Errar na enfermagem: culpa ou fatalidade
Partindo para século XXI diante de uma Saúde Pública precária, de luto, onde pessoas morrem na maca por falta de um atendimento digno, um sistema de saúde defasado, profissionais de enfermagem desvalorizados, estressados, sobrecarregados, mal remunerados. Além de toda essa problemática temos instituições desestruturadas em condições inadequadas de trabalho, recursos materiais e humanos deficientes, reflexo de um cuidado sem qualidade. Partindo desse pressuposto é visível que o sistema está passando por momentos delicados, muitos erros e falhas com certa freqüência, alguns com conseqüências graves, causando a morte. Muitos desconhecem e não tem condições de entender ou compreender o que é o sistema e a prática de cuidar nos hospitais, mas sabem perfeitamente julgar, criticar, condenar, os profissionais sem conhecimento. “Na verdade somente quem vive o dia a dia de um cotidiano pode saber que cuidar não é para qualquer um, mas para pessoas especiais” DO NADA JUSTIFICA O ERRO, A NEGLIGÊNCIA, A IMPRUDÊNCIA, A IMPERÍCIA, A FATALIDADE, A HORA ERRADA, O DIA ERRADO, OU MUITO MENOS ISENTAR SE DA RESPONSABILIDADE DA CONSEQUÊNCIA DO ERRO, principalmente quando esse erro resulta na morte de alguém. Baseado nesse contexto temos consciência que o sistema e a política de saúde também são colaborativos para tal. Entendendo a existência do erro e suas conseqüências como realidade, e não utopia, compreendendo que o erro faz parte de uma cadeia, e não somente de uma pessoa, ou melhor mais de um envolvido diretamente ou indiretamente. Na verdade é necessário uma fiscalização mais freqüente nos hospitais para averiguar as condições de trabalho e o exercício profissional, com intuito de prevenir , evitar erros , e não permitir incidente pois subtende-se que o erro causa um impacto grande na sociedade, mas não podemos esquecer que por detrás deste, existem pessoas, ser humano, sentimentos, emoções, e muitos podem não compreender, mas o sofrimento é de ambas as partes dos envolvidos . Entendemos também que falta uma política de saúde voltada na intervenção e prevenção de erros, melhorando a qualidade de cuidado e oferecendo segurança para o paciente-profissional.
INTRODUÇÃO
Quando se escolhe cuidar de pessoas, é porque escolheu ajudar, for solidário, servir, restabelecer, apoiar, ouvir, sofrer, chorar e rir junto com quem chora se emocionar, criar vínculos, dividir suas intimidades, suas privacidades, particularidades, problemas, enfim estar junto, junto na finitude, participar do processo de morrer, porque muitas das vezes o paciente está solitário, às vezes abandonado pelos entes queridos ou família, e geralmente quem está mais próximo nas 24 horas se destacando é a enfermagem.
Nessa virada de século partindo para o século XXI ainda as pessoas, tem dificuldade e não sabem distinguir o papel da equipe de enfermagem e suas funções, e acabam generalizando , colocando todos num mesmo patamar, como chamam “os enfermeiros e as enfermeiras” ao passo que somos uma equipe composta de: enfermeiro auxiliar e técnico de enfermagem, cada um com suas função e competência estabelecida e regulamentada para executar. Na situação de fatalidade do erro, da medicação e ou procedimento errado, que cause algum dano no paciente, principalmente quando é irreversível como a morte, a situação é delicada, porém também causa de muita dor e sofrimento para ambos paciente-profissional, muito embora as pessoas não possam entender ou compreender a gravidade da problemática e acabam priorizando somente um lado. Na verdade não podemos generalizar pessoas e profissionais, pois cada um é cada um, com uma índole, consciência, capacidade, responsabilidade, perfeição, imperfeição, enfim cada qual ciente da conseqüência do erro principalmente quando a causa é a morte. Deus criou o homen como sua semelhança, mas as pessoas são diferentes, cada um tem um caráter, uma personalidade e o julgamento pertencem a Deus, pois somente ele conhece o interior de cada um. Baseado nesse contexto entende perfeitamente que a falha e o erro quando lidam com vidas jamais pode acontecer, é inadmissível, mas também é utopia tratando se de seres humanos imperfeitos e falhos afinal, o “ERRO EXISTE SEM UTOPIA”. Entendemos perfeitamente que a crítica é construtiva, a liberdade de expressão é para analisar, opinar, melhorar o sistema de saúde, prevenindo e evitando erros através de estratégias. Partindo do entendimento que qualquer profissional está arriscado a errar, qualquer profissão, mas, porém, contudo a enfermagem é o foco, “Já que quando se faz mais, correm muito mais riscos”. Só erram quem ousa na sua íntegra a realizar o que lhe é proposto, mesmo meio as circunstâncias