Fake news: quem faz, quem repassa e quem são as vítimas

Jovens de comunidades do Rio de Janeiro e São Paulo estão coletando notícias falsas, as chamadas fake news, em grupos de família para fazer a checagem das informações e devolver no próprio grupo de WhatsApp. É um projeto da escola de jornalismo Énois, que trabalha com jovens da periferia. A missão é apurar notícias ou propagandas políticas que circulam e editar um material de resposta.

Uma das últimas vítimas das notícias falsas foi Bruna Silva, mãe de Marcus Vinícius, de 14 anos, morto a tiros em um dia de operação policial na favela da Maré, no Rio de Janeiro, quando ia para a escola.

Notícias falsas na internet associam o nome de Marcus Vinicius ao tráfico de drogas e divulgam montagens com a imagem de um outro menino segurando uma arma. Apesar da dor, a mãe do garoto está lutando por justiça e pela honra do filho: “Eu fico estarrecida com isso aqui. A pessoa ainda posta a foto errada. Eu não tenho paciência quando se trata de fake news. Quem fez isso é um criminoso”.

Os boatos envolvendo Marcus Vinícius estão sendo acompanhados por Evelyn Silva, mesma advogada que pediu a retirada de conteúdo mentiroso contra a vereadora Marielle Franco, morta a tiros em março desse ano. “As pessoas acham que o fato delas compartilharem e estarem protegidas pela liberdade de expressão delas, na verdade se elas compartilham conteúdo que é criminoso, elas estão compactuando, elas também estão cometendo aquele crime”.

Política e informações falsas

O Profissão Repórter monitorou alguns dos maiores sites do Brasil que publicam notícias falsas sobre política. Um dos casos é o site Imprensa Viva, que tem milhões de acessos todo mês e é administrado por anônimos. Ele está ligado a várias páginas nas redes sociais que repostam as matérias do site para milhares de seguidores.

Outros casos investigados foram os dos sites Folha Política.org e Estrela Vermelha, que tem 140 mil acessos mensais e está ligado a outra página, Esquerdão, com 70 mil acessos mensais.

Na busca pelas empresas por trás desses sites, os endereços levaram a imóveis com aspecto de abandonado, com as portas sempre fechadas, em uma vizinhança muito desconfiada da atividade dos moradores. As pessoas que saíam dos imóveis não quiseram dar entrevista ou revelar o nome dos funcionários dos sites e se mostraram muito irritadas.

A divulgação de informações falsas sobre Marielle Franco fez o Facebook tirar do ar páginas do site Ceticismo Político, administradas por Carlos Afonso. Ele assina as matérias e análises políticas com pseudônimo Luciano Ayan. O site e o pseudônimo foram bloqueados após a publicação de uma notícia que associava a vereadora ao tráfico de drogas.

Carlos diz que apenas reproduziu os comentários da desembargadora Marília Castro Neves no Facebook. O texto não explica que a desembargadora não conhecia Marielle, nem que ela se baseou na postagem de uma amiga. O texto, publicado pelo Ceticismo Político, foi compartilhado mais de 360 mil vezes. A desembargadora apagou sua postagem e não quis dar entrevista sobre o assunto.

Seguidores falsos

Os boatos são muitas vezes propagados com a ajuda de perfis falsos. Isso é alimentado por um comércio virtual. Para fazer a reportagem, o repórter Erik Von Poser comprou 10 mil “amigos” por R$ 250 e foi checar de onde vinham. Alguns eram claramente falsos, outros eram perfis de pessoas reais e de empresas.

Alcides Antunes coordena uma grande rede de programação de códigos para conectar pessoas que querem comprar seguidores. Ele diz que vende uma média de 2,5 milhões de seguidores por mês: “Eu trabalho na parte de programação e de revender para grandes revendedores, que vendem para o usuário final”.