‘Meu fusquinha turbinado’: Por hobby, amante de carros gasta R$ 50 mil em restauração de fusca no interior de SP
Restauração de Fusca por morador de Bauru (SP) custou R$ 50 mil
— Foto: Arquivo Pessoal
Quanto custa um hobby? Para o delegado Richard Alberto Serrano, de Bauru, no Interior de SP, o valor pode ultrapassar mais de R$ 50 mil. No dia do automóvel, celebrado neste sábado (13), o delegado, que aproveita as poucas horas vagas para restaurar veículos antigos, comemora o resultado ao recuperar uma paixão nacional: o Fusca.
Ao lado de um grupo de amigos, Richard completou uma jornada de 10 meses desde a aquisição do veículo até a sua total restauração, dando vida ao seu “Fusca Xereta”, como foi apelidado o carro.
Para o trabalho de recuperação desse automóvel que já representou 70% da frota nacional na década de 1970, Richard combinou o visual tradicional do veterano da Volkswagen com peças originais e acessórios de outros carros. O interior recebeu novo acabamento e um motor potente. Ele hoje é capaz de chegar a 180 km/h.
“O Fusca Xereta é uma história longa. Ele pertenceu primeiro à irmã de uma madrinha. Ele foi comprado zero quilômetro. Ele passou por outras três pessoas. Quando decidi comprá-lo, ele já tinha mais de 40 anos de uso. Para restaurá-lo, foram precisos 10 meses. Tudo foi trocado nele”, revela.
Fusca Xereta recebeu peças originais e acessórios de outros carros
— Foto: Arquivo Pessoal
O resultado é um carro cheio de estilo, que traz à mente o charme automotivo da época. Richard estima ter gastado R$ 50 mil com o reparo do Fusca 76. O detalhe é que ele não é mecânico. “Aprendi sobre fusca pesquisando e trocando informações”, explica ele.
Para a tarefa, ele contou com ajuda amigos que embarcaram nessa viagem de reverência ao modelo que durante muito tempo foi o carro mais vendido do mundo.
“Para me ajudar, eu conto com três amigos, um é mecânico, o outro é funileiro e o terceiro é pintor. Eu acompanho o passo a passo, ponho a mão na massa, fizemos juntos esse processo”, conta.
Richard Alberto Serrano, de Bauru, contou com a ajuda de
amigos para restaurar Fusca — Foto: Arquivo Pessoal
Questionado sobre o valor investido, Richard deixa claro que a paixão não é mensurada pelo preço, mas sim pelo amor ao processo de restauração. “Fica caro? Sim, fica muito caro. Você pode multiplicar por 10 o custo da aquisição com o final para restaurá-lo”, pontua.
“Mas eu gosto muito de ver um carro chegando, completamente desmontado, ele sendo preparado, aquela sensação de ver o carro tomando forma, é um filho nosso que tá nascendo”, revela.
Fusca Xereta ganhou novo motor — Foto: Arquivo Pessoal
O “fusquinha turbinado” de Richard ganhou, inclusive, uma página nas redes sociais. É lá que ele exibe com orgulho o carro e todas as suas adaptações após a restauração. “Nem velho e nem idoso, só muito bem usado”, diz uma das postagens.
Ao lado da filha de 8 anos, Richard tenta passar o amor pelos automóveis à próxima geração. “Ela é a dona do fusca xereta”, afirma em uma publicação nas redes sociais. “A tua dona não te troca por passeio algum!”, pontua em outra postagem.
Richard ao lado da filha no Fusca Xereta — Foto: Arquivo Pessoal
“Foi um pedido dela que queria ter um fusca quando passou a me acompanhar durante as aulas sobre mecânica. Ela me via estudar e passou a gostar. Falou para termos um fusca para passear”, revela.
“O meu interesse por carro vem desde menino. Hoje, a gente tem acesso à informação de maneira muito mais fácil. Foi uma maneira (restaurar carros) que encontrei de ocupar o meu tempo livre, ainda mais por ser uma coisa que só depende de mim. Espero passar esse sentimento adiante”, complementa.
Fusca 76 foi totalmente restaurado em Bauru (SP)
— Foto: Arquivo Pessoal
E como hobby nunca tem fim, Richard continua em busca de novas jornadas. Desta vez, seu foco é uma Parati 91, com 99.000 quilômetros rodados. Após finalizado o processo de restauração, o veículo será leiloado e o valor revertido para ajudar o Hospital de Macatuba (SP).
Richard Serrano pretende finalizar a restauração da Parati 91
— Foto: Arquivo Pessoal
“A Parati tá dando mais trabalho, a complexidade de peças mecânicas e elétricas está dando mais trabalho do que o Fusca. Mas ela está na fase de finalização de acabamento e depois colocaremos o motor e a revisão. E essa Parati tem uma particularidade, vamos fazer uma ação social para ajudar o Hospital em Macatuba”, revela.
A paixão geralmente faz com que tomemos atitudes que contrariam a lógica. Mas neste caso, ela ajuda a preservar antigos amores e dar forma a novos caminhos a serem percorridos.
Parati 91 tem mais 90 mil km rodados — Foto: Arquivo Pessoal
Paixão Nacional
Poucos carros tiveram tanto sucesso no Brasil quanto o Fusca. Um dos principais símbolos nacionais, o carro foi desenvolvido na Alemanha por Ferdinand Porsche a pedido do ditador Adolf Hitler. O objetivo da criação do Fusca era ter o primeiro veículo acessível a todos financeiramente, além de servir como chamariz do governo.
As principais exigências do projeto eram: carregar dois adultos e três crianças; alcançar e manter a velocidade média de 100 km/h; ter consumo de combustível superior a 13 km/l; refrigeração e preço inferior a mil marcos imperiais.
Dia Nacional do Fusca é comemorado 20 de janeiro
— Foto: Vanessa Lima/G1 RR
Com todos os pedidos atendidos, em 1939 era lançado o primeiro modelo com um motor refrigerado a ar, sistema elétrico de seis volts e câmbio de quatro marchas.
O veículo só passou a ser montado no Brasil Em 1953. Mas, apenas seis anos depois, em 1959, foi quando as primeiras versões do veículo foram fabricadas com peças nacionais para ir ao mercado nacional e internacional.
Ao todo, foram três milhões de unidades emplacadas no país, suficiente para colocá-lo em terceiro no ranking dos mais vendidos nacionalmente. Já no mundo, estimativas apontam cerca de 24 milhões de unidades vendidas. Na Alemanha, a Volkswagen aposentou o fusca pela primeira vez em 1986.
Presidente Itamar Franco ao lado do Fusca 1993; presidente
sugeriu à Volkswagen voltar a produzir o modelo — Foto: Divulgação
No Brasil, entre idas e vindas, no dia 28 de junho de 1996, a fábrica de São Bernardo do Campo (SP) da Volkswagen produziu os últimos exemplares do besouro, quando o fusca foi finalmente descontinuado no país.