Casal de idosos que vende caldo de cana viraliza e acumula milhões de seguidores
Há quem ainda acredite que a “Terceira Idade” é tempo de tédio e monotonia. Neste 1º de outubro, data que marca o Dia Internacional dos Direitos das Pessoas Idosas, um casal octogenário de Bauru, no interior de SP, faz questão de provar o contrário. É possível ocupar espaços considerados para jovens e se divertir muito nesta fase da vida.
A rotina do casal Waldemar de Almeida, de 89 anos, e Joanna Quinhoneiro de Almeida, de 88, é acompanhada de perto todos os dias por milhões de “netinhos”. Os “Senhores Bacanas”, como são conhecidos na internet, acumulam mais de 2,5 milhões de seguidores no Tik Tok e Instagram.
Casal de idosos viraliza nas redes sociais
mostrando rotina — Foto: Arquivo Pessoal
Casados há 68 anos, com seis filhos e 10 netos, os dois compartilham com os “netinhos virtuais” momentos fofos, conselhos profissionais e amorosos, aventuras por lojas e durante o trabalho, segredos para cuidar das plantas do jardim, “looks” e até as “receitas de vó”.
“Nossos ‘netinhos’ amam saber sobre nossa rotina, sobre o casamento, histórias da adolescência, receitinhas, truques para cuidar das flores”, conta Joanna, ou apenas, ‘Senhora Bacana’.
Casal octogenário de Bauru é conhecido como
Senhores Bacanas — Foto: Arquivo Pessoal
Sucesso repentino
O primeiro a viralizar nas redes foi Seu Waldemar, ou apenas “Senhor Bacana”. Antes do sucesso na internet, ele já era reconhecido nas ruas de Bauru por vender há mais de 30 anos caldo de cana e os salgadinhos preparados pela esposa. No entanto, o trabalho sofreu um duro baque com a pandemia de Covid-19.
“Todos os dias às 6h da manhã ele ia para o centro da cidade, com sua perua, estacionava e começava o seu dia de trabalho. Com a pandemia, ele se viu impossibilitado de trabalhar, todos estavam com medo de deixar ele sair de casa por ser considerado grupo de risco”, conta a neta Karoline Almeida.
Senhor Bacana sai com a kombi pelas ruas de Bauru
(SP) e vende caldo de cana — Foto: Arquivo Pessoal
Abalado, os netos contam que o “garapeiro mais famoso do Brasil” queria apenas “comer e dormir” e não via muita motivação no dia a dia. Neste momento, Kelvin de Almeida, um dos 10 netos do casal, resolveu não só reformar a kombi do avô, para tirá-lo do “ócio”, mas também adicioná-lo nas redes sociais e implantar um novo modelo de negócio, com entrega da bebida por delivery. O sucesso foi instantâneo.
“No primeiro mês de vendas, o Senhor Bacana faturou mais de 1.200%. Com toda a repercussão, eles começaram a ganhar seguidores e com isso a marca foi crescendo”, conta Kelvin.
Kombi é xodó do Senhor Bacana,
em Bauru — Foto: Arquivo Pessoal
Novo hobby
Com a demanda, veio também a necessidade de se comunicar com o público. O primeiro vídeo a viralizar foi o do Seu Waldemar mostrando sua rotina no seu retorno ao trabalho depois da quarentena de Covid-19. Esse vídeo já possui mais de 24 milhões de visualizações.
Nele, o Senhor Bacana conta que fica a tarde inteira dentro da sua perua verde e amarela e confessa que gosta de trabalhar, e sente que esse é seu momento de terapia. Após dois anos vendendo apenas pelas redes, ele relata estar feliz por ter contato novamente com os fregueses. E claro, isso tudo com o auxílio da esposa e dos netos.
“A vovó Bacana sempre ajudou organizando toda a bancada de produção dos caldos de cana. Nós, como netos, decidimos começar a postar o dia a dia deles de forma descontraída, como se eles mesmos estivessem contando para o público”, revela Karol.
