Aluno da Unesp promove ação em bairro rural de Tarumã

 

Mauro Benelli é estudante do 3º ano do curso de História da Unesp de Assis e desenvolve seu projeto de História e Memória, com o objetivo de registrar e perpetuar, a história e memória das famílias moradoras do bairro de bairro rural, recuperando a origem, o quotidiano da família, suas atividades de trabalho, usos e costumes nas redes de sociabilidade, sua religiosidade e festividades no pequeno e infinito universo da capela rural de São Benedito no Bairro da Água da Onça, município de Tarumã.
Este pequeno bairro rural floresceu a partir de 1900 com a chegada de seu primeiro morador, o posseiro, Sr. José Lopes da Cruz. Neste seu século de existência, teve sua vida social, cultural e religiosa centralizado na pequena capela, inicialmente construída de madeira e posteriormente em alvenaria, onde membros da comunidade local e de bairros vizinhos se reuniam.
O fenômeno do êxodo rural atingiu o Brasil e este bairro a partir dos anos 50, levando as populações rurais a migrarem para as cidades em busca de melhores condições de vida e maior conforto, como a luz elétrica, água canalizada e escolas para seus filhos.
A vida da capela rural definhou marcadamente com a perda dos moradores locais e da região, restando com uma missa mensal e algumas poucas festividades. Um dos moradores, Sr. Onofre Lopes de Lima, teve então, a ideia de celebrar esta missa mensal, homenageando a memória destas famílias de antigos moradores e vizinhos do bairro, na luta impar de dar um sopro de vida às atividades da tradicional capela. Assim, com o apoio do Pe. Vicente, mensalmente, escolhe-se a família  que será homenageada na celebração da missa.
Com o uso de metodologia da história e memória, faz-se o registro da história de vida de antigos moradores do bairro rural, identificando em suas lembranças, temáticas e aspectos relevantes de suas vidas e de seus familiares, ligados também à sua vivencia na capela de São Benedito e seu legado de trabalho árduo no desbravamento deste território.
O Sr. Onofre é pessoa de pouca escolaridade, mas de grande cultura, sendo uma biblioteca viva dentro do mundo rural e caipira e é uma das principais fontes orais no resgate da historia das famílias do bairro. Inicialmente, ele é a primeira pessoa a ser entrevistada, onde dedica seu tempo, contado e recontando tudo o que sabe com riqueza de particulares, superando por vezes, a memória dos familiares em questão. Posteriormente, procuram-se os familiares, que contam suas memórias sobre os fatos, pessoas, datas, lugares e fornecem as fotografias que são anexadas ao texto final.
Neste dia 30/04, registramos e contamos a História da família Merlin, antigos produtores de café do bairro.
Depois da entrevista, o texto é digitado e revisado, recebendo tratamento formal, para que possa resultar em histórias de vida, de forma a possibilitar a construção da história destas famílias. Ao fim do texto são anexadas fotografias mais representativas da família em questão. Prepara-se então uma pequena apostila com o material e se fazem aproximadamente dez copias. No domingo a missa na capela é celebrada às 10h30, onde espera-se reunir o maior número de familiares, amigos e convidados. No início da celebração, faz-se dedicatória da missa aos finados da família e dos demais presentes. Dependendo do tamanho da família e do seu real interesse em participar da celebração, a capela não consegue abrigar a todos os fiéis. Assim, usa-se o próprio salão de festas para a função religiosa.
 Domingo 30 de abril, foi celebrada a “missa sertaneja”, pois todos os cânticos são em estilo sertanejo com a participação especial do músico e sanfoneiro, o assisense Claudemir Alevato, que fez a diferença, abrilhantando a celebração. Algumas famílias organizaram uma cavalgada, onde os cavaleiros partiram de Tarumã e percorreram sete quilômetros a cavalo, recordando a lida do tropeiro com gado e cavalos, como parte do estilo de vida da comunidade. Um belo exemplo dos cavaleiros da Comitiva Tarumã, que participaram do evento com um belo desfile, ajudando ainda na preparação do almoço coletivo, preparando entre outros pratos, o famoso “feijão gordo”.
Depois da benção final do celebrante Pe. Vicente, aconteceu a narração aos os presentes, da história da família Merlin, suas origens, seus membros expoentes, seu trabalho, seu laços com a comunidade e sua participação, vivência e contribuição nas atividades da capela. São momentos de grande emoção, onde em várias ocasiões, familiares vão às lagrimas ouvindo feitos de seus entes que já se foram. Filhos, netos e bisnetos retornam e frequentam aquele espaço já vivido por seus familiares, onde alguns estão ali pela primeira vez e  se surpreendem por desconhecer relatos da própria família. Após a narração da história familiar, distribuem-se as apostilas com cópias do texto e fotos aos interessados em preservar naquela forma, partes de própria história e poder também transmiti-la aos seus no futuro.
Todos são convidados a trazer um prato de refeição para o almoço comunitário. Assim, os pratos são organizados na cozinha, onde todos se servem a vontade e se acomodam no salão de festas. Ali se faz comodamente a refeição, com direito à sobremesa preparada por senhoras de boa vontade do bairro. Há muita conversa e se socializa. Antigos moradores se reencontram com parentes, amigos compadres e comadres que não se viam há muito. Contam-se “causos” dos antigos, histórias, fatos, lendas, anedotas e daí por diante. Portanto, apesar de alguns laços terem se perdido no processo de esvaziamento do bairro, muitas famílias que ali se conheceram, ainda mantém contato permanente, sem deixar que o tempo e as mudanças separem ou destruam esses laços construídos com respeito e admiração entre eles.
O evento reuniu aproximadamente 150 pessoas e contou com apoio da Prefeitura Municipal de Tarumã. No próximo mês, a próxima família celebrada. Tudo se repete, mas tudo é sempre muito diferente, pois é outra história à ser contada.