adversas. E diante de um erro que leve a morte de alguém quem será capaz de afirmar: Somos culpados! Governo! Sociedade! Instituição! Indivíduo! , afinal é mais fácil apontar uma classe do qual veio o erro e colocá-la como a única culpada, assim massacrando-a. Mas diante de uma fatalidade ocasionada pelo erro de um profissional da enfermagem é muito grande mediante aos fatos e ao impacto da opinião pública, onde a crítica a pressão das pessoas que prontamente julgam muitas vezes sem nenhum critério como se fossem donas da verdade absoluta. A liberdade de expressão é para analisar e opinar, é construtivo desde que não venha abrir mais feridas perante das que já estão afinal ninguém conhece o dia a dia de um profissional da enfermagem dentro de um hospital num setor de UTI, Clínica Médica e outros nas 24 horas de cuidar lidando com dor, sofrimento, morte, processo de morrer, cliente agonizando, familiar angustiado, “Esse é o cotidiano, muita cobrança, tensão, pressão, carga negativa e emoções, porque quando as pessoas procuram o serviço de saúde é para tratar, curar, salvar, recuperar vidas e não ter como causa danos irreversíveis. Diante desse contexto também o erro pode ser considerado reflexo de uma política de saúde precária, da falta de um órgão fiscalizador e autoridades mais freqüente e mais atuante nos hospitais para avaliar as condições do trabalho identificando problemas e prevenindo erros. Temos consciência que a filosofia da enfermagem não é curar, mas simplesmente cuidar, pois a cura é de competência médica, prescrever drogas também, e diante da situação fatídica, quando o profissional errar, executar função inadequada a situação vai se destacar e este vão ser punido, afinal o sistema está em crise, então o cuidado também. Penso que ninguém gostaria de errar, mas na presença do erro “Procuram somente os culpados”, também devemos conhecer as causas do erro, o que levou a acontecer, afinal não tem hora errada, pessoa errada, quando cuidamos, somente responsabilidade. Desse universo conturbado que afligem muito as pessoas o ser humano está estressado de natureza, reflexo da exaustão mental e física, pois ultrapassar horas extras como 24, 36 e 48 desgastam, diminuem o rendimento, fator colaborante para tal, pois a atenção e a concentração são primordiais para atuar na prática de cuidado.
Reason (1990) citado pelo IOM (2007,p.54) define erro como “a ocasião em que uma seqüência planeada de actividades físicas ou mentais não consegue atingir o resultado pretendido, não podendo estas falhas ser atribuídas ao acaso.” De acordo com este autor, pode falar de erro quando existe uma intenção , o que significa que quando estamos perante um comportamento não premeditado , não estamos perante um erro.
Quando ocorre um erro, a reação imediata é procurar identificar o “culpado”. No entanto geralmente os erros mesmo que aparentemente cometidos por apenas uma pessoa, resulta convergência de múltiplos factores (IOM, 2007, p.49).
Por outro lado, a abordagem do sistema reconhece o erro como resultado do alinhamento falhas latentes e activas naquilo que reason (2000, p.769) como “queijo suíço”. Se esta abordagem, para compreender o erro não basta considerar os factores individuais, mas também as condições do sistema em que o individuo actua.
Para, além disso, o impacto do erro nos próprios profissionais de saúde, pela diminuição da satisfação, desmotivação, sentimentos de culpa, ou penalizações administradas por sistemas frágeis, que centram a avaliação do erro no individuo, terão de forma cíclica um impacto relevante na segurança e qualidade dos cuidados.
Como afirma França (2005, p.24): “(…) erros humano no quadro de sistemas pobres ineficientes podem provocar danos sérios a doentes e profissionais. “Da experiência de muitos seria necessário que as pessoas pensassem mais nos outros dos profissionais que cuida, lutam pela vida e merecem ganhar para se manter, ter qualidade de vida, e viver bem, trabalhar menos 4horas dia e ganhar bem…
“A sensação de culpa de ter sido a fonte provocadora de sofrimento, dores ou levado a morte de um ser humano é uma punidade que não há necessidade de leis para refendá-la.” (Coimbra e Cassini, 2001, p.59).
A culpabilização e a exigência de perfeição na aprendizagem profissional que comete um erro e favorecem o clima de ocultação, dificultando a abordagem.
“A possibilidade de ser taxado como relapso e incompetente de sofrer censuras ou aumento de vigilância, estimula a prática de se encobrir e nega os erros ao invés de admitidos.” (Carvalho e Vieira, 2002, p.265).
O erro nas instituições de saúde não tem apenas conseqüências para o doente, eles podem igualmente ter efeitos devastadores para os profissionais de saúde.
