‘Faltam funcionários’, diz presidente do sindicato sobre morte de agente
A unidade da Fundação Casa de Marília (SP), onde foi deflagrada a rebelião que acabou com a morte de um dos agentes, tem capacidade para 101 internos, mas estava com 108 na terça-feira (4) quando o motim aconteceu. De acordo com o presidente do sindicato que representa os servidores da instituição, Aldo Damião Antônio, nove funcionários trabalhavam no local, número que considera insuficiente e que compromete a segurança no local. No entanto, a corregedoria da Fundação Casa afirma que o quadro de agentes da unidade era adequado.
A Corregedoria da Fundação Casa abriu uma sindicância para apurar as causas da rebelião e como os internos tiveram acesso aos materiais usados para agredir os funcionários. Durante a rebelião o agente Francisco Calixto, de 51 anos, foi morto e outras sete pessoas foram feitas reféns e a situação só foi controlada com chegada das polícias Militar e Civil. Dezoito internos fugiram e oito foram recapturados. Mas, de acordo com o corregedor geral da Fundação, Jadir Pires Barbosa, o número de funcionários da unidade é suficiente.
Cinco internos foram identificados como suspeitos de participar da morte do agente, que foi brutalmente agredido com um cabo de vassoura durante a rebelião, que começou após um culto na unidade. Segundo as investigações, Francisco teria tentado impedir a fuga dos internos, mas foi rendido por eles. Um menor, de 17 anos, confessou ter enfiado o cabo de vassoura na garganta da vítima, o que provocou a morte.
Francisco trabalhava há 15 anos na Fundação Casa e faltava apenas dois anos para se aposentar.Ele foi morto no dia que completava 51 anos. Os familiares contaram que ele gostava muito do trabalho. “Muita gente entra na Fundação por falta de opção, mas o meu irmão não, ele adorava, a gente falava para ele, Francisco você precisa arranjar outro lugar para trabalhar, pela sua educação e ele respondia ‘você acha que esses meninos não precisam de alguém educado para lidar com ele?, quer dizer, ele gostava disso”, conta a irmã Rosana Calixto. O corpo do agente foi enterrado na manhã desta quinta-feira (6) no Cemitério da Saudade.
Motim
De acordo com o delegado Valdir Tramontini, três voluntários que faziam o culto religioso e cinco funcionários do local foram feito reféns. Um deles foi ferido no ouvido com uma caneta e o agente Francisco Calixto, de 51 anos, foi morto por cinco jovens após ser agredido violentamente por um cabo de vassoura.
“Infelizmente um funcionário foi morto com uma brutalidade terrível. As informações iniciais constam que os menores o seguravam, um teria introduzido um cabo de vassoura em sua garganta, provocando a sua morte”, explica o delegado.
A polícia deixou a sede da Fundação Casa durante a madrugada desta quarta-feira (5) e a segurança do local foi retomada por agentes socioeducativos.
Em nota, a Fundação Casa informou que “os jovens envolvidos na fuga que permaneceram no centro e os que forem recapturados passarão por uma Comissão de Avaliação Disciplinar (CAD), que vai determinar as possíveis sanções. O Judiciário e familiares dos jovens serão informados da ocorrência.” A instituição informou ainda que vai prestar total apoio e solidariedade à família do agente morto durante a rebelião.
O agente socioeducativo completou 51 anos na terça-feira, mesmo dia que o motim foi deflagrado. Ele foi rendido e agredido por quatro internos com um cabo de vassoura quando tentava impedir a fuga dos menores, que se rebelaram por volta das 21h. Quando a tropa de choque da polícia chegou o conflito já estava controlado, mas 18 internos fugiram. Oito foram foram recapturados na quarta-feira. Mais um foi recapturado nesta quinta-feira.
Investigação
A defensoria pública visitou a unidade e vai acompanhar a situação. Atualmente a unidade de Marília tem capacidade para 101 jovens, mas abrigava 108.
“Nesse caso são várias frentes. A defensoria vai prestar uma assistência se necessário à família dessas vítimas até avaliando a possibilidade de uma indenização contra o Estado. Tem a frente da defesa da tutela, dos interesses dos adolescentes pelos defensores da área da infância e os defensores na área criminal na defesa dos eventuais maiores de idade envolvidos. Então são várias frentes”, diz o coordenador regional da defensoria Bruno Bortolucci Baghim.
A corregedoria da Fundação Casa abriu uma sindicância para apurar a morte do agente socioeducativo e a fuga de dezoito internos durante a rebelião. Oito já foram recapturados, segundo a polícia. A corregedoria também quer saber como os internos conseguiram uma caneta e um cabo de vassoura usados para ferir outros funcionários e matar o agente.
Dois jovens que participaram da morte já foram identificados e detidos. “Um envolvido adulto, já tinha 18 anos, foi encaminhado para o CDP [Centro de Detenção Provisória]. Ele não está mais na delegacia de polícia. A partir da decisão judicial desse novo ato infracional eles vão ser alocados em uma unidade correspondente ao ato”, afirma o corregedor. Dos internos que fugiram, três foram recapturados na manhã desta quarta-feira e cinco nesta tarde ao lado de um córrego perto da unidade. A polícia ainda faz buscas pelos outros 10.
O delegado seccional de Marília, Wilson Frazão acrescentou que todos os internos rebelados responderão pelo motim e por lesão corporal. O maior de 18 anos envolvido diretamente na morte do agente penitenciário vai responder por homicídio doloso por meio cruel. Os outros quatro adolescentes que participaram do crime ficam à disposição da vara da infância e da juventude. Fonte G1