Cidades da região registram aumento nas denúncias de estupro

 

Cidades do Centro-Oeste Paulista registraram aumento no número de estupros registrados entre os meses de janeiro e junho deste ano, em comparação ao mesmo período do ano passado, com base em dados da Secretaria de Segurança Pública.

Em Bauru, o aumento foi de 69%. No ano passado, 51 casos de estupro foram registrados nos seis primeiros meses e, neste ano, o número saltou para 74. O índice também aumentou em Marília, onde desde janeiro a polícia contabilizou 34 casos, enquanto no ano passado foram 24 registros no mesmo período, 42% de crescimento.

Já em Assis, só de janeiro a junho deste ano foram registrados 28 casos de estupro contra adultos e crianças. Um aumento de 154% em relação ao ano passado, quando foram registrados 11 casos.

Em Paraguaçu Paulista, teve uma denúncia no primeiro semestre do ano passado, enquanto este ano já foram 23. Na cidade de Vera Cruz não foi registrado nenhum caso no ano passado, mas este ano já foram 8 denúncias.

Em tupã, os casos de estupro quase dobraram. Em 2016 foram 4, este ano já foram sete. Ourinhos também registrou um aumento de 23%, passando de 17 casos no ano passado contra 21 desde janeiro deste ano

Voluntários ajudam a amparar vítimas de abuso sexualVoluntários ajudam a amparar vítimas de abuso sexual

Perfil do estuprador

Além do aumento dos casos, o perfil dos suspeitos tem sido de pessoas cada vez mais pessoas próximas às vítimas. O estuprador hoje não está escondido para uma emboscada em uma rua escura, pelo contrário, muitas vezes ele está dentro da própria casa da vítima.

“Nós não temos só aquele estuprador que pega mulher no terreno baldio, no ponto de ônibus. Muita vezes, no caso das crianças, é um padrasto, temos caso de próprio pai, avô, tio, amigo da família, um religioso que frequenta a família, um primo mais velho. E da mulher também, é um ex-companheiro, um ex-namorado que não se contentou com o término do relacionamento”, ressalta a advogada especialista em direitos da mulher, Mariela Cardoso.

Foi justamente o que aconteceu com uma menina de apenas 12 anos que teria sido abusado pelo padrasto. “Ela estava deitada no quarto, chegou da escola com dor de cabeça e mãe tinha ido fazer uma faxina. Ele entrou no quarto e mandou ela tirar a roupa. Ela se negou e ele tirou a força”, conta a tia que prefere não ser identificada.

Na maioria dos casos de estupro, o agressor está dentro de casa (Foto: Reprodução/ TV TEM )

Na maioria dos casos de estupro, o agressor está dentro de casa (Foto: Reprodução/ TV TEM)

A violência sexual vai desde uma ofensa até a prática do sexo sem o consentimento da outra pessoa envolvida. E como na maioria das vezes o agressor é alguém conhecido, próximo da família muitas vítimas deixam de denunciar.

“Ela não denuncia porque primeiro a família vai saber que ela está sofrendo esse tipo de violência e, muitas vezes, infelizmente fica contra essa mulher, por ela ter escolhido esse companheiro, por ter sido escolha dela morar com ele. Muitas são dependentes financeiramente desse companheiro, são muitos motivos. Para a mulher essa denúncia, estar comunicando essa violência, para ela é um atestado de incompetência. Porque ela acredita que primeiro ela escolheu errado o companheiro, que foi uma escolha dela, segundo porque ela não está sendo autossuficiente para poder gerir essa situação por conta própria e na maioria das vezes ela não consegue mesmo sair desse círculo vicioso que é a violência doméstica”, explica a advogada.

Só que o silêncio que protegia o agressor já não tem sido mais uma opção das vítimas. Elas querem Justiça, pelo menos é o que o aumento no número de denúncias mostra. E a polícia reforça a importância de fazer essa denúncia, procurar ajuda.

“Um agressor se ele ficar impune pode ser que ele reincida, pode ser que procure outras vítimas, faça novas vítimas, então é muito importante denunciar para que a polícia possa já tomar as medidas no primeiro caso”, afirma a delegada de Defesa da Mulher, Viviane Sponchiado.

Para a polícia, casos de violência sexual são tratados com prioridade. Mas na prática, as vítimas não se sentem protegidas. Muitas são vítimas mais de uma vez da mesma pessoa. “A Justiça não fez nada no caso da minha sobrinha, ela foi abusada duas vezes pelo mesmo homem. Não para ficar revoltada”, diz a tia de outra vítima de estupro.

Só que por mais que a condenação seja lenta, o agressor nunca sai sem uma punição. “Às vezes a vítima fica com uma sensação de impunidade pelo tempo que o processo demora para transcorrer, mas esse agressor ao final do processo vai receber uma sentença e caso ele seja condenado, além da pena privativa de liberdade, um das coisas muito importantes que a vítima tem que lembrar é que esse agressor vai ser fichado. Então vai constar nos antecedentes dele o crime que ele cometeu”, completa a delegada.

Para a Polícia Civil, os casos de estupro são prioridade (Foto: Reprodução / TV TEM )

Para a Polícia Civil, os casos de estupro são prioridade (Foto: Reprodução / TV TEM)

Apoio às vítimas

Para vítima resta se recuperar desse dano emocional e físico. Em um imóvel em Marília já funcionou uma casa abrigo para mulheres e crianças que sofreram violência sexual. O local era todo equipado com móveis, eletrodomésticos pra ser realmente um lar temporário pra essas vítimas. Mas, em dois anos de funcionamento, a casa abrigou apenas uma família.

O imóvel acabou fechado pela baixa procura. O jeito foi mudar a maneira de se aproximar dessas vítimas pra oferecer ajuda. Agora, elas encontram apoio em dois centros criados na região.

Uma das salas fica dentro da central de polícia em Marília, uma psicóloga voluntária atende crianças e adultos que já sofreram alguma violência sexual. Os atendimentos são agendados pela Delegacia da Mulher, uma forma encontrada pela polícia de dar um recomeço a essas vítimas.

“Primeiro momento é o acolhimento, a gente tem que saber ouvir essa mulher. Ela chega muito debilitada, precisando de alguém que a escute, entenda a situação que ela está vivenciando para que a gente possa fazer orientações do boletim de ocorrência que lá ela possa estar fazendo e posteriormente solicitando medidas protetivas no Judiciário, além disso, fazer um momento de conscientização e reflexão, que essa mulher tem condições de sair dessa situação. Para que ela possa tomar um outro rumo na vida dela junto com seus filhos”, ressalta a psicóloga Cristina Peres.

Em Assis, o projeto Pétalas acolhe mulheres e crianças vítimas de estupro logo após o crime. Elas nem precisam passar por uma delegacia, todo atendimento é feito no Hospital Regional, inclusive a denúncia. Quase 500 vítimas já foram beneficiadas.

“Nó cuidamos para que essa pessoa seja atendida em um local digno e com todo acolhimento, com pessoas treinadas. De forma a acolher essa vítima para que ela se sinta confiante em denunciar, para que ela se sinta confiante no tratamento que receberá”, explica Lenilda Ramos dos Santos, diretora de saúde do hospital.

O desafio é romper esse ciclo de violência. “O que a mulher precisa é se fortalecer, estudar, é se educar para o mercado de trabalho, para que ela não fique dependente desse tipo de relacionamento violento”, finaliza a advogada Mariela Cardoso. Fonte G1