Carta aberta a respeito do combate à pandemia e a saúde em Assis

Atenção! Este é um relato pessoal da experiência que tive em relação ao combate à pandemia em Assis, seus desdobramentos, atendimentos e burocracias.

A pandemia mundial da Covid-19 tem sido um desafio às autoridades de saúde que se encontram atualmente entre a cruz e a espada: de um lado a contenção e tratamento de uma doença nova cujas informações e protocolos são atualizados constantemente (diria até mesmo em tempo real) pelos cientistas que somam esforços pelo mundo todo; de outro lado lidar com os riscos desta doença aliado aos medos e às inseguranças não só da população, mas também dos seus profissionais que estão na linha de frente.

Eu tenho acompanhado a evolução do combate à pandemia na minha cidade, no Brasil e no mundo por meio de reportagens na internet como é de costume para um jornalista (pelo menos eu sou assim). Tiveram fases em que me distanciei das informações para minha própria saúde mental, outras, porém, me vi obrigada a pesquisar sobre o assunto não só para escrever e informar as pessoas através do meu trabalho, como também para minha própria segurança e da minha família.

Tomei muito cuidado nesta quarentena e tive o privilégio de poder passa-la relativamente “tranquila” (se assim posso dizer) já que trabalho em casa há algum tempo, podendo ficar com filho mesmo ele não estando na escola. No entanto, meu marido não teve a mesma “sorte”.

Funcionário estadual da segurança pública, ele teve que encarar com coragem e na marra
o dia-a-dia de trabalho na capital paulista, se expondo ao vírus que tem me tirado o sono desde março do ano passado.

Pois bem, mesmo tendo feito quarentena, terapia e seguido os demais protocolos de segurança ao sair de casa, me vi ante a expectativa de estar contaminada. Assim, procurei os serviços de saúde de Assis e qual foi a minha surpresa diante da burocracia que encontrei para realizar o teste para a Covid- 19, tanto na rede pública municipal quanto na rede particular de saúde.

Relatarei aqui a minha trajetória até a coleta do exame que aconteceu na manhã do dia 06 de janeiro. Primeiro, liguei na Secretaria Municipal de Saúde a qual fui informada que os testes para Covid-19 somente são realizados se o indivíduo apresentar sintomas da doença, sendo colhido o exame entre o 3º e 4º dia. Já os assintomáticos (pessoas que não têm sintomas), mesmo se se tratando de contatantes próximos (como é o caso do meu marido), que são pessoas que tiveram contato direto com suspeitos de Covid-19 e/ou casos positivos da doença, não é costume realizar os testes, nem para controle e nem para contenção da transmissão.

Em uma reportagem recente (dia 05) sobre a avaliação da cobertura dos testes em massa no Brasil, no site da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), diz que nosso país tem pecado na realização de testes na população, sendo feito em quantidade muito baixa e sem nenhum tipo de planejamento. Assim, estamos monitorando apenas incidência de casos confirmados e óbitos, o que não vem acontecendo em outros países que estão contendo melhor a
pandemia como é o caso da Coreia do Sul, China e Nova Zelândia.

“A positividade dos testes RT-PCR funciona como um indicador de tendências da epidemia. Se as secretarias de saúde dispusessem dessa informação de forma mais dinâmica, conseguiriam planejar e manejar melhor os recursos físicos e humanos de combate à epidemia, evitando ou diminuindo o número de casos graves e óbitos, além de interromper a cadeia de transmissão, usando a estratégia de rastreio e isolamento de contatos positivados”, explica Diego Xavier, um dos autores do estudo Cobertura e positividade dos testes para Sars-CoV-2. Evolução, tendências recentes e recomendações, realizado por pesquisadores do Instituto de Comunicação e Informação Científica em Saúde (Icict/Fiocruz).

O passo seguinte, de acordo com a orientação que recebi na secretaria, era entrar em contato com a Unidade Básica de Saúde a qual pertenço. Liguei e fui informada que para realizar o teste eu teria que, primeiramente, passar pelo clínico geral para que ele avaliasse o meu quadro e a necessidade de fazer o exame. No dia que liguei já não tinha mais consulta, mas felizmente consegui para o dia seguinte depois de conversar com a coordenadora da unidade, tanto para mim quanto para o meu marido. Mas é preciso ser persistente mesmo, senão você não consegue!

