Padre de Bauru, excomungado por defender diversidade sexual, recebe ‘Oscar Gay’

 

padre que ficou conhecido por enfrentar os dogmas da igreja católica e ser excomungado pela Diocese de Bauru (SP) em abril de 2013 após divulgar vídeos na internet onde defendia temas polêmicos, como a união entre homossexuais, fidelidade e necessidade de mudanças na estrutura da instituição, recebeu um importante prêmio da comunidade LGBT nesta semana. Roberto Francisco Daniel, conhecido como Padre Beto, é um dos 27 vencedores do “Oscar Gay”, escolhidos pelo Grupo Gay da Bahia (GGB).

“Fico muito honrado em receber esse prêmio porque é um reconhecimento do pessoal da luta LGBT, quem luta pelas minorias, por uma sociedade mais justa, mais fraterna. Para um padre, mesmo que excomungado, faz uma diferença muito grande. Prova que a mentalidade da sociedade pode mudar”, comemora padre Beto.

O antropólogo e professor da Universidade Federal da Bahia Luiz Mott, Presidente do Grupo Gay da Bahia, disse em entrevista ao G1 que o prêmio tem o objetivo de aplaudir e estimular os simpatizantes e condenar e inibir os inimigos da cidadania LGBT. Ele diz que o padre Beto foi escolhido porque foi corajoso em criticar a postura homofóbica da igreja católica. “Para que ele sirva de exemplo como outros padres que criticaram o racismo, o ceticismo e a igreja teve que mudar.”

O prêmio é uma tradição que já dura 26 anos e entrega aos vencedores o troféu Triângulo Rosa, que faz referência ao símbolo que marcava os homossexuais durante o regime nazista. Entre as personalidades, instituições e organizações que foram premiadas estão, além do padre Beto, mais dois religiosos – o Padre Fábio de Mello, que posou em uma foto ao lado de uma travesti, defendendo a aceitação das pessoas independente da orientação sexual, e Dom Fernando Púgiles, que celebrou uma cerimônia de matrimônio de um casal gay (Confira abaixo todos os vencedores).

O padre excomungado acredita que a escolha seja uma forma da sociedade LGBT forçar a igreja a olhar para as minorias. “É uma influência importante na sociedade. Acho que é um apoio para que a igreja reflita sua doutrina moral. É de muita importância que eles tenham recebido esse prêmio. Veio em uma hora ótima, que faz com que a igreja reveja seus conceitos”, diz o padre.

Com um discurso de aceitação da diversidade muito próximo ao do Padre Fábio, Roberto Francisco acredita que não tenha sido esse o motivo da sua excomunhão. “Eu vivo em uma realidade muito diferente do padre Fábio. Ele tem uma expressão muito grande, acredito que a igreja não faria nada com ele. Eu não era conhecido nacionalmente. Se fosse atualmente não sei se mudaria, porque aqui no interior a sociedade continua preconceituosa. Muitos movimentos ainda são muito moralistas e seguem as doutrinas”, explica o padre.

Padre Beto atualmente trabalha como professor universitário e criou uma igreja. Ele também já realizou 12 casamentos gays, além dos casamentos héteros que continuou fazendo após a excomunhão. “A gente recebe críticas, preconceito, mas eu relevo, agora a gente é mais livre para amar o próximo. Felicidade é quando você olha para você e o que você faz tem sentido, tem significado. E hoje eu sou uma pessoa feliz.” Fonte G1

Padre Beto diz estar mais livre para amar ao próximo atualmente (Foto: Rede Globo)

Padre Beto diz estar mais livre para amar ao próximo atualmente (Foto: Rede Globo)