A abordagem no sistema presume que os erros e acidentes são os resultados de uma longa cadeia de causas, uma conseqüência de falhas , latentes e activas que se alinham, provocando danos nos doentes. “”
(Fragata e Martins, citado Reason 2004, p.45).
A esta perspectiva está inerente que se não podemos mudar a condição humana, podemos, contudo mudar as condições em que as pessoas trabalham. (Reason, 2000, p. 768).
A consciencialização de médicos e enfermeiros de que erros são acompanhantes inevitáveis da condição humana, mesmo em profissionais conscientes e de auto padrão, talvez seja o importante para o início de mudanças necessárias. (Carvalho Vieira, 2001,p.267)
Para Ferreira e Dias (2005: 40) “responsabilidade moral e ética pode ser definida como dimensão relacionando de obrigação.” pode ser afirmar que o conceito de responsabilidade a luz da ética é a obrigação que temos de responder pelos nossos actos e suas conseqüências. “”
OBJETIVO
Analisar e comparar os erros e a sobrecarga de trabalho no cotidiano da prática de enfermagem.
JUSTIFICATIVA
Cuidar deve ser uma decisão que passe pelo nível mais intrínseco do desejo de realizar o extraordinário e não somente o ato de fazer o, que é designado. O fazer é de todos, mas o cuidar é para poucos, na verdade estamos vivendo uma geração que o fazer é obrigatório e o cuidar acaba sendo relativo devido à exigência da demanda e o número cada vez menor de profissionais que deseja ser somente um cuidador em sua natureza original, sem as pressões que o cercam.
CONCLUSÃO
A saúde passa por um momento de crise, mas para assistir o paciente com qualidade é preciso de estrutura física, material, humana, condições, capacidade, competência conhecimento, aperfeiçoamento e uma educação permanente ativa na instituição. Partindo desse contexto é necessária urgente uma reforma na política de saúde no universo, onde possa oferecer um cuidado com qualidade e menos erros.
“Senhoras e senhores, bem-vindos a bordo do Vôo Número 743 da Sterling Airline com destino a Edinburgh. Daqui fala o vosso piloto. A duração do nosso vôo será de duas horas, e tenho o prazer de vos informar que têm 97% de hipótese de chegar ao destino sem ficarem significativamente feridos durante o vôo, e que a probabilidade de cometer um erro grave durante o vôo, quer vocês saiam feridos ou não, é de apenas 6,7%. Por favor, apertem os vossos cintos, e disfrutem da viagem. Em Edinburgh está sol.”
ENFERMAGEM UMA PROFISSÃO DE RISCO
Quando se escolhe cuidar de pessoas é escolha, opção para ajudar, salvar vidas, curar, restabelecer, enfim cuidar, mas é preciso muita responsabilidade, competência, capacidade, habilidade técnica, e até o perfeccionismo e com tudo isso, todo o conhecimento cientifico ainda pode existir falhas, mesmo sem intenção ou desejo de fazer mal…
O ESTRESSE DO CUIDADOR NAS 24 h
Para lidar com pessoas doentes , sofrendo , morrendo, com dor, as emoções brilham e o profissional muitas das vezes fica insensível e frio para proteger suas emoções, é preciso um acompanhamento psicológico para trabalhar as emoções deste para assistir o cliente com suporte emocional…
O OUTRO LADO DO CUIDADOR
Quando se fala em cuidados, se falam em emoções, sentimentos, emocional, sofrimento, alegria e alma os sentimentos de tristeza, angústia, depressão, são os companheiros dos profissionais nas 24 horas, enfim é escolha e escolha é sofrer junto com quem sofre…
“SOBRECAGA DE TRABALHO É O REFLEXO DO CANSAÇO FÍSICO E MENTAL e POUCA ATENÇÃO E CONCENTRAÇÃO NA PRÁTICA”
“O julgamento existe, mas as pessoas querem julgar sem conhecimento de causa, apunhalar, criticar, condenar, mas a justiça divina é a mais justa, e a enfermagem tem um conselho para avaliar e determinar suas punições. O ato errado não deveria existir, mas fugir da realidade é impossível, ele existe, existe como o erro médico, erro de qualquer profissional que lide com vidas e pessoas doentes”
“Quando o profissional de saúde, enfatizando a enfermagem, comete um tipo de erro grave que causa morte do outro, ele já tem noção do fim da sua carreira, da sua consciência que vai acusar o resto de seus dias na terra, de sua angústia, do preço alto de tirar a vida de alguém acredito sem intenção, mas a natureza divina ajuda aliviar essa tristeza e angústia do incidente, para superar esse ato errado, essa tragédia, que é um preço muito caro, o preço da vida, e a vida não têm preço, pois é o fim de uma carreira que pode estar iniciando e já finalizando”
“Falam muito em humanização para melhorar o ato mecânico, alienado, inconsciente muito falado e pouco vivido, onde humaniza o cuidar do paciente é a prioridade, porém esquecem muitas das vezes do outro lado, dos atores principais, dos figurantes da peça os cuidadores”
DO COTIDIANO: O Médico, e outros profissionais permanecem pouco tempo no hospital, mas a enfermagem essa sim permanece o tempo todo, presente nas 24 hs vivendo conflitos de equipe-paciente-instituição, permanecendo no cenário, ou melhor, os protagonistas em cena: De manhã dão início ao espetáculo de fazer, prestar cuidados, cumprir prescrição, executar ações, procedimentos dos básicos aos mais complexos, enfim os fundamentais para a vida, como higiene, alimentação, troca de fraldas, aplicarem medicamentos, passar sondas, acesso venoso, encaminhar para exames, aliviar a dor, ouvir, e outros. Entendemos que o profissional médico é figura importante no cuidar, mas sem a ajuda da arte de cuidar da enfermagem, o sucesso do tratamento não acontece.
