Horas após pedir renúncia, prefeito cancela ato: ‘Administrar está difícil’

 

Quatro horas após renunciar ao cargo nesta terça-feira (14), o prefeito de Santa Cruz do Rio Pardo (SP) Otacílio Parras (PSB) retrocedeu à decisão. Pressionado por vereadores da base aliada, ele decidiu continuar no cargo e protocolou um novo documento na Câmara dos Vereadores, às 17h30, pedindo a anulação da renúncia.

A medida do prefeito foi tomada em meio a investigação da polícia, que apura o desvio milionário dos cofres públicos. A ex-tesoureira da prefeitura, Sueli Feitosa, foi presa suspeita de desviar mais de R$ 7 milhões e uma sindicância interna apontou erros cometidos por funcionários que trabalhavam na Secretaria de Finanças.

O prefeito da cidade de aproximadamente 45 mil habitantes diz que a decisão foi tomada após desanimar com os problemas da administração. “A decisão foi tomada por cansaço mental, administrar está muito difícil com todos os problemas que aconteceram nos últimos tempos. Várias vezes eu pensei em até não me candidatar. Mas a administração foi aprovada pela população. Você vai cansando e chega uma hora que bate um desânimo, mas depois você vê as manifestações nas redes sociais, dos vereadores, 12 apoiando, eles me convenceram.”

De acordo com o assessor parlamentar da Câmara, José Eduardo Catalan, o prefeito, que foi reeleito em 2016 com 77,21% dos votos, protocolou um pedido de renúncia na Câmara e ao oficializar a petição formaliza o ato. O vice, Benedito Batista Ribeiro (PSB), deveria assumir ao cargo na primeira reunião da Câmara, mas também ajudou a convencer o prefeito a retroceder na decisão.

Otacílio afirma que é possível retirar a renúncia porque não houve a primeira sessão da Câmara que declararia vago o cargo, segundo o prefeito. Os vereadores aprovaram o pedido de anulação, que será apresentado na próxima sessão da Câmara na segunda-feira (20). Nesta semana, o vice assume como prefeito interino.

Ex-funcionária da prefeitura é suspeita de desvio de verbas (Foto: Reprodução/TV TEM)Ex-funcionária da prefeitura é suspeita de desvio
de verbas (Foto: Reprodução/TV TEM)

Desvios milionários
Nesta semana, a prefeitura divulgou o resultado de uma sindicância interna que apurou os responsáveis pelos desvios milionários descobertos no final do ano passado. O relatório aponta erros cometidos por funcionários que trabalhavam na Secretaria de Finanças.

A ex-tesoureira Sueli Feitosa, suspeita de desviar mais de R$ 7 milhões dos cofres públicos, está presa e foi indiciada por peculato, falsificação de documentos públicos, associação criminosa, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro.

Segundo relatório, o diretor de contabilidade Emerson Diniz teria sido negligente porque não fiscalizou a tesouraria da prefeitura onde trabalhava Sueli Feitosa. Ele também autorizou uma transferência ilegal feita pela funcionária de uma conta de iluminação pública do município para outra conta. O relatório pede que Emerson seja suspenso por 30 dias sem remuneração, o que ainda será decidido em um processo administrativo.

O ex-secretário de finanças Armando Cunha foi negligente, de acordo com relatório, porque não observou seus subordinados e não fiscalizou como deveria as contas da prefeitura. O relatório fala que ele deveria observar os extratos bancários, quando só observava o controle interno da prefeitura.

O advogado de Armando informou que ele recebia relatórios já adulterados por Sueli Feitosa. Ele ainda disse que membros da comissão de sindicância que deveriam fiscalizar Sueli Feitosa não foram citados nesse relatório final. Emerson foi procurado, mas não quis comentar sobre o caso. O advogado de Sueli não retornou o contato feito pela produção da TV TEM.

O cunhado de Sueli, Adilson Gomes também está preso suspeito de participação nos desvios.Três irmãs da ex-funcionária foram indiciadas pela polícia. Silvia Regina Feitosa, Camila Pereira do Sacramento e Aparecida de Fátima Feitosa Moura foram indiciadas por falsidade ideológica, associação criminosa e lavagem de dinheiro. A mãe de Sueli Feitosa, Maria da Conceição, de 70 anos, também foi indiciada pelos mesmos crimes.

Segundo o inquérito, existem provas de que elas tiveram participação nos desvios de dinheiro feitos pela ex-tesoureira da prefeitura de Santa Cruz do Rio Pardo. Ainda de acordo com a investigação da polícia, os nomes das irmãs de Sueli Feitosa eram usados pela ex-tesoureira para comprar casas e terrenos.

* Com informações de Romeu Neto/TV TEM.

Relatório apontou erro de funcionários (Foto: Reprodução/TV TEM)Relatório apontou erro de funcionários (Foto: Reprodução/TV TEM)