Pelé, as histórias da infância em Bauru até a ida para o estrelato no Santos
Nascido em 3 Corações, Minas Gerais, Pelé veio a Bauru em setembro de 1944, quando o ferroviário João Ramos do Nascimento, seu pai Dondinho, veio à Sem Limites como reforço para o time do Lusitana (depois Bauru Atlético Clube – BAC). Em Bauru, o rei do futebol teve infância pobre – morou em uma casa de aluguel na rua Rubens Arruda.
O próprio Pelé conta, em uma de suas incontáveis entrevistas para canais de televisão, que começou a jogar na rua, descalço. “Os meninos da Rubens Arruda jogavam na rua contra os da 7 de Setembro (rua), XV (de Novembro)”, diz em um trecho. Ele registra que o apelido veio da acomodação da pronúncia de Bilé. “Meu pai dizia que quando ele jogava em Minas Gerais tinha um goleiro que chamavam de Bilé. E falavam Bilé porque eu gostava de jogar no gol. Depois toda a garotada de Bauru, os amigos da rua Sete de Setembro com a Rua Rubens Arruda, passaram a falar Pelé. Eu não gostava. Eu briguei com um garoto e briguei na escola Ernesto Monte também, onde eu estudava. Me colocaram nome de Edson por causa do Thomaz Edson, da energia elétrica. Agradeço porque é um nome fácil e conhecido no mundo todo”, contou, em outras entrevistas.
O historiador Luciano Dias Pires também contou inúmeras histórias sobre Pelé na infância em Bauru. A partir dos 2 anos, Dico (seu primeiro apelido, e na família) brincava com amigos na Rua Rubens Arruda de peão, bola de gude. Contam que costumava pegar manga ainda verde para fazer ‘embaixadas’.
Em documentário da ESPN, Valdir de Oliveira soube, por acaso, que morou por mais de 30 anos na casa modesta na Rubens Arruda onde viveu o rei. No Centro de Bauru, ocorreram tentativas, em vão, de tombar o imóvel como patrimônio histórico e cultural. Inúmeros vizinhos da família de Dondinho e Celeste, mãe de Pelé, lamentam a não preservação também desta história.
O fato é que, dos jogos na rua com os amigos, o menino-rei ganhou uns trocados como engraxate na Estação Ferroviária, também no Centro. O jornalista Leonardo de Brito, santista fervoroso, não se cansa de repetir: “Era algo de outro planeta o que Pelé fazia com a bola. E uma bola de capotão, pesada, com gramados muito duros na época. Não tem como comparar com o futebol dos últimos anos, com fisiologia, preparação física, tecnologia. O que Pelé fazia com a bola e o corpo era fora de série”, registrou em um documentário gravado para a TV Câmara Bauru.
“PEGUEI PENÂLTI DO REI”
Quem jogou, viu ou tirou foto mesmo de tietagem com o rei nunca vai deixar de contar sua história. Em um dos inúmeros papos no quiosque do BTC (Bauru Tênis Clube), o ex-goleiro do Esporte Clube Noroeste, Francisco Cefaly Neto (Chiquinho) recordou de sua estreia no Campeonato Paulista, em 1976, na Vila Belmiro (Santos). “Perdemos de perdemos de 6 a 2 para o timaço do Santos, mas eu peguei um penâlti. Pulei para o canto direito e fiz uma das principais defesas da minha vida”, relembra. Chiquinho tinha 18 anos na ocasião.
Norberto Conte jogou com Pelé em peladas na Rua Quintino Bocaiúva. Também esteve no time quase imbatível de futebol de salão do Radium de Bauru, onde o rei-menino desenvolveu suas habilidades em domínio e dribles curtos.
Aos 15 anos, em 1955, antes de ir para o Santos, Pelé anotou 40 gols em 12 jogos pelo Radium. Norberto era companheiro de estrepolias. Pegavam amendoim em vagões da Estação, na época.
Paulo Sérgio Simonetti, guarda em sua sala na rádio 94 FM sua foto inesquecível, entrevistando Pelé, em jogo do Noroeste contra o Santos, no campo do BAC, em 1959. O local, há alguns anos, se transformou em um supermercado (rede Tauste). Outra irreparável memória que Bauru deixa de preservar para manter viva a história do maior jogador de futebol da história.
Simonetti conta que ia aos jogos da chamada preliminar bem antes. “A gente ia assistir a preliminar para ver o Pelé jogar. Um espetáculo”, disse. Sobre a ausência de monumentos, ou algo expressivo para demarcar o início da história do rei no mundo, em Bauru, o jornalista lamenta: “Bauru é uma cidade ingrata”. O jornalista conviveu com a família, sendo próximo do irmão mais novo do rei á época, Joca.
