Assessores do prefeito, ex-diretor do trânsito e agentes são indiciados

Já estão no Fórum da Comarca de Assis os cerca de 150 volumes com aproximadamente 35 mil páginas do mais longo e demorado inquérito instaurado pela Polícia Civil de Assis, que ficou conhecido como ‘Máfia das multas’.

Durante quase 18 meses, a equipe do delegado Marcel Ito Okuma, coordenador da Central de Polícia Judiciária de Assis, apurou, com riqueza de detalhes, a denúncia feita pela ex-servidora municipal, Alessandra da Silva, sobre a existência de uma ‘máfia de multas’ no Departamento Municipal do Trânsito em Assis.

Avesso à publicidade e aos holofotes da imprensa, o delegado Ito Okuma concluiu o inquérito no final do mês de novembro em silêncio e encaminhou ao Poder Judiciário para ‘as devidas providências’.

Ao Jornal da Segunda, o delegado justificou o silêncio: “Prefiro trabalhar quieto e evitar manifestações. Fiz meu trabalho, independente e imparcial e agora o Ministério Público saberá conduzir os demais passos da investigação para que a Justiça seja feita”, admitiu, ao ser cobrado porque não informou a imprensa sobre a conclusão do mais rumoroso caso envolvendo a atual Administração Municipal.

Ito Okuma falou pouco, mas trabalhou muito nos últimos meses, inclusive nos finais de semana em que não estava escalado no Plantão Policial. Em conversas reservadas com amigos, comenta, sem dar detalhes, o fim das investigações: “Conseguimos provas, documentos e depoimentos que sinalizam um esquema de ‘organização criminosa’ que funcionava no Departamento de Trânsito”, revela.

Sobre a demora para concluir o inquérito, o delegado justifica: “Tivemos muito trabalho para coletar, separar e analisar, minuciosamente, cada uma das milhares de multas lavradas”, explicou.

Quem conhece o delegado não tem dúvidas que ele conseguiu, com provas e documentos, desmontar a tese criada e defendida pelos agentes de trânsito na Câmara Municipal e no inquérito de que eles recebiam a gratificação de R$ 1,73 para entregarem carnês de IPTU. “Isso é uma inverdade”, concluiu no inquérito que o JS teve acesso.

O delegado parece não ter dúvidas que, incentivados pela lei aprovada na Câmara, que possibilitava o recebimento de R$ 1,73 por multa, os agentes de trânsito passaram a ‘produzir, sem critérios’ muito mais, resultando numa revolta geral da população, em maio de 2.017, que culminando com reportagens vários órgãos de imprensa, inclusive TVs.

NOVE INDICIADOS – Baseado em provas e documentos coletados, depoimentos de testemunhas e envolvidos, no final de novembro, o delegado Ito Okuma concluiu o inquérito policial comprovando a existência da ‘máfia das multas’ no Departamento Municipal de Trânsito de Assis e remeteu todos os volumes à Justiça, pedindo o indiciamento de nove pessoas.

Jornal da Segunda teve acesso parcial a informações do inquérito, mas o processo tramita em segredo de Justiça.

Evitando citar nomes em razão de os mesmos terem a chance de se defenderem no Poder Judiciário na presença de seus advogados, o JS apurou que foram indiciados pelo delegado, um ex-assessor municipal, um atual secretário municipal, um ex-diretor do Departamento de Trânsito, uma servidora do mesmo órgão, um despachante e quatro agentes de trânsito.

Todos já sabem que foram indiciados e contrataram advogados para se defenderem no processo que tramita na 3ª Vara da Comarca de Assis sob sigilo. “Minhas conclusões estão sendo analisadas pelo Ministério Público. O promotor poderá usar as provas do inquérito para denunciar alguém e até mesmo pedir prisões preventivas, mas isso só ocorrerá com autorização do Juiz que preside o processo”, explicou o delegado, após muita insistência.

JS conversou com o promotor Fernando Fernandes Fraga antes dele receber o inquérito policial. “Estamos aguardando o remetimento do inquérito ao Poder Judiciário, que deverá pedir nossa manifestação”, disse.

Com o recesso forense, iniciado nesta sexta-feira, dia 20 de dezembro e término somente em janeiro, surgiram fortes comentários nos bastidores do Fórum de Assis, no final da tarde desta quinta-feira, dia 19, que quatro dos nove indiciados seriam alvo de mandado de prisão preventiva.

Surgiram, sem fundamento na realidade, comentários que, temendo serem presos, alguns deles já teriam deixado a cidade. “Caso a Justiça decrete alguma prisão preventiva, tentaremos cumprir. Se não encontrarmos a pessoa, informaremos ao juiz, que poderá considerá-la foragida”, explicou o delegado Ito Okuma, que garantiu desconhecer os pedidos.

O JS tentou ouvir o advogado contratado para defender a maioria dos indiciados, mas ele não retornou ao pedido de manifestação, mas o espaço continua aberto. Fonte: Jornal da Segunda – Foto: G1