Enfermeiro morto por coronavírus adiou aposentadoria para ajudar na pandemia; vídeo mostra homenagem de amigos dos bombeiros e do Samu

O enfermeiro Cícero Romão de Souza, de 51 anos, que morreu nesta quarta-feira (22) após complicações provocadas pelo novo coronavírus (Covid-19), pretendia se aposentar depois que a pandemia passasse. Ele atuava no Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) e há mais de 20 anos na Santa Casa de Mogi das Cruzes.

De acordo com o tenente Everton Oliveira Pinheiro de Godói, do Corpo de Bombeiros, o amigo resolveu adiar o plano para não abandonar os colegas durante o combate ao coronavírus.

“Ele estava conversando recentemente com a gente que já tinha dado tempo para aposentar. A gente até falou: ‘pô, nesse negócio de coronavírus, aproveita e já aposenta’. Ele falou que não, que não ia deixar o pessoal agora, nesse momento”, relembra Godói.

Nesta quinta-feira (23), com giroflex e sirene ligados, profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e do Corpo de Bombeiros prestaram homenagens a Romão. Uma carta de despedida, que destacou a competência do profissional e a saudade que ele vai deixar, foi lida no pátio do 17º Grupamento de Bombeiros.

A morte do enfermeiro foi a 14ª provocada pela Covid-19 em Mogi das Cruzes, de acordo com a Secretaria de Saúde.

Cícero foi o primeiro profissional da saúde a morrer em decorrência da Covid-19 no município. Até quarta-feira (22), segundo a Secretaria Municipal de Saúde, havia 54 profissionais de saúde entre os 156 pacientes com exames positivos para a doença na cidade.

Com giroflex e sirenes, bombeiros e Samu homenageiam enfermeiro que morreu com Covid-19

Com giroflex e sirenes, bombeiros e Samu homenageiam enfermeiro que morreu com Covid-19

PEGOS DE SURPRESA

Cícero é lembrado com carinho. Brincalhão com colegas e pacientes, ele chegou a conversar com os amigos sobre os desafios trazidos pelo coronavírus poucos dias antes de ser internado, em 14 de abril.

Dois dias depois, ele falou com o tenente Godói, por telefone, sobre seu estado de saúde. O amigo diz que ele parecia bem, embora demonstrasse uma breve falta de ar na fala. A notícia da morte surpreendeu a todos.

“Realmente pegou de surpresa. No final de semana a gente estava tomando café, na semana eu soube que ele tinha passado mal, mas conversamos e ele falou que estava bem, se recuperando. Depois veio a surpresa de que se agravou o quadro dele”, comenta Everton.

Rodrigo Romão, diretor do Sindicato dos Enfermeiros do Estado de São Paulo, conheceu Cícero em 2009, quando trabalharam juntos na Santa Casa de Mogi. Hoje, atuando no Hospital Municipal de Brás Cubas e em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), estava acostumado a receber o enfermeiro que levava pacientes pelo Samu.

Ele destaca o profissionalismo do amigo, com quem compartilhava o mesmo sobrenome. “O Cícero era um cara bastante atuante na emergência da Santa Casa. Ele gostava do que fazia e era um excelente profissional. Ele chama Cícero Romão, mas não é nada da minha família. A gente até brincava um com o outro que a gente era primo. A gente se cumprimentava como primo”, relembra.

Para Rodrigo, que se isolou na própria casa e não vê a família há mais de 30 dias, a morte do amigo traz à tona o medo que envolve a luta dos profissionais da saúde na guerra contra a Covid-19. No entanto, ele diz que isso faz parte do trabalho.

“Todos nós estamos apreensivos, com medo, com atenção. Porém, é a nossa função. Estamos na linha de frente e temos que enfrentar isso da melhor maneira”.

Enfermeiro de Mogi das Cruzes morreu depois de ser infectado pelo coronavírus — Foto: Reprodução

Enfermeiro de Mogi das Cruzes morreu depois de ser infectado pelo coronavírus — Foto: Reprodução

“Com a morte dele, acho que deu uma tensão maior entre os profissionais, um medo. Agora, conforme o número de infectados, de mortes, vai aumentando, vai chegando próximo da família das pessoas”, afirma.

A Santa Casa de Misericórdia de Mogi das Cruzes lamentou a perda de Cícero Romão de Souza, que atuava como técnico de enfermagem no Pronto-Socorro.

“A família Santa Casa expressa suas condolências à sua esposa Mônica Mesquita, seus familiares e a todos os seus colegas e companheiros de trabalho, neste momento de luto. E em oração pede que Deus possa confortar o coração de todos”, destacou a nota. Fonte G1