleia no braço, entendi porque ele estava tão focado. Pelo que sei do jogo, há dias ele devia estar tomando coragem”, comenta o bombeiro.
“Tanto que tentei conversar, mas ele ficou em silêncio o tempo todo, olhando para o chão. Tentou pular de frente, sentado e escorregando e, depois, de costas. No momento em que ele soltou uma das mãos, nós fizemos a abordagem tática”, completa o tenente. “Havia também um bombeiro preso a um mosquetão pronto para pular junto e salvá-lo”, detalha.
Ainda segundo o comandante Saulo, o garoto tentou resistir, mas foi contido e atendido por equipes do Samu no local. Fonte: JCNET