“As pessoas devem evitar o julgamento, pois o interior das pessoas só quem conhece é DEUS”
DE QUEM É A CULPA DO ERRO NA ENFERMAGEM
Somente do profissional de saúde;
De uma política de saúde precária, de um sistema de saúde que se encontra na UTI tanto para o paciente como para os profissionais de saúde.
COMO REDUZIR ERROS NA ENFERMAGEM
Antes de iniciar seu plantão, faça uma oração para Deus te ajudar, guiar seus passos e conduzir para que não cause nenhum dano aos pacientesü;
Muita atenção e concentração em cada ação, principalmente quando for preparar medicação, leia e confira uma, duas, três, quatro e se ainda tiver dúvidas, prepare tudo novamente com calma e tranqüilidade;ü
Conferir no mínimo, três vezes, o nome da droga, a via, o leito, o nome do cliente e de preferência guardar todos os frascos e ampolas utilizadas para depois de administrar desprezá-las;ü
Silêncio e evitar conversar durante o momento de preparar as drogas;ü
Quando abordar o cliente, relate sempre o nome da medicação a ser administrada;ü
Paz para trabalhar;ü
Refletir e pensar antes de fazer qualquer procedimento principalmente quando invasivo para evitar erros;ü
Oração da Enfermagem
DEUS guie meus passos neste dia, segure minha mão e me conduza em cada situação. Obrigado. Amém
POEMA DA ENFERMAGEM
“Na escuridão eu te vejo e você me vê”.
A cama está fria eu estou só perdido na escuridão, nas emoções da solidão da tristeza do medo e da angústia;
Mas aguardo ansioso por um anjo urgente de branco de preferência com a lâmpada acesa para aliviar a minha dor ou simplesmente estar do meu lado;
Das varias maneiras de interpretar cada coisa, ato, procedimento, mas um simples tocar, pegar na mão, atos tão insignificantes, mas que podem ter muito sentido para o paciente;
A intenção é boa, mas pode falhar como qualquer humano, já que o ser humano é um ser fraco e mortal, e aí a luz pode apagar, mas apagar para doente e profissional;
Quando vejo alguém chamar meu nome, ou ouço o tocar da campainha, na escuridão olho para cima e peço a DEUS piedade e misericórdia de mim pelos meus atos, pois só ele conhece o meu intimo…
REFLEXÃO
“As autoridades, órgãos competentes, deputados, governo, presidente devem valorizar a saúde como um marco na vida do ser humano, onde qualquer um pode necessitar de cuidados, cuidados médico, de enfermagem e de equipe multiprofissionais, enfim gente cuidando de gente”
“A lâmpada do cenário da enfermagem pode enfraquecer, mas jamais apagará”
REFLEXÃO
O SER HUMANO
Hora ele acha que pensa
Hora ele acha que é dono da verdade
Hora ele acha que é dono da ciência
Hora ele acha que é dono do mundo
Podemos pensar que é capaz de acreditar
Poderia pensar que tem propriedade e agir
Poderia pensar que a ciência faz se necessário estudar
Poderia pensar que não é deus e sim filho do criador
Com certeza seria mais inteligente
Com certeza poderia cruzar fronteiras
Com certeza poderia ser um grande profissional
Com certeza o seu saber seria compartilhado
E transformaria em ser humano “humilde, generoso e capaz”
FONTES DE PESQUISA
MANSOA Ana Mansoa O ERRO NOS CUIDADOS DE ENFERMAGEM A INDIVÍDUOS INTERNADOS NUMA UNIDADE DE CUIDADOS INTENSIVOS Abril 2010
Por: Selma Domingos de Oliveira (enfermeira do Hospital Regional de Assis)
Colaboradores: Nielse Capellosi e Rosangela Lacerda Ramos