Aos 119 anos, moradora de Presidente Prudente é a pessoa mais velha do mundo
A passos lentos, ela aparece na porta e chega à sala. Ao saber de sua idade, é fácil impressionar-se com a força e a lucidez que Deolinda Soares Rodrigues apresenta, já que a mulher, moradora de Presidente Prudente, tem 119 anos. Em seu registro de nascimento, cujo papel já amarelado e desgastado pelo tempo precisa de cuidado para ser manuseado e lido, é certificado que às 13h do dia 24 de junho de 1898, “Mãeina”, como é conhecida, nasceu no Estado de Minas Gerais. “Acham que é mentira”, declarou, aos risos.
Diante do documento, Deolinda é a pessoa mais velha do mundo, afinal, em abril de 2017, foi anunciado que a “posição” seria da jamaicana Violet Brown, que tem 117 anos (dois anos mais nova que “mãeina”), segundo confirmou o Gerontology Research Group (GRG). Uma vontade da família é de que o fato seja reconhecido, já que não há registro oficial, segundo relatou ao G1.
O registro de nascimento de Deolinda diz que ela é de Belo Horizonte (MG), mas “Mãeina” explicou ao G1 que nasceu e cresceu em Minas Novas (MG).
Entretanto, há décadas ela mora na cidade interiorana do Estado de São Paulo, especificamente no Jardim Santa Mônica. Durante alguns dias, ela permanece na casa da filha caçula, no Parque Alvorada, também em Presidente Prudente, pois “não pode ficar sozinha”.
Registro de nascimento certifica que Deolinda nasceu em 1898 (Foto: Stephanie Fonseca/G1)
Ao G1, “Mãeina” contou que se mudou para Presidente Prudente há mais de 50 anos. Antes, ela morou no Estado do Paraná e disse que a região tinha muita influência. Quando saiu de Minas Gerais, Deolinda passou a trabalhar como doméstica, mas relatou que sempre atuou na roça.
Deolinda teve 10 filhos – entre homens e mulheres –, mas a maioria morreu ainda quando criança. Atualmente, são duas as filhas vivas, Leodomira, com 78 anos, e Joana Aparecida, a caçula, com 57 anos, além de Rosemeire, uma filha de criação.
Memórias…
Muitas são as experiências e histórias pelas quais Deolinda já passou, mas a idade já não permite um fácil acesso às lembranças. Distraída, ela diz que não se lembra de muitas coisas, mas, em alguns lampejos de memória, ela se recorda de quando ainda era criança e seguia para um rio localizado na cidade natal. À beira da água, “Mãeina” relatou que não gostava de nadar, mas ouvia as músicas cantadas pelas mulheres que ali estavam. “Era bom ficar ouvindo as cantigas”, afirmou.
“Tem dias em que, do nada, ela começa a contar um monte de histórias, inclusive, de quando era criança. Ela lembra de muita coisa”, afirmou ao G1 a filha Joana Aparecida.
Na cidade natal, Deolinda contou que trabalhava na roça. Carpia e colhia algodão, amendoim e café – que também era moído pelas suas mãos. “Eu gostava. Vai indo que a gente se acostuma”, comentou ao G1 a “Mãeina”.
Dona Deolinda afirmou ao G1 que tem saudade daquela época e de trabalhar. Atualmente, devido à dificuldade para levantar e andar – por conta de uma artrose no pé – e também pela idade já avançada, “Mãeina” não realiza muitos serviços de casa, mas “ela lava umas loucinhas e cozinha arroz e feijão”, comentou a filha Joana.
Aos 119 anos, Deolinda não tem problemas graves de saúde. “Ela é saudável, só tem pressão alta e artrose no pé”, destacou ao G1 a filha caçula.
Os filhos e netos (bisnetos… trinetos… tataranetos… cuja contagem já se perdeu) também não lhe deixam sozinha. Com isso, ela fica uns dias em sua casa, no Jardim Santa Mônica, acompanhada de um neto, e permanece um período com a filha caçula, no Parque Alvorada. “Ela fala que não vai deixar a casa dela. Tem ciúmes”, disse ao G1 a filha caçula de Deolinda.
O terreno onde atualmente está construída a casa de dona Deolinda foi comprado com um dinheiro deixado pelo seu marido antes de falecer, conforme contou ao G1 – por isso, a filha diz que há um ciúme para vender o imóvel.
“Pelejei para fazer a casa com seis cômodos”, declarou.
Entretanto, o imóvel não foi finalizado e o término é uma vontade que “Mãeina” tem, segundo revelou.
O marido de Deolinda, João, já faleceu há alguns anos, mas ainda está em sua memória – e no coração. “Ele começou com dor de cabeça e ficou assim por uns três dias. No quarto dia, ele morreu”, lembrou “Mãeina”. “Só deu tempo de pôr o nome dela [e apontou à filha caçula]. Se fosse menino, seria João, mas como era menina, ficou Joana”, lembrou ao G1. A filha tinha apenas sete dias.
Ao ser questionada sobre o segredo de tanta vivacidade, “Mãeina” ri e bem-humorada diz que comia muita “quirerinha de milho com feijão preto, cozido com orelha de porco”. “Ah, mas era gostoso!”, declarou. Aliás, este era outro alimento colhido por Deolinda: o milho. Ela contou ao G1 que colhia, debulhava e moía a espiga para preparar o prato tão querido. Fonte G1