Caso Mariana: suspeito de matar universitária sobreviveu a tentativa de homicídio em 2016
O homem preso suspeito de matar a universitária Mariana Bazza, de Bariri (SP), que foi achada morta após receber ajuda de um desconhecido para trocar o pneu do carro, sobreviveu a disparos de arma de fogo nas costas em uma briga na cidade, em 2016.
De acordo com o boletim de ocorrência de fevereiro daquele ano, Rodrigo Pereira Alves, de 37 anos, atualmente preso preventivamente como principal suspeito pela morte da jovem, chegou a ficar internado em estado grave e resistiu aos ferimentos.
O registro aponta que outro homem pegou uma arma da mão de Rodrigo durante uma confusão e atirou contra ele, jogou o objeto no chão e fugiu. Em seguida, o atirador retornou ao local e também ateou fogo em um veículo.
Ferido, o paciente foi internado em uma unidade hospitalar de Bauru. Assim que teve alta, ele foi preso por um mandado de prisão por roubo.
Ainda segundo o registro, ele foi condenado a 7 anos de prisão, mas essa sentença foi reformada pelo TJ em 2018, que reduziu a pena para 6 anos. (Veja a ficha criminal completa abaixo.)
A alegação do TJ é que a “ficha de antecedentes não é suficiente para aferir a personalidade do réu”. Dessa forma, por ter cumprido 3/5 da pena, que é regra para crimes hediondos, ele foi colocado em liberdade este ano.
‘TERÇA-FEIRA PESADA’
Mariana, de 19 anos, sumiu após aceitar a ajuda de Rodrigo para trocar um pneu. Cerca de 24 horas depois, ela foi achada morta na zona rural de Ibitinga.
O G1 teve acesso à conversa entre Mariana e o namorado. Nas mensagens pelo WhatsApp, é possível ver que a universitária avisa sobre o pneu furado, os procedimentos que estavam sendo feitos e que recebia ajuda do suspeito.
Mariana e o namorado mantiveram contato até 8h36. Uma das últimas mensagens da jovem foi “terça-feira pesada”.
Print mostra últimas mensagens de Mariana Bazza enviadas para o namorado — Foto: Arquivo Pessoal
Por volta das 9h, o namorado questionou se Mariana tinha trocado o pneu, mas não tem mais retorno da jovem. Depois de saber da morte, Jefferson publicou uma homenagem à namorada em sua rede social: “Tudo o que sinto se resume em saudade”.
Novas imagens obtidas pelo Fantástico e G1 mostram a insistência do suspeito em ajudar a universitária.
No vídeo, é possível ver o momento em que Mariana saiu com o carro perto da academia junto com uma amiga, Heloísa Passarello, que estava em uma moto. Na sequência, ela parou o veículo e o suspeito aparece atravessando a rua para abordar as jovens (veja abaixo).
Segundo a amiga, foi Rodrigo quem avisou que o pneu estava murcho. O homem estava com um celular quando ofereceu ajuda. Em seguida, após Mariana recusar, ele atravessou e voltou para a chácara, que fica em frente à academia, onde ele trabalhava como pintor.
Jovem relata última conversa com amiga morta após aceitar ajuda para trocar pneu vazio
Mariana e a amiga ficaram por alguns minutos em frente à academia. Depois Heloísa saiu com a moto. Neste momento, Rodrigo voltou a atravessar a rua e abordou novamente a universitária.
Vídeo mostra que suspeito levou menos de duas horas entre a abordagem e a fuga
Heloísa afirmou que antes de sair pediu para que Mariana fosse embora, mas a amiga preferiu tentar ligar para o pai ou um primo. Fonte G1
Imagem mostra suspeito abordando Mariana Bazza e amiga dela na frente de academia — Foto: Reprodução/TV Globo
Heloisa lembra: “Eu falei: ‘Vai embora, dá tempo de você chegar em casa’. E ele pega e fala assim: ‘Não vai dar tempo. Se for embora com o pneu desse jeito, vai estragar o pneu’. Falei então que eu ia embora porque senão eu ia me atrasar. Nisso ele já tinha atravessado a avenida, falado que se precisasse era só chamar. E eu fui embora.”
Sozinha, Mariana decidiu ir até a chácara com o carro para trocar o pneu. Mariana fez uma foto de Rodrigo enquanto ele trocava o pneu e enviou para família.
Mariana enviou a foto do suspeito trocando o pneu do carro em Bariri — Foto: TV TEM / Reprodução
Ficha criminal
Rodrigo Pereira Alves, de 37 anos, suspeito de matar a jovem Mariana Bazza — Foto: Reprodução/TV TEM
Rodrigo Alves, o homem que ofereceu ajuda, já tinha praticado vários crimes e as vítimas eram sempre mulheres.
