Coronavírus: universitária brasileira volta para casa por causa de surto na China: ‘Psicológico muito abalado’
Uma jovem de Bauru (SP) que faz faculdade em Pequim decidiu deixar a China por causa do surto do coronavírus no país. Nesta quinta-feira (30), 170 mortes pela doença e mais de 7,7 mil casos foram confirmados pelas autoridades chinesas. No Brasil, o Ministério da Saúde informou que monitora casos suspeitos em seis estados.
Rafaela Felix, de 21 anos, chegou a Bauru nesta manhã e relatou ao G1 que vivenciou momentos difíceis em um país tomado pelo medo. A jovem conta que os últimos dias na China ela viveu ‘trancada’ dentro do quarto no campus da universidade.
“Fiquei com medo. Eu já não saía do quarto, sempre usava máscara, lavava as mãos. Mas eu já estava ficando louca, meu psicológico estava muito abalado”, lembra a jovem.
Universitária brasileira volta para Bauru por causa de surto do coronavírus na China
Segundo a estudante, por conta do surto de coronavírus, a faculdade que ela frequenta adiou o início das aulas, que estava previsto para o dia 15 de fevereiro.
Todos os dias, a jovem conta que a universidade mandava mensagem aos estudantes pedindo para que usassem máscaras, lavassem as mãos com frequência e evitassem sair de casa. Somente alunos e professores podiam entrar no campus.
“É um filme de terror. Pequim é a capital da China, é muito populoso. Quando você saía no meio da rua, você via muitas pessoas com máscara e depois de um tempo, já não via mais ninguém. Tudo deserto”, conta a jovem.
Viagem
Rafaela comprou passagem na segunda-feira (27) e embarcou na terça em Pequim — Foto: Arquivo pessoal/Rafaela Felix
De acordo com Rafaela, até sua partida, Pequim estava no nível 1 de epidemia, com cerca de 60 casos confirmados. Por isso, ela relata que não teve muitas dificuldades para deixar a cidade.
A jovem comprou a passagem na segunda-feira (27) e embarcou na terça, com escala em Marrocos. De lá, ela seguiu para o aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. “Eu estava com medo de fechar os aeroportos, não estava mais aguentando ficar naquela situação”, comenta.
Para ir até o aeroporto, Rafaela optou por utilizar um transporte de aplicativo, no lugar do metrô. Segundo ela, o aplicativo pedia para que o passageiro e o motorista confirmassem que estavam de máscara antes de iniciar a corrida.
Estudante de Bauru conta que já não estava mais aguentando o clima tenso de Pequim — Foto: Arquivo pessoal/Rafaela Felix
No aeroporto de Pequim, a estudante foi submetida a uma fiscalização, na qual teve que preencher um formulário. Em Marrocos, ela também passou por uma inspeção, onde tirou fotos e mediu a temperatura.
Além disso, durante todo o trajeto, Rafaela conta que utilizou máscara e procurou lavar as mãos com frequência. “Qualquer coisa que eu tocava, me dava agonia. Eu estava pilhada”, admite.
Já no Brasil, Rafaela relata que não precisou passar por uma inspeção específica, mas notou que a mala dela, que veio direto de Pequim, estava plastificada.
FACULDADE EM PEQUIM
Rafaela mudou-se para Pequim em 2017 para estudar Medicina do Esporte — Foto: Arquivo pessoal/Rafaela Felix
Rafaela mudou-se para Pequim em 2017 para estudar medicina do esporte. Em Bauru, ela lutava Kung Fu e conseguiu a oportunidade através da confederação brasileira da modalidade.
Segundo o professor dela, Richard Leutz, ela não paga a faculdade e recebe uma bolsa para se manter no país. Durante um ano, Rafaela ficou na China estudando mandarim e ficaria outros quatro para finalizar a faculdade.
“Faz quase 3 anos que a Rafa estava lá. Ela tentou sobreviver, com a língua, os métodos de estudos rigorosos, mas ela se diverte”, conta o professor.
Segundo Rafaela, aprender mandarim ainda é um desafio para ela, mas ela estava gostando bastante de Pequim. A jovem comenta que pretende voltar à China, mas vai esperar que o surto do novo coronavírus seja controlado para que as pessoas se sintam mais seguras e a faculdade possa retomar as aulas.
“Eu estava gostando demais, é muito seguro lá. Eu tive um ano de chinês e só sei o básico para me virar, então ainda tenho muitas dificuldades, mas sigo firme”, completa a jovem.
Ciclo do novo coronavírus – transmissão e sintomas — Foto: Aparecido Gonçalves/Arte G1