Médico toca músicas favoritas de pacientes internados com Covid em Jaú: ‘Arte é amor, tratamento e cura’

O médico Rafael Abreu tem transformado a rotina dentro do Centro de Combate à Covid do Hospital Amaral Carvalho em Jaú (SP). É porque, além de se dedicar aos cuidados com cada paciente, ele também é músico e leva o violão para dentro da unidade, proporcionando mais alegria aos pacientes que estão internados com Covid-19.

O Centro de Combate à Covid recebe pacientes com quadros mais moderados da doença e que necessitam de internação em leitos com suporte ventilatório. As músicas tocadas pelo médico são escolhidas por Rafael e geralmente estão descritas no “prontuário afetivo” de cada paciente.

Recentemente, o hospital adotou essa iniciativa para estreitar a relação entre os profissionais e as pessoas internadas. Normalmente, o prontuário padrão traz informações do estado clínico do paciente, mas a nova ideia reúne dados pessoais, sonhos e desejos das pessoas que precisam de internação.

“O ‘prontuário afetivo’ quebra uma barreira muito grande, porque temos a oportunidade de conhecer melhor o paciente, para além do nome e a idade. É muito legal ver quais os maiores sonhos das pessoas, o que gostam de ouvir, qual a comida favorita, entre outros assuntos. Conseguimos enxergar a pessoa de verdade”, diz o médico.

Segundo a responsável pelo serviço social do hospital, Vanessa de Moraes, as informações desse novo modelo de prontuário ficam bem visíveis e podem ser utilizadas pelos profissionais da saúde para interagir mais com os pacientes. Além disso, as reações dos internados demonstram que esse processo de humanização tem sido uma saída para melhorar o tratamento.

Em um dos casos, um idoso que estava internado foi questionado sobre seu maior sonho e respondeu que já tinha realizado todos os sonhos da vida, como ter uma família, por exemplo.

“Achei isso muito lindo, porque a gente sempre quer mais e ele diz que já realizou todos os sonhos e ainda assim tem muita força para viver. Afinal, quer continuar vivendo o sonho já realizado”, explica o médico.

A música dentro do hospital

A ideia de envolver a música na rotina do hospital começou com o desejo do Rafael de transformar o ambiente, que normalmente gera medo e ansiedade.

“Eu pedi autorização para a direção do hospital e, quando eles autorizaram, eu já estava com o violão no carro por coincidência e já comecei na hora. Agora, toda terça-feira à tarde, estou lá tocando as músicas e os pacientes reagem muito bem, conversam e interagem mais. Um dia, uma paciente até pediu para a enfermeira me chamar para tocar uma música para ela, pois estava se sentindo triste. Isso aquece meu coração”, declara.

A rotina do médico dentro do hospital de campanha começa às 7h, e são atendidos cerca de 10 a 15 pacientes por dia. Rafael revisa prontuários, faz os exames e visita os internados.

“Mas, durante a tarde, é a chance que tenho de passar de leito em leito e conversar com eles, tentar trazer um pouco de alegria, relembrar a vivência do mundo de fora, já que eles estão isolados. Com a música, tento levar conforto em um momento tão difícil”, explica o médico.

Cada melodia que sai das cordas do violão tem chegado aos corações dos pacientes e gerado diferentes sensações até mesmo nos funcionários da limpeza, enfermeiras e outros profissionais que trabalham na unidade.

“O que eu tento levar são músicas que me geram emoções também, que me trazem sentimentos bons, para eu poder transmitir isso aos pacientes. Todos lá sentem alegria, tristeza, cansaço, desânimo, então, quanto mais a gente puder humanizar o atendimento, a nossa relação será sempre melhor”, conta Rafael.

O médico e o músico

Rafael é formado em medicina há cerca de quatro anos e, em 2021, decidiu que era o momento de trabalhar na linha de frente de combate à Covid-19. Atualmente, ele mora em Brotas (SP) com a filha e a esposa e se sente alegre em poder ajudar nessa fase mais complicada da pandemia dentro de um hospital de campanha.

Já a música sempre foi um hobby. Desde pequeno, Rafael fazia aulas de música, violão e guitarra. Agora, conseguiu unir duas grandes paixões: a medicina e a música.

Ele busca exercitar a profissão de forma mais humanizada e conquistar mais qualidade de vida para ele, a família e todos aqueles que são atendidos diariamente nos locais que trabalha. Inclusive, pelas redes sociais, o médico busca levar mensagens mais positivas e descontraídas para encarar a vida de uma forma mais leve, apesar das dificuldades.

Mais do que simplesmente ter um momento de distração, a música no ambiente hospitalar ajuda no tratamento dos pacientes, já que o lado emocional tende a ficar mais abalado durante a internação. O médico explica que as melodias ajudam a controlar a frequência cardíaca, a respiração e o psicológico.

“Arte é amor, tratamento e cura sempre. Ali dentro são pessoas cuidando de outras pessoas. Um paciente olhou para mim outro dia e falou: ‘eu nunca mais vou me esquecer disso, foi um momento muito importante para mim na minha vida’. E eu não faço nada demais, é música, apenas música.”  Fonte G1