Pai de bebê que morreu após ser esquecido em carro diz que contratou cuidadora após indicação de amigo: ‘Nunca tivemos do que reclamar’
O pai do pequeno Arthur Oliveira dos Santos, de 2 anos, que morreu nesta quarta-feira (25) após ser esquecido pela cuidadora dentro do carro por mais de 3 horas, em Bauru (SP), conta que a decisão de deixar o filho aos cuidados da mulher, que foi indicada por um amigo, foi tomada pela necessidade do casal precisar trabalhar devido à crise econômica causada pela pandemia.
Fabrício Lucas dos Santos explica que o casal planejava que Karina Oliveira de Souza dos Santos, mãe do menino e operadora de telesserviços, trabalhasse apenas quando Arthur fosse para a escola, mas não foi possível esperar já que a família precisou complementar a renda.
“A gente deixava ele lá por conta do trabalho. Eu e minha esposa. A minha ideia mesmo era que depois que ele começasse a ir pra escola, minha esposa voltaria a trabalhar, mas as coisas não iam muito bem financeiramente com o aumento de tudo por causa da pandemia e minha esposa precisou trabalhar antes do previsto”, diz.
Segundo Fabrício, que é auxiliar de produção, a indicação da cuidadora Glaucia Aparecida Luiz foi feita por um amigo do trabalho e outras pessoas que também deixavam os filhos com ela e deram boas referências.
O pai diz ainda que durante o período em que o filho vinha sendo cuidado por Glaucia nunca houve nenhum problema. A opção por deixar a criança com a cuidadora também foi necessária porque os parentes do casal são de Macatuba (SP) e eles vivem sozinhos em Bauru.
“Foi indicação de um amigo meu que trabalhava comigo, de pessoas que deixavam os filhos com ela de até mesmo 6 meses de idade. O Arthur nunca chegou sujo, com fome, sempre limpo e bem alimentado. Nós nunca tivemos do que reclamar”, diz.
No entanto, apesar de deixar claro que acreditava que Arthur vinha sendo bem assistido pela babá, o pai destaca que após saber que Glaucia havia mentido para ele e também no depoimento, dizendo que havia esquecido seu filho por apenas 15 minutos, o sentimento de dor da família também se transformou em revolta.
“Ela falou pra mim que deixou o carro lá, com o bebê e o vidro um pouco aberto. Ela disse que entrou para dentro para trocar duas crianças e quando voltou depois de 15 minutos ele estava desmaiado.”
“Até ontem eu achava que era isso que teria acontecido, mas depois, quando eu vi a verdade na mídia, isso mudou completamente. É uma coisa que eu não sei o que falar, não sei o porquê ela fez isso. Ela dizia que gostava tanto dele e que onde ela ia, ele ia atrás, mas como ela esqueceu o Arthur por tanto tempo?”, questiona o pai.
A criança estava sob os cuidados de Glaucia havia cerca de 10 meses e Fabrício comenta que o filho já chegou até a chorar por algumas vezes quando os pais pegavam ele depois do trabalho. Mas diante da negligência da cuidadora e da dor enfrentada pela família, o pai diz apenas que quer justiça.
“Eu fico triste, triste mesmo. Seria melhor ela ter falado a verdade, dito que esqueceu. A gente fica um pouco revoltado porque era uma coisa que poderia ser evitada. A Justiça está aí, e esperamos que ela pague pelos atos dela conforme a justiça julgar. Se eu for lá bater, xingar, nada disso vai trazer meu filho de volta, eu entrego nas mãos de Deus, porque Deus é justo.”
Diante da perda irreparável e do trauma vivido por Fabrício e Karina, o auxiliar diz que a família espera que com a ajuda do tempo e da fé seja possível lidar com a saudade do filho único e superar a perda.
Karina ficará com a família em Macatuba, onde foi realizado o enterro da criança na quinta-feira (26), já que ela está muito abalada e não tem condições de retornar ao trabalho.
“Por mais duro que seja a vida da gente não pode parar. Vai bater saudade todo dia, de quando eu chegava do serviço e ele vinha correndo. Minha esposa vai ficar por um tempo em Macatuba e quando ela estiver melhor, ela vai para Bauru de novo e devagarinho com a ajuda de Deus a gente vai vencendo o dia a dia”, diz Fabrício.
Investigação
A cuidadora foi presa por homicídio com dolo eventual. Ela teve sua prisão em flagrante convertida em preventiva pela Justiça durante audiência de custódia realizada na tarde desta quinta-feira (26). A defesa informou que entrará com pedido de liberdade provisória, pois “nunca houve a intenção de ocasionar tal resultado”.
Glaucia declarou que havia esquecido Arthur por cerca de 15 minutos. Mas a gravação mostra que, às 16h22, Glaucia saiu da casa para colocar o lixo na lixeira e passou ao lado do veículo. Ela, porém, não teria notado que a criança estava lá (veja vídeo acima).
Somente às 16h51 é que a mulher abriu a porta do veículo para guardar algo, segundo a polícia. Nesse momento, a cuidadora percebeu que Arthur estava desacordado no banco de trás.
Ela pegou o menino no colo e entrou em casa. Minutos depois, saiu correndo com ele para levá-lo à Unidade de Pronto Atendimento do Geisel. A criança já teria chegado sem vida ao local. De acordo com a equipe que fez o atendimento, Arthur tinha sinais de desidratação, sufocamento e maxilar rígido.
O boletim de ocorrência informou que Glaucia entrou em contato com os pais do menino para dizer que ele estava sendo atendido na UPA. A mãe disse aos policiais que só ao chegar à unidade é que ficou sabendo que o filho havia morrido.
Segundo o delegado Eduardo Herrera, que está interinamente à frente da DDM, a polícia aguarda o laudo necroscópico do Instituto Médico Legal (IML) e o laudo da perícia para definir os rumos da investigação, que vai buscar ouvir outros envolvidos no caso. Nesta quinta-feira, a polícia ouviu o depoimento da mãe do bebê.
Creche irregular
Sobre a suspeita de que funcionaria uma creche irregular na casa de Glaucia, o delegado Mário Henrique de Oliveira afirmou:
“Ela tem um estabelecimento clandestino onde ela e a filha cuidam de mais de 10, 12 crianças. Ela leva essas crianças para lá e para cá, não tem uma estrutura. E outra: ela esqueceu essa criança no carro e ela não notou a falta da criança dentro da casa.”
Ainda conforme o delegado, houve falta de cuidados por parte da mulher, por isso o caso é investigado como homicídio com dolo eventual.
“Ela dá café, lanche e tem a hora do soninho, ou seja, uma série de atividades. Então, foi de uma falta de cuidado, de uma irresponsabilidade que supera a simples negligência, o simples descuido.”
A defesa da cuidadora disse ainda que ela não teve a intenção de provocar a morte do menino.
“Glaucia e a família vêm colaborando veemente com as investigações, afim de esclarecer os fatos, até porque Glaucia não teve a intenção de levar a criança a óbito, tampouco de machucá-la. A defesa repassa as condolências e mais sinceros pêsames de Glaucia e sua família para os familiares do menino Arthur”, afirma o comunicado. Fonte G1