Câmera ‘espia’ onça-parda e outros animais ameaçados de extinção em área de preservação em Piratininga
Uma câmera noturna colocada em uma fazenda onde funciona o Museu do Café, em Piratininga, no interior de SP, flagrou uma onça-parda e outros animais ameaçados de extinção, em uma região de preservação ambiental.
Os registros foram feitos no mês de dezembro do ano passado e nos primeiros dias de janeiro deste ano. Além do felino, as imagens mostram a passagem de outros animais, como porco-do-mato (cateto ou caititu), gambá e ratos silvestres.
O equipamento, chamado de “câmera trap”, é geralmente fixado em árvores e fornece para pesquisadores e ambientalistas uma “janela privilegiada” para a observação de animais selvagens.
No caso da onça, a “espiadinha” na vida do felino ocorreu no dia 27 de dezembro, às 2h27. A “câmera espiã” está localizada em uma Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Batalha, uma região de transição de Cerrado para Mata Atlântica.
Animais foram flagrados em área próxima ao Museu do Café,
em Piratininga (SP) — Foto: Museu do Café/Divulgação
No mesmo dia da captura da imagem da onça, a câmera também registrou o passeio de uma família de porcos-do-mato.
Para Yuno Silva, um dos colaboradores do Museu do Café, os registros mostrando a diversidade da fauna confirmam o “equilíbrio da mata” no local e que o trabalho de preservação ambiental da área tem tido êxito.
“A equipe do museu é formada por biólogos, e essas câmeras são instaladas em parceria. Já instalamos outras vezes, mas a incidência de animais cresceu proporcionalmente ao tempo que a área está protegida em processo de regeneração: quanto mais protegemos, mais animais migram pra cá sabendo que a área é segura contra desmatamento”, relata.
“Um predador de topo, como a onça-parda, é um indício de que a nossa mata possui condições para abrigar esse felino, condições estas como território, alimentação, refúgio e água”, complementa Eloane Salla de Castro Marques, bióloga do Museu do Café.
Os dois colaboradores ainda ressaltam que a convivência é pacífica entre os membros humanos que moram na fazenda e os animais que abrigam a mata.
“Nunca tivemos problemas com os animais. Eles são de hábitos noturnos e geralmente não aparecem durante o dia. Também preferem ficar longe/escondidos quando tem movimento do bicho homem na trilha. Mas, se ninguém mexer, a convivência é harmoniosa, e tem comida para todos: se a mata está equilibrada, fica tudo bem, não há perigo”, pontua Yuno.
Animais ameaçados de extinção foram flagrados por câmera
trap em Piratininga — Foto: Museu do Café/Divulgação
De acordo com os biólogos que atuam na área, o trabalho no local tem priorizado o enriquecimento florestal e o plantio nas nascentes do Córrego São João do Bom Retiro.
“A proposta do levantamento e do monitoramento de fauna por câmeras é justamente para atestar a integridade da nossa mata e da teia alimentar existente nesta área, nos indicando a eficiência e a contribuição do trabalho de soltura imediata que realizamos com a Polícia Ambiental, que amplia a biodiversidade da área com animais de médio e grande porte e aves”, revela Guilherme do Amaral Carneiro.
A onça-parda vista na ocasião, segundo os colaboradores do Museu do Café, é um filhote macho e já foi flagrada outras vezes no local. O Museu do Café de Piratininga fica na Rodovia Engenheiro João Baptista de Cabral Rennó, no km 248.
Segundo maior felino
Também conhecida como suçuarana, a onça-parda é o segundo maior felino do Brasil – fica atrás apenas da onça-pintada – e pode ter até 2,5 metros de comprimento.
Onça-parda está em extinção — Foto: Adriano Gambarini/ICMBio
A espécie é considerada vulnerável e costuma percorrer áreas com mais de 110 quilômetros quadrados. Com a perda das matas, a onça-parda acaba sendo encontrada em regiões urbanas.
Os especialistas afirmam que esses felinos não costuma atacar as pessoas, “a menos que se sintam ameaçados ou acuados, como quando estão com filhotes”.
A onça-parda tem hábitos noturnos, predominantemente, mas caça a qualquer hora do dia, “com certa tendência ao horário de crepúsculo”. Mesmo sendo uma espécie terrestre, ela possui habilidades para subir em árvores e é muito ágil.
A não ser na época de acasalamento, a suçuarana vive solitária. O período de gestação varia entre 84 e 98 dias, e nascem de um a seis filhotes, cada um com 220 a 440 gramas de peso.
Segundo pesquisas, ela é o predador mais eficiente e mais flexível entre os felinos e consegue alimento em 75% das vezes em que parte para o ataque. A alimentação inclui desde pequenos roedores até mamíferos de grande porte, como capivaras, veados e catetos, além de aves e répteis.
Fonte: G1