RUA JAVARI
A história de Pelé pelos campos tem pelo menos duas passagens importantes na Rua Javari, estádio do Juventus da Capital. A primeira tem estreita relação com o desabrochar de Pelé para o sucesso. Campeão infantil em Bauru pelo Baquinho, o time ganhou como prêmio um amistoso no estádio da Javari.
O menino-rei fez 5 gols e o escrete bauruense venceu o Flamengo da Vila Mariana por 12 a 1. Os jornais da Sem Limites da época destacaram “as diabruras do incrível Pelé”:
O segundo registro está no Documentário “Pelé, eterno”. Naquele que é considerado o gol mais bonito, espetacular, de sua carreira, é reproduzido em computação gráfica uma sequência de dribles do rei (deu uns 4 lençóis – chapelada – antes do golaço).
Pelé chegou a “apalavrar” contrato com o Noroeste e jogou em treinos pelo clube, entre 1954 e 1955. Mas as conversas não avançaram.
MEMÓRIA AFETIVA
A foto de wattsapp de Marcos Garavini Siffert traz ele, garoto com 9 anos, ao lado do Rei, em 1973. “É minha memória afetiva de infância inesquecível. Eu fui o único mascote do Santos em um jogo contra o Corinthians, no Morumbi. Meu pai tinha muito bom relacionamento com autoridades e me levou para o estádio. Fui já uniformizado como mascote recebido pelo próprio Pelé na porta do vestiário do Santos. Ele ficou mais de uma hora ali se preparando, colocando bandagens, e conversando comigo”, relembra.
Engenheiro pelo ITA, Garavini registra que Pelé deu conselho essencial. “Ele ficou o tempo todo falando comigo, dizendo que era importante estudar, tirar boas notas na escola, conceitos que ele repetiu depois inúmeras vezes em entrevistas. Eu entrei no Morumbi levado pelas mãos do Pelé. Ele foi muito carinhoso”, retrata. Garoto, lembra, Marcos ainda pediu para tirar foto com o Rivelino. “O Santos tinha Pelé, Edu, Clodoaldo naquele ano. Mas eu pedi foto com o Rivelino e ele foi lá e chamou o Rivelino para eu tirar foto”, conclui. A foto, para provar (rs), segue:
WALDEMAR DE BRITO
São centenas de histórias e registros sobre os incontáveis dribles e jogadas fantásticas de Edson Arantes no planeta bola. Ainda em Bauru, nosso recorte dessa genial trajetória, foi pelas mãos do treinador Waldemar de Brito que ele foi para o Santos Futebol Clube.
Os pais, sobretudo a mãe Celeste, eram contra o menino ir para longe jogar bola, “tão cedo”. Mas Waldemar (técnico do BAC e ex-jogador da seleção brasileira em 1934, teve habilidade para conduzir o que se revelou o desfecho do triunfo do maior de todos os tempos.
Em nota, Prefeitura de Bauru decretou luto oficial de três dias pela morte do rei do futebol. O Legislativo também emitiu nota de sentimentos.
Os textos enviados registram:
“Foi nos campos de futebol de Bauru que ele começou a jogar, e também onde ganhou o apelido de Pelé. Ainda muito jovem, Pelé já se destacava no futebol. Foi jogador do Bauru Atlético Clube (BAC), e chegou a ficar perto de ir para o Esporte Clube Noroeste, atuando com a camisa alvirrubra em três jogos amistosos. Mas em seguida foi para o Santos Futebol Clube, onde fez praticamente toda a sua carreira, brilhando para o futebol mundial”.
O rei da bola ainda conquistou a “primeira Copa do Mundo com a Seleção Brasileira aos 17 anos, na Suécia-1958, e ainda foi campeão do mundo de novo no Chile-1962 e no México-1970, sendo até os dias atuais o único jogador com três títulos de Copa do Mundo. Ele participou ainda da Copa da Inglaterra-1966. Já pelo Santos, Pelé ganhou duas vezes a Libertadores, em 1962 e 1963, dois Mundiais de Clubes, nestes mesmos anos, e ainda dez títulos do Campeonato Paulista e seis títulos da Taça Brasil. Encerrou a carreira no Cosmos de Nova Iorque, nos Estados Unidos, em 1977. Marcou 1.283 gols em 1.366 jogos na carreira profissional. Pelé foi eleito o Atleta do Século 20, sendo ainda um dos nomes mais conhecidos do Brasil em todo o mundo”.
Aqui, Pelé em pose com camisa do BAC e abaixo na Câmara de Bauru,
em homenagem. Reproduções da internet
REVISTA PLACAR EDIÇÃO HISTÓRICA
A tradicional Revista Placar publicou edição especial, histórica, em homenagem a Pelé. O material traz reportagens com jornalistas, amigos de dentro e fora do campo e memórias de passagens da belíssima carreira do astro do futebol mundial.
Abaixo, reprodução de algumas imagens da edição: