Mãe de psicóloga morta em racha desabafa após prisão de motorista: ‘Todo dia é uma saudade’

A dona de casa Eliane Camoleze Augusto, mãe da psicóloga Maria Flavia Camoleze, de 26 anos e que morreu durante uma disputa de racha em Assis (SP), desabafou após a prisão do motorista que dirigia o carro. Em entrevista à TV TEM, ela disse que sempre acreditou na Justiça, mas que nada poderá trazer a caçula de volta.

“Todo dia é uma saudade. Você vê alguma coisa dela que ficou, a lembrança que ficou, o barulho de uma moto, tudo. Isso não vai passar nunca. Doí muito. Isso nunca vai morrer no nosso coração, nem dos irmãos e da família. Ela era a minha caçula, a minha Maria, ela era tudo. Ele [o motorista] está ai, etá vivo. A minha Maria está debaixo da terra”, afirma Eliane.

O dentista de 24 anos foi acusado de homicídio doloso e preso nesta terça-feira (18), depois que o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) aceitou o recurso do Ministério Público.

Anteriormente, a Justiça havia negado o pedido de prisão feito pelo MP e pela Polícia Civil e estabelecido apenas medidas cautelares contra o suspeito.

No dia em que o TJ negou o pedido de prisão, o pai da psicóloga José Augusto, que é advogado, disse em entrevista ao G1 que a decisão dava margem para que outros casos como esse acontecessem na sociedade.

“Na ocasião [quando a prisão foi negada], eu disse que como advogado não tinha nenhuma surpresa, mas que era ruim negar a prisão nesse momento, porque a sociedade iria entender que esse tipo de crime não dá em nada”, diz o pai da vítima.

E acrescentou: “isso é muito ruim diante da situação como ocorreu o crime. Mas eu aguardava que a justiça iria ser feita. Eu disse que sempre acreditei na Justiça e depende de quem promove essa justiça. Aqui eu quero reconhecer todo o trabalho de investigação da Polícia Civil e o trabalho do delegado e do promotor.”

O acidente aconteceu na madrugada do dia 1º de maio e, segundo as investigações, Murilo estava embriagado e participava de um racha por quase 1 km antes de perder o controle do carro e bater em uma clínica dentária em uma praça da Avenida Rui Barbosa. Maria Flávia estava no banco de passageiro do veículo.

Segundo os pais da psicóloga, Maria Flávia tinha se mudado para Assis recentemente por causa do serviço. O motivo maior era evitar o risco de acidente ao pegar estrada à noite.
“Como atendia as vezes os pacientes até tarde da noite, na preocupação de voltar de moto para Cândido Mota, a fim de evitar acidentes, porque ela tinha medo disso, ela decidiu dividir um apartamento com uma amiga em Assis”, conta José.

O pai disse ainda que a prisão do dentista que causou o acidente de certa forma ajuda a família a enfrentar esse momento de perda.

“Cada dia que passa é um sentimento que a gente tem. É lógico que a gente sabendo que a Justiça está sendo cumprida, isso nos ajuda a enfrentar esse momento. Nós queremos que a morte da Maria Flavia, nossa filha, sirva de exemplo para que a sociedade viva de uma forma melhor e evite casos nesse sentido”, explica.

“Nós sempre acreditamos na Justiça. Todo mundo diz que a Justiça é falha, mas ela não é falha. Tudo no seu tempo. Tanto a justiça divina como a dos homens”, completa a mãe.

Decisão da Justiça

De acordo com a decisão da Justiça, que expediu o mandado de prisão contra Murilo, “a liberdade do réu consiste em considerável incremento para graves crimes de trânsito, tais como as disputas ilegais denominadas ‘racha’, de modo que, ao deixar de decretar a prisão preventiva do agente, o Magistrado o eximiu da sua responsabilização pelo resultado morte da passageira”.

Depois da decisão, o mandado de prisão preventiva foi emitido pelo cartório e chegou à Polícia Civil, que foi até Cândido Mota (SP), onde o dentista mora, e cumpriu o mandado. Ele foi levado à Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Assis e depois à cadeia de Lutécia.

Murilo foi indiciado por homicídio doloso, por ter assumido o risco de matar, embriaguez ao volante e disputa não autorizada no trânsito. O outro motorista envolvido na disputa de racha também foi ouvido pela polícia e indiciado por disputa não autorizada no trânsito e omissão de socorro.

O adolescente que estava com ele no carro também será investigado pelo ato infracional de omissão de socorro, mas o juiz decretou algumas medidas cautelares, e os dois não foram detidos.

Depois do acidente, Murilo chegou a ser preso em flagrante por apresentar sinais de embriaguez, mas foi liberado após pagamento de fiança no valor de R$7,7 mil.

Imagens de circuito de segurança mostram o dentista em um bar antes da batida e, segundo a polícia, Murilo ingeriu bebida alcoólica em três estabelecimentos antes de dirigir. Fonte G1