A primeira condenação por crime sexual aconteceu em 2001. Armado com uma faca, ele atacou uma estudante de 18 anos, que foi violentada, na zona leste de São Paulo.
Por esse crime, Rodrigo passou 13 anos na cadeia. Depois, quando ganhou a liberdade, voltou a roubar e a estuprar.
Em janeiro de 2015, em Itápolis (SP), uma mulher disse que Rodrigo invadiu a casa dela e mandou que ela ficasse nua. Segundo a vítima, Rodrigo ficava se encostando nela. Depois, pegou um computador da casa e fugiu. Nesse caso, ele foi absolvido por falta de provas.
Muro de chácara onde universitária entrou para trocar pneu amanhece com flores
Em outubro daquele mesmo ano houve uma acusação parecida, desta vez na cidade de Bariri. Outra mulher disse à polícia que Rodrigo se passou por instalador de cerca elétrica para entrar na casa dela.
Ele fez ameaças com uma faca e também mandou que a vítima ficasse nua. Rodrigo foi acusado de roubar R$ 740 da vítima, além de uma câmera fotográfica, um celular e um relógio.
Ele teve a prisão decretada, ficou foragido por um tempo mas acabou indo para a cadeia em fevereiro de 2016. Rodrigo foi condenado nesse caso a 6 anos e 5 meses de prisão por roubo.
Há cerca de um mês, ele ganhou a liberdade condicional e conseguiu o bico de pintor na chácara em frente à academia.
Suspeito de matar universitária Mariana Bazza, de Bariri, ajudou a jovem a trocar o pneu — Foto: TV TEM/Arquivo Pessoal
CRIME PREMEDITADO?
A polícia investiga se Rodrigo premeditou o crime e se teria murchado o pneu do carro da jovem para forçar uma aproximação.
Um vídeo de câmera de segurança mostra Rodrigo encostado no carro da Mariana, que está estacionado próximo à academia. As imagens foram gravadas às 7h51, quando a jovem ainda estava no local.
O vídeo mostra que Rodrigo saiu da chácara, atravessou a avenida e encostou no carro de Mariana, um Gol preto. Ele ficou ali por alguns minutos.
Novas imagens mostram suspeito de matar universitária encostado no carro da vítima
Em entrevista exclusiva à TV TEM, um vizinho da academia contou que viu o suspeito abaixado e mexendo no carro de Mariana.
“Eu vi que ele estava agachado no pneu do carro. Talvez murchando, sei lá, fazendo alguma coisa. Quando ele me viu até se assustou e levantou. Ele foi até o canteiro e ficou mexendo nas árvores que estão ali, meio que disfarçando a situação. Eu estava saindo para trabalhar, então fui embora”, relatou o homem, que preferiu não se identificar.
Morador diz que viu suspeito de matar universitária mexendo no carro da vítima
“Nós estamos em diligências para conseguir novas imagens e também testemunhas que possa colaborar e tirarmos essa dúvida se ele premeditou ou foi uma mera ocasionalidade”, afirma o delegado Durval Izar Neto, responsável pelas investigações.
Mapa mostra locais onde Mariana Bazza foi abordada, em Bariri, e encontrada morta, em Ibitinga — Foto: Arte/G1
Ainda segundo o delegado, inicialmente o inquérito foi aberto como latrocínio consumado, mas são apurados também estupro, homicídio e sequestro.
Rodrigo teve a prisão preventiva decretada em audiência de custódia realizada no dia 25 de setembro. Ele negou que tenha matado Mariana e apontou a existência de outra pessoa como responsável pelo crime. No entanto, a polícia acha pouco provável que essa hipótese seja verdadeira.
“Ele fala de uma terceira pessoa que estaria com o veículo, porém imagens mostram que ele saiu com o veículo. E não há informações dessa terceira pessoa, não há imagens, não há testemunhas. Não vamos descartar, mas é pouco provável que exista outra pessoa envolvida.”
Mariana Bazza, de 19 anos, foi encontrada morta após desaparecer em Bariri — Foto: Facebook/Reprodução
O delegado aguarda laudos periciais do corpo da vítima e da causa da morte, além de informações sobre os locais por onde o suspeito passou, para concluir o inquérito e encaminhar à Justiça.
“Os exames vão apontar a hora da morte para podermos saber onde ela foi morta, porque existem duas possibilidades: ou ele matou a Mariana na chácara ou no local onde o corpo foi encontrado”, afirma Izar Neto.
Mariana foi achada morta em área de canavial em Cambaratiba, distrito de Ibitinga, cidade próxima a Bariri. Ela estava de bruços, com as mãos amarradas para trás e um tecido no pescoço.
A jovem foi enterrada no início da tarde desta do dia 26 de setembro, sob forte comoção, no Cemitério Municipal de Bariri. Fonte G1
Mariana Bazza, de 19 anos, foi enterrada em Bariri — Foto: TV TEM/Reprodução