Amigo de preso filmado destruindo vidraça do STF diz que ele ‘quis ficar famoso’
O bolsonarista que pediu para ser gravado enquanto destruía uma das vidraças do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília (DF), foi “influenciado por outras pessoas” e “tomado pela euforia do momento”, segundo o que um amigo próximo dele relatou ao g1.
Nelson Eufrosino, morador de Ourinhos (SP), foi preso durante a 10ª fase da Operação Lesa Pátria. A Polícia Federal cumpriu dois mandados contra ele, de prisão preventiva e de busca e apreensão, nesta terça-feira (18).
Aos 65 anos, Nelson é conhecido na cidade do centro-oeste paulista por ser dono de um trailer de lanches. Antes disso, ele trabalhou em uma agência bancária, conforme disse uma fonte ligada à família, que não quis se identificar.
A participação de Nelson nos atos golpistas de 8 de janeiro surpreendeu pessoas próximas. Para o amigo, ele não quebrou a vidraça, mas gravou o vídeo mostrando um espaço que já estava danificado.
“Ele sempre foi uma pessoa do bem, ele foi levado até lá, tomado pela euforia do momento, mas eu não concordo. Não deveria ter entrado (no prédio), jamais. Ele achou que não ia dar nada. As imagens são condenatórias”, pontua um amigo da família.
Bolsonarista de Ourinhos aparece em vídeo pedindo para gravá-lo
enquanto destrói vidraça do STF — Foto: Arquivo pessoal
Antes do cumprimento do mandado de prisão, o nome de Nelson já constava em uma lista da Advocacia Geral da União (AGU) para ressarcimento dos danos estimados em R$ 20,7 milhões pelos atos de vandalismo na Praça dos Três Poderes. Ele foi alvo de pedido de bloqueio de bens.
Ao g1, o amigo da família revelou ainda que Nelson foi até Brasília em um “ônibus gratuito” e que, na hora, “não pensou nas consequências” dos atos de vandalismo.
“Ele foi num ônibus gratuito, não sabemos quem patrocinou esse ônibus. Foi influenciado por outras pessoas para estar naqueles atos, ainda mais com ônibus de graça, mas só que fez aquela infelicidade. Ele quis ficar famoso e não imaginou as consequências. Agora, infelizmente, ele vai pagar e vai pagar caro por isso”, diz.
No dia 8 de janeiro, o Congresso Nacional e o STF foram invadidos por bolsonaristas radicais que promoveram violência e dano generalizado contra os imóveis, móveis e objetos daquelas instituições.
A operação Lesa Pátria, em sua 10ª fase, tem o objetivo de identificar pessoas envolvidas nos atos golpistas registrados na capital federal.
Ao todo, foram cumpridos 16 mandados de prisão preventiva e 22 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Supremo em Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo e no Distrito Federal.
Bolsonarista de Ourinhos aparece em vídeo pedindo para gravá-lo enquanto
destrói vidraça do STF — Foto: Arquivo pessoal
A defesa de Nelson Eufrosino se manifestou sobre a prisão afirmando que “ainda não teve acesso aos elementos do inquérito”, nem acompanhou a oitiva dele à Polícia Federal. Além disso, ressaltou a idade avançada e o estado de saúde de Nelson como razões para um posterior pedido de prisão domiciliar.
“Assim que tivermos acesso a todos os dados do processo, faremos o pedido de relaxamento da prisão preventiva, tendo em vista que não estão presentes os motivos da segregação cautelar. Paralelo a isso, estamos analisando a possibilidade de benefício da prisão domiciliar, haja visto que ele [Nelson] é portador de comorbidades e tem problemas de saúde”, pontuou o advogado Bruno Rossignoli.
“Da mesma forma, a defesa pretende ressaltar que, além do cliente ser uma pessoa idosa, ele foi preso em sua residência e não se exime de responder pelos atos praticados desde que seja tratado com direito a acesso à ampla defesa”, complementou a defesa.
Lesa Pátria
Segundo a PF, em relação à Operação Lesa Pátria, “os fatos investigados constituem, em tese, os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido”.
A Operação Lesa Pátria, de acordo com a corporação, “segue em curso, com atualizações periódicas acerca do número de mandados judiciais expedidos, pessoas capturadas e foragidas”.
Quem tiver informações sobre a identificação de pessoas que participaram, financiaram ou fomentaram os fatos ocorridos em 8 de janeiro em Brasília entrar em contato por meio do e-mail denuncia8janeiro@pf.gov.br.
Outros casos
Bolsonarista que organizou ônibus de Bauru até Brasília está entre os
presos após atos terroristas — Foto: Facebook /Reprodução
Ainda no centro-oeste paulista, e em relação aos atos de 8 de janeiro na capital federal, a moradora de Bauru (SP) Fátima Pleti está entre as 100 pessoas sob julgamento do STF, nesta terça-feira, que vai decidir se eles se tornarão réus ou não.
O relator do processo, fruto de denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), é o ministro Alexandre de Moraes. Os membros da Suprema Corte têm até o dia 24 de abril para registrarem seu voto no plenário virtual.
Fátima Aparecida Pletti tem 61 anos e, nas redes sociais, há uma publicação em que ela organiza o ônibus que saiu da cidade para Brasília. Fátima também escreveu que estava em busca de verba para que a hospedagem próxima às sedes dos Poderes fosse gratuita.
Fonte G1