HORÁRIO DE VERÃO

 

 

De novo estamos no Horário de Verão. Nos sítios e fazendas coisas engraçadas acontecem. Os galos cantam na hora errada. As galinhas sobem no poleiro fora de hora. Patos e marrecos não saem da água enquanto não escurece. Além dos galos, patos e marrecos, o novo fuso horário que altera os ponteiros, mexe também com o nosso relógio biológico. Prejudica o sono, tira o apetite e provoca uma pasmaceira danada. O Horário de Verão só pode ter nascido em alguma cidadezinha do interior. Imagino que um jovem delegado de polícia, recém-formado, teria chegado a pacata cidade para assumir seu posto. Foi morar no único hotel da cidade. Às seis horas da manhã acordou ao som da Ave-Maria, irradiado a todo volume pelo alto-falante da matriz. Reclamou e ficou sabendo que aquele programa matutino-religioso era tão antigo quanto à cidade e já fazia parte do cotidiano.

Indignado, o delegado reclamou do padre que passasse a transmitir a ave-maria a partir das sete horas de acordo com a Lei do Silêncio. O pároco informou à autoridade que mandasse a proibição por escrito, pois pretendia ler na missa das 10 horas do domingo, avisando aos fiéis das mudanças. Preocupado em não criar problemas com a população, que o recebera tão bem, o jovem delegado redigiu então a primeira portaria de sua carreira, com a brilhante idéia de alterar o fuso horário da Casa Paroquial. Determinou  que a ave-maria fosse transmitida uma hora mais tarde, ou seja, às 7 horas, nos termos do “Decreto-Lei Federal nº 3.688 da Lei das Contravenções Penais”.

 Solidários ao vigário, os habitantes da cidadezinha decidiram atrasar o relógio em uma hora, para continuarem ouvindo a Ave-Maria às seis horas, mesmo com o relógio da torre marcando sete. Mas como já dizia o Partido dos supostos Trabalhadores – o povo unido jamais será vencido – conseguiram remover o delegado para outra cidade.  O jovem delegado jamais imaginaria que ao lavrar sua primeira portaria, estaria criando o Horário de Verão, que um dia viraria decreto. De economia de energia não vejo nada. O que economiza à tarde gasta-se de manhã ainda escuro. Essa é a minha história. Quem souber que conte outra.

=============================================

(Alcindo Garcia é Jornalista) e-mail  alcindogarcia@uol.com.br