Brasil chega a 200 mil mortes por Covid-19 sem vacina e sob risco de repetir piores momentos da pandemia
Em um momento crítico da pandemia e ainda sem vacinação, o Brasil passou a marca de 200 mil mortes por Covid-19 nesta quinta-feira (7), segundo levantamento do consórcio de veículos de imprensa feito a partir de dados das secretarias estaduais de Saúde e divulgado em um boletim extra. O total de óbitos registrados é de 200.011, com 7.921.803 casos confirmados.
Mais de 40 países já começaram a aplicar vacinas contra a Covid-19. O Reino Unido foi o primeiro a usar a vacina da Pfizer/BioNTech, seguido de Estados Unidos, Canadá, Arábia Saudita de Israel, além dos 27 países da União Europeia.
Os EUA também começaram a aplicar a vacina da Moderna. Outros países deram início a campanhas com a Sputnik V e as vacinas da Sinovac e da Sinopharm. Em todo o mundo, mais de 15 milhões de doses já foram aplicadas.
Entre os países com maior percentual da população vacinada, estão Israel, com 15%, e Emirados Árabes Unidos, com quase 8%.
CoronaVac, vacina que está em desenvolvimento pelo Instituto Butantan — Foto: JN
No Brasil, o Instituto Butantan pediu à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorização para uso emergencial da CoronaVac, a vacina produzida em parceria com o laboratório Sinovac. Mesmo sem ter recebido o aval, o governo de São Paulo prometeu começar a imunização a partir de 25 de janeiro. A taxa de eficácia da vacina foi divulgada nesta quinta: 78%, sendo 100% para casos moderados e graves.
O Ministério da Saúde anunciou nesta quinta contrato para compra de 100 milhões de doses de vacina do Instituto Butantan. Toda a produção do instituto será incorporada ao Plano Nacional de Imunização, para distribuição em todo o país.
Apesar da pressão de prefeitos e governadores, o Ministério da Saúde ainda não apresentou cronograma para vacinação no Brasil.
“Cobramos uma data e não nos foi fornecida. Quando chegam os insumos? Quando começa a vacinação? O secretário disse que iria levar nossa demanda ao ministro Pazuello”, disse governador do Piauí, Wellington Dias, após reunião com o secretário de vigilância do Ministério da Saúde, Arnaldo Medeiros, nesta terça-feira (5).
Em janeiro, devem chegar ao Brasil 2 milhões de doses da AstraZeneca/Oxford produzidas na Índia. Esse imunizante foi testado em voluntários brasileiros e deve ser produzido pela Fiocruz. A importação, por R$ 59,4 milhões, foi autorizada pela Anvisa, mas ainda não há liberação para uso pela população. Quando começar a imunização, os primeiros a tomar as doses devem ser os profissionais de saúde.
Na semana passada, fracassou uma licitação do Ministério da Saúde para compra de seringas e agulhas para vacinação. O pregão previa a aquisição de 331 milhões de seringas, mas as empresas que participaram garantiram entrega de apenas 7,9 milhões. Elas reclamaram que o edital encomendava seringas e agulhas como um só produto e que os preços estavam abaixo dos praticados.
Nesta quarta, o presidente Jair Bolsonaro acusou fabricantes de terem aumentado os preços, motivo pelo qual o governo federal suspendeu a compra do material. O epidemiologista Paulo Lotufo, em entrevista à GloboNews na manhã desta quarta, reforçou que, se a compra tivesse sido feita com antecedência, o governo pagaria mais barato.
NOVA VARIANTE DO VÍRUS
Em meio ao aumento de casos e mortes, nesta semana o Instituto Adolfo Lutz, referência em São Paulo, confirmou dois casos de uma nova variante do coronavírus no Brasil. Ela surgiu no Reino Unido, onde já representa mais de 50% dos novos casos diagnosticados, de acordo com a OMS.
Por enquanto, não há comprovação de que o vírus esteja mais forte ou cause uma versão mais grave da Covid-19. Mas um estudo médico divulgado no final de dezembro aponta que a nova versão é entre 50% a 74% mais contagiosa.
Segundo a OMS, ainda não há informação suficiente para determinar se a nova variante afetará a eficácia das vacinas – a entidade afirma que as pesquisas estão em andamento.
FAMÍLIAS AFETADAS: ‘A GENTE NÃO SE CONFORMA’
George Luis de Camargo, de 39 anos, uma das vítimas da Covid-19, era casado e tinha dois filhos: um adolescente de 15 anos e uma bebê de quatro meses. Trabalhava como socorrista no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Sorocaba (SP).
“Estamos totalmente despedaçados”, disse Kátia Camargo, irmã de George. Ela também perdeu a mãe para mesma doença.
A mãe, Dosilia Rosa de Camargo, havia morrido no início de dezembro. “Logo depois que minha mãe faleceu, meus irmãos começaram a ter sintomas. O André foi entubado no Hospital Samaritano no dia 19 de dezembro. O George foi internado no Hospital Evangélico, mas não resistiu”, conta Kátia.
André recebeu alta no mesmo dia em que o irmão morreu.
Ex-policial, pai de quatro filhos e avô de quatro netos, José Barros perdeu tinha 70 anos quando morreu de Covid-19 na madrugada do dia 2 de janeiro, em Macapá. Presidente do Ypiranga Clube, seu time do coração e atual campeão amapaense de futebol, José vivia a expectativa de ver a equipe disputar a Copa do Brasil depois de dois anos.
“Dos meus 39 anos, vivi todos colados no meu pai. Para onde ele ia, tudo a gente ia fazer juntos. Éramos unha e carne. Falo sobre ele naturalmente, porque a ficha ainda não caiu. Acho que ele ainda está no hospital, internado e que ele vai aparecer em casa”, contou o filho dele, Junior Barros.
A última lembrança ao lado do pai, ficou eternizada numa foto marcante, mas dolorida para Júnior. Na imagem, registrada antes do enterro, o filho aparece ao lado do caixão e vestindo uma camisa do Ypiranga com o nome de Barros às costas.
Liduína Lessa, viúva do compositor Evaldo Gouveia, lamenta que algumas pessoas continuam fazendo aglomeração: ‘Irresponsabilidade’ — Foto: Arquivo pessoal
A cantora e viúva do compositor Evaldo Gouveia, Liduína Lessa, também percebe os flagrantes de aglomeração como um desrespeito às vidas tomadas pela doença. Seu marido, referência da música popular brasileira, morreu com a Covid-19, aos 91 anos, em 29 de maio, em Fortaleza.
“É muita irresponsabilidade. Acho muita falta de consciência do povo que se aglomera. É uma tristeza muito grande ver que meu esposo teve esse problema, porque muita gente pensa que é brincadeira, não se cuida.”
Evaldo Gouveia se despediu deixando a mulher e dois filhos, Marcio e Marcelo. “O Brasil teve uma perda muito grande na cultura, até hoje a gente não se conforma, não”, diz a viúva. Fonte G1