Polícia Civil pede prisão temporária de PM que atirou e matou jovem
O delegado responsável pela investigação sobre a morte do jovem Bryan Cristian Bueno da Silva, de 22 anos, pediu a prisão temporária do policial militar que fez o disparo durante a abordagem policial no dia 9 de junho em Ourinhos (SP). O pedido ainda não foi analisado pela Justiça, portanto a prisão ainda não foi decretada. “Nós já fizemos o requerimento à Justiça da prisão temporária ontem [quarta-feira,22] e esse inquérito já foi encaminhado para o Fórum estamos aguardando a apreciação do promotor e posteriormente a decisão da juíza que está com o caso”, afirma o delegado João Befa, da Delegacia de Investigações Gerais (DIG).
Bryan morreu baleado durante uma abordagem da Polícia Militar, na madrugada do dia 9 de junho, próximo ao recinto da Fapi – Feira Agropecuária e Industrial de Ourinhosx -, que fica na Avenida Jacinto Ferreira de Sá, em Ourinhos.
Além de toda a investigação, o pedido de prisão levou em conta também o relatório da perícia técnica que analisou as imagens da abordagem dos policiais. A produção a TV TEM teve acesso ao vídeo na quarta-feira (22) à tarde, as imagens foram cedidas pelo Conselho Estadual de Defesa Humana (Condepe) que também apura o caso (veja as imagens acima). A Polícia Civil só teve acesso às imagens na terça-feira passada.
No vídeo do circuito de segurança de um estabelecimento comercial próximo estava em posse da Polícia Militar e só foram enviadas ao delegado após ele enviar um requerimento à Justiça. A gravação que o TEM Notícias teve acesso começa às 2h30.
O local está movimentado por causa de uma feira de exposições que era realizada na época. Quatro minutos depois, uma ambulância do Samu passa com o giroflex ligado e segue em direção ao recinto onde é realizado o evento, possivelmente para fazer um atendimento. Às 2h36, o policial que fez o disparo contra Bryan aparece subindo a avenida em que os fatos ocorreram.
Um minuto depois, outro policial para o carro onde estava Bryan e quatro amigos. O primeiro policial que subiu a rua reaparece, se aproxima do carro já tirando a arma da cintura e parece fazer gestos de ameaça aos jovens e logo dispara. É tudo muito rápido. Logo em seguida os quatro ocupantes do carro saem do veículo, pelo lado do motorista. Os policiais também se afastam do carro e logo muita gente começa a se aproximar para ver o que acontecido.
Às 2h40, o vídeo mostra que os policiais param a ambulância do Samu que minutos antes tinha passado pelo local. É possível ver que eles pedem o atendimento, um dos PMs chega até abrir a porta da ambulância. As imagens mostram ainda que o jovem teve uma parada cardiorrespiratória, porque os médicos iniciam a massagem cardíaca e durante 12 minutos os médicos tentam reanimar o jovem até que ele é levado para a ambulância. Bryan chegou a ser levado para o hospital, mas já chegou ao local morto.
As imagens foram anexadas ao inquérito que investiga o caso. A Polícia Civil também apura a informação de que policiais tentaram apagar as imagens gravadas pelas câmeras, e ainda teriam ameaçado os socorristas da ambulância. O soldado chegou a ser preso em flagrante, mas depois foi solto para responder aos inquéritos em liberdade. A Polícia Militar alega que o tiro foi acidental, mas abriu um processo na Corregedoria para apurar a conduta do policial no âmbito administrativo.
abordagem policial (Foto: TV TEM/Reprodução)
“Nós analisamos as imagens no dia mesmo do ocorrido e constatamos que tudo o que os policiais disseram que ocorreu naquele dia e também as testemunhas, vendo as imagens foi possível ver que tinha verdade no que disseram. A Polícia Civil foi acionada assim que os fatos ocorreram e o aviso ao delegado plantonista consta inclusive do BO da PM inicial”, afirma a comandante da PM, Cenize Araújo Calasane.