O nome “bacana”, inclusive, tem origem em uma brincadeira entre netos e avós. Ele representaria uma pessoa legal e que almeja ser “endinheirada”. Parte da palavra, “cana”, também representa o produto que é vendido por eles.
Karoline e Kelvin são os netos que ajudam os avós
na produção de conteúdo — Foto: Arquivo Pessoal
Com o sucesso nas redes sociais, o casal chegou a participar do Domingão do Huck, da TV Globo, junto com o neto que ajudou a alavancar o negócio da família. Depois da aparição na TV, além do aumento de vendas e patrocinadores, o alcance nas redes sociais cresceu e o assédio do público também. Mas nada que assuste essa dupla, muito pelo contrário.
“Nossa vida ficou mais divertida. Agora, eu vou no mercado, no médico, e todo mundo quer tirar selfie comigo. Nossa vida é divertida por causa da internet. Isso nos faz ter mais ânimo, ainda mais sendo idoso”, conta o Senhor Bacana.
Seguindo a tendência do mundo da internet, os dois buscam estar atualizados. Desde então, lançaram novos produtos, como um livro de receitas, e passaram a realizar o quadro “arrume-se comigo” para mostrar os “looks” da Senhora Bacana. O casal garante que se diverte muito com o novo hobby e diz não se incomodar com a demanda de trabalho.
“Todas as semanas temos gravações de novos conteúdos para as redes sociais. A rotina é bem leve e interativa. Eu adoro cozinhar, cuidar da casa, e o Senhor Bacana ama trabalhar, então todos os dias está no ponto vendendo caldo de cana”, revela a Senhora Bacana.
Casal de idosos está junto há 68 anos,
em Bauru (SP) — Foto: Arquivo Pessoal
O casal espera que a atuação deles seja uma motivação para que mais idosos possam criar coragem para compartilhar os seus mundos com os mais jovens, além de se divertirem nas redes sociais.
“Quem não se atualiza, fica para trás! É por isso que amamos quando vemos tantos idosos na internet, é bom ensinar para pessoas mais novas os valores que temos pensando em tudo que já vivemos”, diz Senhor Bacana.
Casal que vende caldo de cana tem 6 filhos e
10 netos, em Bauru — Foto: Arquivo Pessoal
Dia do Idoso
O Dia Internacional dos Direitos das Pessoas Idosas é comemorado neste domingo (1º).
A data foi criada por iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1991, para tratar dos direitos dos idosos e criar espaços de debate sobre a importância de preservar o respeito e a dignidade na terceira idade.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a parcela idosa da população brasileira, com 60 anos ou mais, subiu para 15,1% em 2022. Dez anos antes, em 2012, o percentual era de 11,3%. Os dados são da divisão de Características Gerais dos Domicílios e dos Moradores 2022 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua.
Chegar à terceira idade com saúde e disposição é um privilégio, mas é comum que quem tenha mais de 50 anos já comece a sentir discriminação por estar envelhecendo.
Essa discriminação passou a ser chamada de etarismo —mas também é chamada de idadismo ou ageísmo— e é bastante comum: de acordo com um relatório elaborado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) uma em cada duas pessoas no mundo já apresentou ações discriminatórias que pioram a saúde física e mental dos idosos.
No começo do ano, os ataques preconceituosos à estudante de 45 anos Patrícia Linhares, por três colegas de sala mais jovens em uma universidade particular de Bauru, geraram revolta pela discriminação contra pessoas mais velhas – um comportamento que se encaixa na definição do termo “etarismo”.
Estudantes de várias partes do país publicaram relatos pessoais em alusão ao caso e reacenderam o debate sobre esse tipo de preconceito contra pessoas mais velhas, associadas geralmente a estereótipos de atraso, em especial no ambiente digital.
Fonte: G1