Estudante cria geladeira compartilhada que abastece campus da Unesp em Bauru

Vitor Marchi Moreno Dias implantou geladeira de frutas com ideia de difundir a cultura do compartilhamento dentro do campus da Unesp em Bauru  — Foto: Arquivo Pessoal

Vitor Marchi Moreno Dias implantou geladeira de frutas com ideia de difundir a cultura do compartilhamento dentro do campus da Unesp em Bauru — Foto: Arquivo Pessoal

Quem é novato e anda pelos corredores da Unesp de Bauru (SP) pode até estranhar uma geladeira no meio do caminho. Mas para quem já estuda no local, sabe que esse eletrodoméstico salva a fome de muitos alunos.

Por meio da economia compartilhada, o local serve para que alunos possam consumir alimentos saudáveis sem o intermédio de um vendedor. Ali é o ponto de encontro entre “consumidor-fornecedor”, com base apenas na confiança entre os dois.

A geladeira está no local desde 2010, quando o ex- aluno de design Vitor Marchi Moreno Dias, de 29 anos, começou a realizar o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). O principal objetivo da pesquisa acadêmica dele foi estudar o conceito de design colaborativo, uma área do campo de design de serviços, com intuito de difundir a cultura da economia compartilhada.

Após pesquisa na área, ele resolveu materializar a experiência. O resultado deu origem ao projeto Geladeira de Frutas, que já funciona há quase uma década dentro do campus em Bauru e já conecta diversos estudantes na base apenas da confiança.

A geladeira que fica no campus da Unesp em Bauru tem os produtos etiquetados com o valor e a caixa, onde o dinheiro deve ser depositado  — Foto: Arquivo Pessoal

A geladeira que fica no campus da Unesp em Bauru tem os produtos etiquetados com o valor e a caixa, onde o dinheiro deve ser depositado — Foto: Arquivo Pessoal

O local é “compartilhado” com os alunos, além das frutas orgânicas disponibilizadas pelo idealizador a preços acessíveis, os estudantes podem levar os alimentos e usar o espaço para deixar o que irão consumir.

A geladeira fica disponível e cada produto com seu preço. Ao lado, uma caixa, onde os alunos pagam pelo valor correspondente.

“Mesmo não tendo ninguém no local para fiscalizar ou fazer a cobrança nunca tivemos nenhum problema de alguém pegar um alimento e não pagar o valor corretamente. E essa era a proposta, criar algo baseado no compartilhamento e confiança”, afirma Vitor.

Ele explica que outra norma que o local tem é que só podem ser revendidos produtos saudáveis. A proposta não é vender nada industrializado e nada que concorra com a cantina da universidade. “É algo para ser colaborativo, alternativo e saudável para quem precisa passar muitas horas na faculdade e não pode voltar pra casa”, explica o ex-aluno e idealizador.

No caso dos alunos que querem vender algo, é necessário pagar uma pequena quantia, que funciona como uma “locação”. O mais inusitado é que ao lado dos produtos que são vendidos fica uma caixa onde é depositado o dinheiro correspondente ao valor daquele determinado produto.

Para tirar a pesquisa da teoria, o designer precisou desembolsar a quantia de R$ 5,2 mil para comprar o equipamento. A geladeira é maior do que o normal e possui duas portas de vidro, que funcionam como “vitrine” para os produtos.

“Financiei a compra da geladeira com meu próprio dinheiro e com a locação das prateleiras, estou conseguindo recuperar o investimento. É uma troca, com o dinheiro dos produtos vendidos, muitos alunos conseguem fazer uma renda extra que contribui com suas despesas pessoais”, diz.

O designer contou ao G1 que a meta do dinheiro arrecadado com o aluguel das prateleiras será só até conseguir recuperar o valor investido. Até o dia 23 de maio já foram arrecadados R$ 1.984,45.

Ainda faltam arrecadar pouco mais de R$ 3 mil, depois disso, o equipamento será totalmente gratuito também para as pessoas revender seus produtos. “Quero só recuperar o que gastei e depois deixar como presente para a universidade”, complementa.

A geladeira está sempre cheia de frutas, saladas, lanches naturais e até doces.

Segundo o design, a geladeira cria uma conexão entre quem consome e quem está disposto a vender, e estabelece um vínculo de confiança entre os usuários, com todos os fundamentos que compõe a economia compartilhada, inspirada no design colaborativo. Uma tendência que tem sido cada vez mais disseminada dentro da nova economia.

Geladeira compartilhada

Quem passa pela geladeira não imagina que trata-se de um resultado de um trabalho acadêmico da área de Design. A geladeira pode ser utilizada por alunos que trazem alimentos que precisam de conservação.

Já quem usa o equipamento para vender seus produtos, coloca o alimento para venda com uma etiqueta indicando o valor. Ao lado, uma caixa correspondente aquele produto, onde os alunos ‘pegam e pagam’ sem a fiscalização de ninguém.

“Hoje estou muito satisfeito, porque o projeto está no seu melhor momento, a confiança já está estabelecida entre os alunos e tem funcionado muito bem. Tem dias que falta espaço dentro da geladeira diante da demanda”, complementa o designer.

Mas frisa que o segredo do projeto é ser sempre trazer uma alimentação saudável, econômica para criar a cultura do compartilhamento e confiança.

Geladeira dentro da Unesp em Bauru oferece produtos saudáveis aos alunos — Foto: Arquivo Pessoal

Geladeira dentro da Unesp em Bauru oferece produtos saudáveis aos alunos — Foto: Arquivo Pessoal