Enquanto isso, eu também pesquisei a possibilidade de realizar o teste para a Covid-19 pela rede particular de saúde, já que também sou conveniada a um plano de saúde na cidade. O protocolo para a realização do exame me pareceu o mesmo: daria entrada no pronto-atendimento, passaria por avaliação médica e coleta do material para análise. Entretanto, me esbarrei mais uma vez na burocracia para saber o valor destes testes, tendo que realizar vários telefonemas (unidade de Assis e 0800), obtendo essa informação somente dois dias depois por e-mail.

Outra dificuldade que encontrei neste processo foi no dia da consulta e coleta do teste, já que pacientes suspeitos não podem permanecer no mesmo recinto que pacientes normais, conforme protocolo de segurança da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), documento que tive acesso no site da Prefeitura Municipal de Assis, Anexo I, do Plano Municipal de Contingência COVID-19. No protocolo diz o seguinte quanto à assistência prestada na chegada, triagem, espera e atendimento:

“Garantir que pacientes com sintomas suspeitos de infecção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) ou outra infecção respiratória não fiquem esperando atendimento entre os outros pacientes. Identifique um espaço separado e bem ventilado que permita que os pacientes sintomáticos em espera fiquem afastados e com fácil acesso a suprimentos de higiene respiratória e higiene das mãos. Estes pacientes devem permanecer nessa área separada até a consulta ou encaminhamento para o hospital (caso seja necessária a remoção do paciente).”

Simplesmente não existia uma sala de espera assim na UBS que fui e nós, cerca de 10 pacientes, tivemos de ficar em pé, numa área reservada debaixo do sol com apenas duas cadeiras, ou na calçada procurando abrigo debaixo de árvores.

Uma última informação muito importante para quem suspeita da Covid-19: não vá à UPA. Lá você até pode encontrar alívio dos sintomas com medicação, mas eles não realizam testes para confirmação de diagnóstico (exceto em casos graves de encaminhamento para internação). Faça como eu, procure o posto de saúde mais próximo de casa e se informe sobre os procedimentos e tenha paciência.

Enfim, exames realizados (meu marido e eu), aguardamos em isolamento os resultados. Espero que com esse meu relato, as autoridades de saúde se empenhem de forma mais efetiva e humanitária no atendimento da população nesta pandemia. Eu gostaria muito de não mais me deparar com notícias de descaso e reclamações acerca da saúde pública em Assis. Seria um sonho?

O meu apelo também é direcionado aos nossos governantes:

– Ao executivo, na figura do Prefeito: invista mais na compra e realização de testes em massa nos assisenses, só assim teremos uma perspectiva de controle da doença no nosso município. Além disso, deixe a consulta acerca da transparência dos recursos usados para o combate à pandemia mais acessível e clara para entendermos onde e como esse dinheiro está sendo empregado.

– Aos vereadores, aos novos e principalmente aos antigos: fiscalizem de perto essas ações, ouçam as demandas da população e lutem por melhorias na saúde pública da cidade por meio de políticas públicas sérias e efetivas.

Participar de eventos e dizer palavras bonitas na tribuna não resolvem os nossos problemas. Afinal, foi para isso que vocês foram eleitos pela população.

E, finalmente, minha fala é dirigida para você que está lendo este texto e que chegou até aqui. Independentemente de concordar (ou não) com as minhas palavras, você também precisa fazer a sua parte. Será que é necessário mesmo ir ao barzinho, ou ao restaurante, encontrar os amigos para um churrasco, ou a família para uma festa de aniversário? O que você está fazendo para minimizar essa pandemia? Todos nós já estamos cansados, no limite mesmo, da quarentena, do medo, da incerteza, da ansiedade, do tédio (inclua aqui o sentimento que quiser). Mas, isso não te dá o direito de colocar a coletividade em risco. Portanto, tenha mais empatia, seja menos egoísta e respeite todas as recomendações que nos foram passadas e que estamos “carecas” de saber. Pode não custar nada para você, mas pode custar a vida de outra pessoa, pois não deixe a sua ficha cair somente quando um amigo ou um parente próximo estiver lutando para respirar, entubado na UTI .

Referências:

– https://infectologia.org.br/wp-content/uploads/2020/12/atualizacoes-e-
recomendacoes-covid-19.pdf
– https://portal.fiocruz.br/noticia/monitoracovid-19-avalia-cobertura-dos-testes-
em-massa-no-brasil
– https://saude.assis.sp.gov.br/comunicado/175/anexos-plano-municipal-de-
contingencia

Paula Ternoval – jornalista MTB 84664/SP