BC avalia mudanças no cartão e considera acabar com compra parcelada sem juro
O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, declarou nesta quinta-feira (19), durante entrevista em Davos (Suíça), que é preciso “repensar” o sistema de cartões de crédito brasileiro e melhorá-lo “ao longo do tempo”.
Goldfajn lembrou que o governo anunciou recentemente medidas para baixar os juros cobrados no cartão de crédito, que estão próximos de 500% ao ano, mas explicou que as mudanças não devem se retringir ao que já foi divulgado.
“O cartão tem uma medida [já anunciada] e tem uma discussão que vai continuar depois. A gente tem de repensar um pouco o nosso modelo. O modelo funciona, mas a gente acha que pode melhorar ao longo do tempo”, disse o presidente do BC a jornalistas.
“A norma vai sair. E ,depois da norma, a gente vai repensar junto com o sistema. Vamos repensar como a gente pode melhorar ele ao longo do tempo”, complementou ele.
Parcelamento sem juros
Questionado se o governo poderia mudar as regras para impedir o parcelamento de compras no cartão de crédito sem a incidência de juros, ele não afastou a ideia.
“A gente não adianta medidas. A gente vai pensar. Não quero adiantar nada nesse sentido”, afirmou o presidente do Banco Central.
De acordo com ele, o sistema, no formato atual, “funciona” e “cresce”, mas também há “muitos subsídios cruzados”.
“Uma parte [dos consumidores] paga pela outra, porque a gente está acostumado a ser assim. Então a gente vai repensar ele de uma forma sustentável. Não adianta mudar um pedaço sem mudar o outro”, acrescentou.
Modalidade atípica
Segundo o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, a possibilidade de parcelar compras no cartão de crédito sem a incidência de juros é uma coisa “bem particular” do Brasil. O cliente, neste caso, paga juros se parcelar o pagamento da fatura do cartão.
“Não é comum em outros países chegar em uma loja parcelar em cinco vezes sem juros. É bastante incomum. Esse tipo de modalidade, que eu saiba, não existe nos Estados Unidos e na Europa”, afirmou ele ao G1.
De acordo com o economista, o Banco Central, em conjunto com o sistema financeiro, vai discutir “várias possibilidades” para tornar o mercado de crédito mais eficiente e, com isso, diminuir as taxas do crédito rotativo.
“Situações atípicas [como as compras parceladas sem juros no cartão] podem ser objeto de mudanças”, afirmou.
O que já foi anunciado
No fim do ano passado, o governo anunciou que pretende adotar, no primeiro trimestre de 2017, medidas para baixar os juros do cartão de crédito.
O presidente Michel Temer informou na ocasião que a ideia é limitar para até 30 dias o prazo para o pagamento do rotativo, que é quando é feito o pagamento do valor mínimo da fatura, com o parcelamento do restante.
Hoje, esse prazo é mais longo, segundo o Ministério da Fazenda. Com isso, o governo espera que os juros do parcelamento caiam pela metade já nos primeiros meses de 2017. Em novembro, os juros do cartão atingiram 482,1% ao ano.
Em dezembro, a associação das empresas de cartões (Abecs) avaliou que “a fixação do prazo de permanência do cliente no crédito rotativo para o máximo de 30 dias, aliada à disponibilização automática de alternativas de financiamento por meio do cartão, como o parcelamento da fatura” permitirá maior controle do consumidor e menor comprometimento da sua renda mensal, proporcionando, assim, uma “potencial redução da inadimplência.”
Seminário sobre custo do crédito
Em Davos, na Suíça, onde participa da reunião do Fórum Econômico Mundial, o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, também declarou que vai realizar um seminário para discutir o chamado “spread bancário”, que é a diferença entre o que os bancos pagam pelos recursos e quanto cobram de seus clientes. Segundo ele, o debate não ficará limitado aos cartões de crédito.
O “spread” é composto pelo lucro dos bancos, pela taxa de inadimplência, por custos administrativos, pelos depósitos compulsórios (que são mantidos no Banco Central) e pelos tributos cobrados pelo governo federal, entre outros. O spread bancário é considerado alto no Brasil na comparação com outros países. Fonte G1