Médico Nemi Sabeh é investigado por furar fila para vacinar família
O MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) instaurou um inquérito civil para apurar se o coordenador médico da seleção brasileira feminina de futebol, Nemi Sabeh, registrou ilegalmente seus familiares como funcionários de uma de suas clínicas para furar fila na vacinação contra covid-19.
O caso foi apontado, inicialmente, em 9 de abril, por um vereador da Câmara Municipal de Assis, cidade do interior paulista que fica a cerca de 440 km de São Paulo e onde está localizada a clínica de Nemi Sabeh.
Na última sexta-feira, o 6º promotor do município, Sérgio Campanharo, recebeu a representação do vereador e abriu o inquérito para “apurar possível favorecimento indevido na Clínica ON Body Evolution, por ocasião da vacinação para o vírus Sars-Cov-2″.
As investigações buscam comprovar se os pais do médico da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Nami Sabeh e Neide Maria Costa Sabeh, e o irmão dele, Rodrigo Sabeh, realmente trabalham na unidade de saúde que Nemi é dono juntamente com sua mulher, Marta Marques Quaggio Sabeh.
De acordo com o cronograma de vacinação do Estado de São Paulo, o início da imunização de trabalhadores da saúde se deu em 17 de janeiro. Caso os pais de Nemi fossem esperar para serem vacinados pela idade, o pai, que tem 69 anos, poderia ter recebido a primeira dose da vacina em 26 de março, e a mãe dele, que é um ano mais nova, em 2 de abril.
De acordo com a Portaria 01 emitida pela SMS (Secretaria Municipal de Saúde) de Assis em 22 de janeiro deste ano, “o responsável por cada unidade de saúde deverá informar de forma precisa, sob penas da lei, a exata quantidade de servidores (funcionários) a serem imunizados”. Isso significa que a clínica recebe o tanto que informar ser necessário.
Atendendo a um pedido de explicação do vereador, um documento da Prefeitura de Assis, assinado pela secretária de Saúde, Cristiani Silvério Bussinati, e pelo secretário adjunto da pasta, Roque Vinícius Dias, diz que a clínica de Nemi enviou “uma lista prévia de seus profissionais, assumindo total responsabilidade pela veracidade das informações prestadas”.
Portanto, a prefeitura teria apenas seguido o procedimento de acreditar nas informações passadas pela unidade de saúde sobre quem deveria ser vacinado. “De posse dessa lista, a secretaria agendou o local e data da imunização”, e então os familiares do médico da CBF receberam a vacina.
Rodrigo, Nami e Neide foram listados para Secretaria Municipal de Saúde de Assis como diretores da unidade. Segundo o documento enviado à pasta, o irmão de Nemi é diretor de vendas, enquanto os pais constam como diretores administrativos da clínica.
O que não fica claro com as explicações da Secretaria Municipal da Saúde é em qual empresa pertencente a Nemi que os familiares seriam funcionários, pois há divergências nos documentos enviados pela pasta à Câmara Municipal, no dia 20 de abril.
Para prestar esclarecimento aos vereadores, a SMS disponibilizou a comunicação feita entre a clínica e a secretaria. Em um e-mail enviado pela unidade de saúde à coordenadora de Vigilância Epidemiológica de Assis, Nilsa Correa Lourenço Leite, no dia 8 de fevereiro, consta uma lista com nomes de funcionários da Clínica ON Body Evolution que deveriam ser vacinados.
No entanto, a secretaria enviou o comprovante de inscrição e de situação cadastral de outra unidade de saúde, a Clínica de Ortopedia e Traumatologia Higienópolis, que também é de Nemi.
Além dos pais e do irmão do coordenador médico da seleção feminina, a clínica enviou outros 13 nomes de pessoas que seriam funcionários da ON Body Evolution e que deveriam receber a vacina contra covid-19, incluindo a mulher dele e sócia da clínica, Marta. O próprio médico da CBF, no entanto, não consta na lista.
O que chama atenção é que os familiares de Nemi não têm ligação com a área de saúde no município, segundo o vereador Fernando Sirchia (PDT), que participa da comissão da Câmara Municipal que apura o caso. Isso, inclusive, é o principal motivo para que fossem iniciadas as apurações.
