Filhos doam órgãos da mãe após morte cerebral para superar tristeza
Uma família de Ourinhos (SP) deu uma linda demonstração de solidariedade e amor ao próximo. Depois da morte da mãe, Priscila Furtado e seus irmãos decidiram doar o fígado, os rins e as córneas dela. Ajudar outras famílias foi a maneira encontrada por eles para superar a tristeza de perder a mãe. “Ela ensinou que a gente deve sempre fazer boas ações, ser generosa. A gente se coloca no lugar dessas pessoas”, conta Priscila.
A equipe da TV TEM foi autorizada a acompanhar a cirurgia para a retirada dos órgãos da mãe da Priscila. Uma operação delicada que leva mais de seis horas. O primeiro órgão examinado pelos médicos foi o fígado, mas eles não tiveram sorte, o órgão estava bom. Outra equipe assumiu a cirurgia para a retirada dos rins e das córneas e os órgãos estavam em boas condições e foram armazenados em sacos plásticos e gelo.
Os órgãos foram levados rapidamente paraMarília, onde vão ajudar outras pessoas e realizar a vontade da doadora. “A gente crê que na vida de outras pessoas que precisam ela está viva. É isso que nos conforta”, acredita Priscila.
Mas a escolha da família da Priscila ainda representa a minoria. A fila de quem espera por uma doação e maior do que a de doadores. Os médicos dizem que a razão para esta conta injusta é que, entre outras coisas, falta diálogo. “O que importa é saber que doação de órgãos é uma coisa séria. A gente segue uma norma mundial, de exames clínicos, complementares, de imagem, avaliado por mais de um médico para chegar a conclusão que aquele paciente está em morte encefálica”, explica o médico Marcelo Santoni.
O enfermeiro André Moreira coordena o setor de captação de órgãos em Ourinhos. Ele diz que no Brasil a fila de espera de um órgão passa de 32 mil pessoas. Por isso a doação é fundamental, mas ainda existe muita resistência. “Para uma população de 100 mil habitantes, até agora dez pacientes foram abordadas com o processo de morte encefálica e apenas três aceitaram.”
Quem já precisou de um órgão, sabe da importância da doação. Akira Okazaki sofreu muito até ganhar um novo fígado há cinco anos e hoje se sente outra pessoa. “Eu praticamente voltei a viver, dar mais valor para a vida, porque antes eu não tinha qualidade de vida.”
A atitude dessa família ainda é uma exceção, apesar das campanhas e de muito se falar no gesto de amor e solidariedade que representa a doação de órgãos. Na região, pelo menos três hospitais são referência na captação de órgãos e teriam condições de salvar muito mais vidas se houvesse conscientização. Fonte G1