Mais dois internos da Fundação Casa são recapturados após rebelião

 

A Polícia Civil de Marília (SP) recapturou na segunda-feira (24) dois adolescentes foragidos da Fundação Casa desde a rebelião na unidade de Marília no último dia 4 de outubro quando um agente socioeducativo morreu. Dezoito internos fugiram e onze foram recapturados na mesma semana. Cinco internos ainda estão foragidos, entre eles Daniel Vicente Silva de Souza de 18 anos, que está com prisão preventiva decretada.

Segundo a corregedoria da Fundação Casa, oito pessoas foram feitas reféns durante a rebelião que começou em um culto religioso, entre elas cinco agentes e três voluntários. De acordo com a instituição, os internos seguraram o agente que tentou impedir a fuga. O agente Francisco Carlos Calixto de 51 anos foi morto com um cabo de vassoura no pescoço e outros três agentes ficaram feridos.

Um dos foragidos de 15 anos foi recapturado em uma casa na Rua Antônio Costa Ramos, onde policiais da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise) realizavam busca domiciliar. O outro menor de 17 anos foi detido pela equipe da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) em um apartamento na Rua Mário Bataiola. Nos dois casos não houve qualquer reação, sendo os dois adolescentes encaminhados para a cadeia de Pompeia. Eles aguardam a transferência para uma unidade da Fundação Casa.

Prisão preventiva
A Justiça decretou a prisão preventiva de três internos da Fundação Casa, envolvidos na rebelião.  Os três internos que tem 18 anos foram indiciados por tentativa de homicídio, associação criminosa, danos ao patrimônio público, motim e corrupção de menores. Johnatan Henrique Nogueira Dias e Mateus Rodrigo Bernardo Ramos, foram levados para a penitenciária de Marília. Daniel Vicente Silva de Souza está foragido.

Um menor de 17 anos foi identificado como o autor do crime. Ele teria introduzido um cabo de vassoura na garganta da vítima, provocando a morte. O menor confessou em um vídeo gravado para a polícia que o grupo não pensou em matar o agente (veja acima).

“Não era intenção de matar ele não”, afirma o adolescente.  Segundo as investigações, o adolescente estava há um ano e meio na Fundação Casa cumprindo medida socioeducativa por roubo. No dia 11 de outubro, ele faz 18 anos, portanto, no dia crime faltavam 8 dias para ele completar a maioridade.

Motim
De acordo com o delegado Valdir Tramontini, três voluntários que faziam o culto religioso e cinco funcionários do local foram feito reféns. Um deles foi ferido no ouvido com uma caneta e o agente Francisco Calixto, de 51 anos, foi morto por cinco jovens após ser agredido violentamente por um cabo de vassoura.

“Infelizmente um funcionário foi morto com uma brutalidade terrível. As informações iniciais constam que os menores o seguravam, um teria introduzido um cabo de vassoura em sua garganta, provocando a sua morte”, explica o delegado.

A polícia deixou a sede da Fundação Casa durante a madrugada desta quarta-feira (5) e a segurança do local foi retomada por agentes socioeducativos.

Em nota, a Fundação Casa informou que “os jovens envolvidos na fuga que permaneceram no centro e os que forem recapturados passarão por uma Comissão de Avaliação Disciplinar (CAD), que vai determinar as possíveis sanções. O Judiciário e familiares dos jovens serão informados da ocorrência.” A instituição informou ainda que vai prestar total apoio e solidariedade à família do agente morto durante a rebelião.

O agente socioeducativo completou 51 anos na terça-feira, mesmo dia que o motim foi deflagrado. Ele foi rendido e agredido por quatro internos com um cabo de vassoura quando tentava impedir a fuga dos menores, que se rebelaram por volta das 21h. Quando a tropa de choque da polícia chegou o conflito já estava controlado, mas 18 internos fugiram. Oito já foram recapturados.

O agente, que era conhecido pelos amigos como Chiquinho, trabalhava há 15 anos na Fundação Casa. Familiares e amigos divulgaram mensagens de homenagem ao agente nas redes sociais. Em uma das mensagens, a nora de Francisco comenta o fato da morte dele ter acontecido no mesmo dia que ele fazia aniversário.

Investigação
A defensoria pública visitou a unidade e vai acompanhar a situação. Atualmente a unidade de Marília tem capacidade para 101 jovens, mas abrigava 108.

“Nesse caso são várias frentes. A defensoria vai prestar uma assistência se necessário à família dessas vítimas até avaliando a possibilidade de uma indenização contra o Estado. Tem a frente da defesa da tutela, dos interesses dos adolescentes pelos defensores da área da infância e os defensores na área criminal na defesa dos eventuais maiores de idade envolvidos. Então são várias frentes”, diz o coordenador regional da defensoria Bruno Bortolucci Baghim.

A corregedoria da Fundação Casa abriu uma sindicância para apurar a morte do agente socioeducativo e a fuga de dezoito internos durante a rebelião. A corregedoria também quer saber como os internos conseguiram uma caneta e um cabo de vassoura usados para ferir outros funcionários e matar o agente.

O delegado seccional de Marília, Wilson Frazão acrescentou que todos os internos rebelados responderão pelo motim e por lesão corporal. O maior de 18 anos envolvido diretamente na morte do agente penitenciário vai responder por homicídio doloso por meio cruel. Os outros quatro adolescentes que participaram do crime ficam à disposição da vara da infância e da juventude.

Família de Francisco publicou nas redes sociais mensagem para agente (Foto: Reprodução/Facebook/Flaviane Soares)Família de Francisco publicou nas redes sociais mensagem para agente (Foto: Reprodução/Facebook/Flaviane Soares)