O pai do médico da CBF, Nami, é empresário e sócio de diversas empresas, além de presidir a Acia (Associação Comercial e Industrial de Assis). Já o irmão do médico da seleção, Rodrigo, é dono da loja de vestuários e acessórios World Style, que atua desde 2010 com loja física no município e, em 2015, iniciou o comércio online.
Rodrigo também é proprietário da World Sports, uma loja de artigos esportivos do município que, nas redes sociais, diz que existe desde 1995, no entanto, a situação cadastral junto à Receita Federal indica que a empresa foi aberta em 2002. Nesta empresa, a mãe de Nemi consta como sócia, juntamente com irmão.
Neide aparece ainda como sócia em outras cinco empresas: NRJ Empreendimento Imobiliários, Hebas Administração, Hebas Holding, CVN Empreendimentos e Residencial Buriti Empreendimentos, conforme consulta feita pela reportagem.
O vereador Sirchia afirma que vai trabalhar para que “as condutas sejam investigadas, os culpados punidos e a justiça seja feita”. “Em março, perdemos 84 assisenses, mais do que em todo 2020. Já são quase 250 mortos. Em meio a toda essa catástrofe, furar a fila é sujar as mãos de sangue”, disse o parlamentar.
Médico da seleção esteve no time no Rio 2016
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Além da atuação empresarial dele e da família em Assis, o médico da CBF é sobrinho do vice-prefeito do município, Aref Sabeh (PSDB), que também entrou na mira do Ministério Público por causa da vacinação. O político, que tem 77 anos, foi vacinado pela Santa Casa de Assis, por fazer parte do Conselho Deliberativo da Instituição.
Nemi se formou na Faculdade de Medicina do Oeste Paulista, em Presidente Prudente, no ano de 2001. Ele tem como áreas de especialidades a medicina esportiva (que desenvolve na seleção brasileira) e ortopedia e traumatologia (que são as atividades das clínicas).
No currículo dele tem a atuação como médico assistente do futebol do Corinthians, e como coordenador médico das categorias sub 17, sub 20 e principal da seleção brasileira de futebol feminino.
A bagagem profissional de Nemi tem a participação nos títulos da seleção brasileira na Copa América de Futebol Feminino no Equador, em 2016, e no Chile, em 2018, além das participações na Copa do Mundo de Futebol Feminino no Canadá, em 2015, e dos Jogos Olímpicos Rio 2016.
O médico também é membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, da Sociedade Brasileira de Ombro e Cotovelo, da Sociedade Brasileira de Artroscopia, da American Academy of Orthopaedic Surgeons, da American Sports Medicine e da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte.
O R7 entrou em contato com a Clínica ON Body Evolution, e com o médico Nemi Sabeh, em busca de um posicionamento em nome dele e da família, e para solicitar mais informações sobre o registro dos funcionários da unidade de saúde na lista de vacinação.
Em contato telefônico, a assessoria da clínica disse que a portaria municipal prevê vacinação de todos que trabalham em unidades de saúde e afirmou que os pais de Nemi atuam, de fato, na unidade da ON Body Evolution de Assis.
Ainda segundo a assessoria, o próprio Nemi e a mulher dele, Marta, não receberam a vacina em Assis porque atuam na unidade da clínica na cidade de São Paulo. O nome de Marta, no entanto, consta na lista enviada para a Secretaria da Saúde.
O advogado Felipe Pescada, que defende a clínica, afirma também que quem é investigada pelo Ministério Público é a ON Body Evolution, como empresa, e não a pessoa de Nemi Sabeh, dono da clínica. Ele diz que o caso “está sendo esclarecido no Inquérito Civil patrocinado pelo MP-SP”.
A Confederação Brasileira de Futebol também foi procurada para saber se tem conhecimento do inquérito instaurado pelo Ministério Público do Estado de São Paulo e quais devem ser os procedimentos adotados pela entidade a partir do momento que tomar conhecimento das investigações, mas também não houve retorno até esta publicação. Fonte: https://esportes.r7.com/