As Galvão: memorial em Paraguaçu Paulista conta a história da dupla; conheça

Nesta quarta-feira (24), o universo sertanejo se despediu de uma das responsáveis por abrir o caminho do estilo musical para as mulheres. A cantora Marilene, da dupla as Galvão, morreu aos 80 anos em um hospital em São Paulo.

Nascida em Palmital, Marilene formou com a irmã mais velha, Mary Galvão, nascida em Ourinhos, a dupla com a carreira de mais de 70 anos.

As duas cresceram no distrito de Sapezal, em Paraguaçu Paulista, onde começaram a cantar ainda crianças, como lembrou a Mary em entrevista à TV TEM em 2013. Naquele ano foi inaugurado um memorial no distrito que conta a história da dupla, que começou a cantar nos anos 1940. (Veja abaixo a reportagem sobre o memorial).

“A nossa primeira lembrança é sempre essa ‘as meninas de Sapezal estão aqui para cantar, as Irmãs Galvão’ e aí nós cantamos.”

Também durante a entrevista, Marilene lembrou da primeira música que cantaram. . “A primeira música que cantamos na rádio foi ‘La última Noche’, eu com 5 e ela com 6 anos. Não sabia nem o que estava falando na verdade.”

O corpo de Marilene foi velado na Câmara Municipal de Paraguaçu Paulista e o enterro será no Cemitério de Sapezal, nesta sexta-feira (26), às 9 horas.

Marilene, da dupla As Galvão, morre aos 80 anos em São Paulo — Foto: Divulgação

Marilene, da dupla As Galvão, morre aos 80 anos em São Paulo

— Foto: Divulgação

As Galvão

Nas paredes do Memorial, estão as fotos, homenagens, discos, troféus e instrumentos que contam a história da carreira de sucesso das Galvão.

Ao longo da carreira, a dupla lançou 80 discos. O fim da dupla foi anunciado por Mary Galvão em entrevista a André Piunti, publicada no YouTube em 19 de junho de 2021. O motivo do término era o avanço do Alzheimer que obrigou Marilene a se retirar de cena pela perda total de memória.

Irmãs Galvão voltaram ao distrito onde começaram a carreira — Foto: Reprodução/TV Tem

Irmãs Galvão voltaram ao distrito onde começaram a carreira

— Foto: Reprodução/TV Tem

A dupla se consagrou como pioneira no universo da música caipira. As irmãs entraram no ramo como sendo as duas primeiras mulheres do cenário sertanejo, então dominado pelo elenco masculino.

Além de cantar, Mary Galvão tocava sanfona na dupla. Já Marilene Galvão tocava viola enquanto unia a voz com a da irmã em músicas como Beijinho Doce (Nhô Pai, 1945), clássico sertanejo lançado pelas Irmãs Castro, mas desde sempre associado às vozes das irmãs Galvão.

Memorial tem fotos que recontam a história da dupla — Foto: Reprodução/TV Tem

Memorial tem fotos que recontam a história da dupla

— Foto: Reprodução/TV Tem

Quando entraram em cena na Rádio Club Marconi de Paraguaçu Paulista (SP), em 1947, com sete e cinco anos, respectivamente, Mary e Marilene certamente nem sonhavam em pavimentar trajetória tão longa na música sertaneja.

De rádio em rádio pelo interior paulista, as irmãs acabaram contratadas pela RCA Victor, gravadora na qual debutaram em 1955, ano em que as Galvão registraram, em disco de 78 rotações por minuto, as músicas Carinha de Anjo (Paschoal Yanuzzi e Fábio Mirhib) e Rincão Guarani (Maurício Cardozo Ocampo, Diogo Mulero Palmeira e Centorion).

Começou, naquele ano, a bem-sucedida trajetória fonográfica pavimentada pelas gravações de toadas, modas de viola e rasqueados, gêneros musicais recorrentes no universo sertanejo. As irmãs Galvão gravaram discos com regularidade até o fim da década de 1980.

A partir dos anos 1990, a discografia foi ficando cada vez mais espaçada na medida em que a dupla passava a ser cada vez mais reconhecida pelo fato de, no rastro das Irmãs Castro, Mary e Marilene terem imprimido assinatura vocal feminina na música sertaneja quando que somente os homens cantavam modas caipiras.

Essa trajetória pioneira foi celebrada em 2017, ano em que as Galvão festejaram sete décadas de carreira, com a edição do DVD “Soberanas – 70 anos ao vivo” e com o documentário “Eu e minha irmã – A trajetória das Irmãs Galvão”, dirigido por Thiago Rosente.

Homenagens de sertanejos

Artistas do universo sertanejo lamentaram a morte da cantora Marilene, da dupla As Galvão, nas redes sociais. Marilene Galvão tinha 80 anos e sofria de mal de Alzheimer. Ela morreu nesta quinta-feira (24) em um hospital em São Paulo.

O cantor Daniel postou um vídeo de uma apresentação com a dupla e escreveu que a morte da cantora era uma “perda irreparável”.

A dupla Chitãozinho e Xororó também prestou uma homenagem em seu perfil no Instagram.

“Queridas irmãs Galvão…quanta história, quanta prosa e quanta música boa… o legado construído por vocês será sempre lembrado. Todo nosso carinho a Mary e demais familiares nesse dia tão triste.”

Marilene morreu no Hospital Professora Lydia Storópoli, onde estava internada. O velório e o sepultamento da artista serão realizados nesta quinta-feira (25) em Paraguaçu Paulista. A causa da morte dela não foi divulgada.

Durante mais de 70 anos ela e a irmã May Galvão cantaram e tocaram viola. O anúncio do encerramento da carreira foi feito por Mary no ano passado.

Em junho de 2020, a dupla participou de uma entrevista ao programa Revista de Sábado, da TV TEM, afiliada da TV Globo no interior de São Paulo. Fonte G1