Atriz assisense vive primeira transexual a interpretar mulher cisgênero em novela

 

A atriz assisense Maria Clara Spinelli tem conquistado um espaço muito importante na sociedade e especificamente na televisão brasileira. A atriz, que já participou de produções renomadas como Supermax e da novela Salve Jorge, está brilhando novamente.

Ela está no elenco da novela “A Força do Querer”, no papel de Mira. Ela concedeu uma entrevista ao jornal O Globo, onde fala sobre a importância de ser a primeira transexual a interpretar mulher cisgênero em novela.

Confira abaixo:

No ar como Mira em “A Força do Querer”, Maria Clara Spinelli conta como está sendo a resposta do público à personagem, cúmplice da vilã Irene (Débora Falabella):

“Não tinha noção de que ela ia causar tanto impacto. Para minha surpresa, muita gente fala para eu não cair na conversa da Irene. Parece que não querem que ela seja tão má. Não esperava essa empatia, é gratificante. É a primeira vez que não interpreto uma mocinha, mas também não sei se ela é vilã, ou ingênua. Ou se é chantageada”.

Na trama de Gloria Perez, a atriz está fazendo história por ser a primeira mulher transgênero a interpretar uma mulher cisgênero numa novela brasileira:

“Eu lutei por isso a vida toda. Tenho mais de 15 anos de carreira e achei que não fosse acontecer. Já era conhecida no meio artístico. Diversos diretores, produtores e autores gostavam do meu trabalho, mas nunca me deram essa chance. Existia uma resistência, talvez por medo de o público não aceitar. Gloria, com o respaldo da Globo, mais uma vez foi visionária. Me sinto honrada, é uma conquista de todas as pessoas que nasceram trans e abriram espaço até aqui. Rogéria, Jane Di Castro e tantas outras. É o momento mais feliz da minha carreira e da minha vida pessoal”.

Maria Clara espera que surjam mais oportunidades desse tipo para atrizes e atores transgêneros:

“A partir do momento em que foi escrito esse papel para o horário nobre da maior emissora da América Latina, quem mais vai poder dizer que não funciona? A novela é um sucesso de audiência no Brasil e estreou em Portugal. Com certeza vai fazer sucesso lá também. Se isso é possível, então, porque outras pessoas não me chamariam? Sinto muito orgulho por ser mulher, trans e atriz, mas a minha profissão é atriz, e não trans. O meu trabalho fala por mim”.

A atriz ressalta a importância de a novela estar mostrando o processo de transição de gênero da personagem Ivana (Carol Duarte) e considera normais as dúvidas sobre o tema:

“A gente tem que se colocar sempre no lugar do outro. Há muitas coisas que eu não sei e tenho que aprender ainda. Termos, questões de identidades não binárias e gênero fluido. Como vou exigir que a maioria de uma população heteronormativa conheça isso? Eu sofri com a falta de conhecimento sobre o assunto, porque meus pais foram procurar ajuda e o psicólogo não soube identificar o processo pelo qual eu estava passando, como está acontecendo com a Ivana. A novela ajuda até nisso: um profissional que se identifique com essa da história vai poder se informar e pesquisar”.

A atriz diz já ter sofrido preconceito:

“Eu sofri e sofro discriminação e preconceito até hoje. No meu caso, é mais velado porque sou branca, de classe média, tenho curso superior e conheço os meus direitos. Se me sinto desrespeitada, procuro a Justiça. Ninguém precisa gostar de mim, mas tem que me respeitar. O preconceito é cruel e acho que vai sempre fazer parte da minha vida. É importante saber lidar com ele e não se deixar abater”.

Além da novela, Maria Clara também fez uma participação na série “Carcereiros”, que está disponível no Globo Play e estreará na TV no ano que vem:

“Eu faço a Kelly, uma travesti. É uma personagem muito marcante porque é a única figura feminina no universo totalmente masculino da prisão. Estou muito feliz por toda a repercussão que já conseguiu. Quando digo que quero fazer mais personagens cis, não significa que não quero fazer as trans. Na verdade, quero interpretar todas”. Fonte: Jornal O Globo/ Foto: Divulgação