“HINO AO AMOR”
Com tanto lixo eletrônico tocando hoje nas rádios e em bocas de sons de caminhonetes barulhentas, resta curtir a saudade do romantismo de minha fase de locutor de rádio. Turno de quatro horas por dia, enclausurado num estúdio acústico, separado por um vidro que dava para a técnica de som e outro para o corredor da rádio, onde curiosas ouvintes, que já me conheciam pela voz, iam bisbilhotar como eu era pessoalmente.
A rádio era ouvida em todo o Brasil. Sabia que meus pais me ouviam em à distância, sem que eu pudesse vê-los. Uma saudosa namoradinha também me ouvia em Maringá, enquanto eu curtia saudades. Longe dos pais, por quatro horas, solitário e entre quatro paredes, falava para ouvintes imaginários!… Muitas vezes trabalhei com lágrimas nos olhos, entoando na voz e na dicção uma falsa alegria, ao anunciar programas para cumprir horário… O consolo era ouvir as seleções musicais de uma época romântica em que não havia lixos eletrônicos do tipo “Ai se eu te pego”.
Locução que me confortava quando anunciava e ouvia o Roberto cantando “Detalhes”, o Altemar Dutra cantando “Foi Deus” ou a Wilma Bentivegna interpretando a versão brasileira de “Hino ao Amor”, de Edith Piaf. “Hino ao Amor” era o sucesso da época e calou fundo no coração de um locutor apaixonado. Até hoje guardo na lembrança a letra dessa música: / “Se o azul do céu escurecer / e a alegria da terra fenecer / não importa querida, viverei do nosso amor / Se tu és o sol dos dias meus / se os meus beijos sempre foram teus / não importa querida, o amargor das dores desta vida / Um punhado de estrelas / no infinito irei buscar e a teus pés esparramar / não importa os amigos, risos crenças e castigos / quero apenas te adorar / Se o destino então nos separar / se distante a morte te encontrar / não importa querida / porque eu morrerei também / Quando enfim a vida terminar / e do sonho nada mais restar / Num milagre supremo / Deus fará no Céu te encontrar”….
Apenas um exemplo de música de qualidade, contrapondo-se ao lixo eletrônico ouvido hoje em rádios, botecos e nos sons automotivos que infernizam as ruas.
Alcindo Garcia é Jornalista
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