No entanto, o relatório sobre o caso elaborado pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Ourinhos aponta que o soldado assumiu o risco de matar o jovem. “O delito, em tese, praticado pelo policial militar (…) é doloso. Se não direto ao mesmo na sua forma eventual, segundo o entendimento destes signatários”, informa trecho do inquérito da DIG.
“Fica claro que o policial militar (…) quando efetuou a abordagem segurando a camisa da vítima Bryan Cristian Bueno da Silva com uma das mãos e apontando a arma de fogo, tipo pistola, com a outra, para o peito do jovem, no mínimo assumiu o risco de produzir o resultado morte ao dispará-la”, continua o documento da Polícia Civil.
Ainda de acordo com o delegado da DIG, a arma usada pelo policial não foi entregue para a perícia. “A arma deveria ter sido submetida a um exame complementar para poder averiguar se ela apresentava alguma falha que poderias acionar o disparo sem o acionamento do gatilho e a polícia não tem a arma para fazer esse exame. Não descartamos a possibilidade de pedir judicialmente a entrega dessa arma”.
E diante de todos esses fatos, que indicam uma ação da PM de atrapalhar as investigações, o delegado afirma que foi avaliada a necessidade da prisão temporária. “O que levou ao pedido de prisão não é apenas as imagens , o que nos levou ao convencimento da necessidade da prisão temporária é o conjunto de tudo que está nos autos e fazem parte das investigações”, completa.
Entenda o caso
Bryan Bueno, de 22 anos, morreu baleado durante uma abordagem da Polícia Militar, na madrugada de quinta-feira (9), próximo ao recinto da Fapi – Feira Agropecuária e Industrial deOurinhos -, que fica na Avenida Jacinto Ferreira de Sá, em Ourinhos. Segundo informações da Polícia Militar, o carro andava em zigue-zague e um dos meninos teria derrubado alguns cones de sinalização.
Dois policiais pediram para que o carro parasse. Bryan estava no banco da frente, do lado do motorista, e levou o tiro de um dos policiais. “O policial não declara que fez o acionamento desse gatilho. Ele declara um recuo diante desse esboço de reação da vítima. E nesse recuo que ele fez, com esse passo para trás, que ele teria dado esse disparo”, explica a comandante do Batalhão da Policia Militar de Ourinhos, Cenize Araújo Calasane.
O jovem, que morava em Santa Cruz do Rio Pardo, foi atingido no pescoço. Ele foi socorrido pelo Samu, mas chegou já sem vida na Santa Casa.
Sem reação
Um dos amigos do jovem, que estava no carro, contou que eles não tiveram tempo de sair do carro. “O Bryan estava no banco da frente e ele fez uma brincadeira, colocou a mão para fora do carro e pegou um dos cones. Um dos policiais que estava ali na frente viu e deu sinal de luz para que a gente parasse. Nós paramos certinho, não tivemos nenhuma reação. Aí um dos policiais veio em uma das janelas e outro, que estava mais exaltado, foi na outra janela e ele já veio com a arma apontada, pegou no colarinho da camisa do Bryan e mandou ele sair do carro e nisso atirou. Nós só descemos do carro depois que ele atirou, quando pediram para parar. Não deu nem tempo de fazer nada, não fizemos nada, foi coisa de segundos”, afirma o estudante Wesley Moraes, amigo da vítima.
Ainda segundo o jovem, Bryan não teve nenhuma reação. “Não deu tempo dele fazer nada. Como o policial chegou, pegou no colarinho dele e já atirou e ele já abaixou a cabeça”, completa.
em SP (Foto: Imagens cedidas/ Condepe)
A mãe do jovem também confirmou a versão dos amigos de Bryan em depoimento dado em uma reunião na ouvidoria das polícias em São Paulo. Valdinéia Pontes foi ouvida pelo representante da ouvidoria no dia 14 de junho. Ainda muito abalada, ela pediu justiça. “Para mim foi um assassinato, uma execução, por isso eu quero a ação da promotoria, do júri, para que esse caso seja julgado como um homicídio doloso e não culposo. Porque ele teve a intenção de matar o meu filho”, afirma a mãe.
Ainda de acordo com ela, os amigos contaram que Bryan não teve nenhuma reação e que foi tudo muito rápido. “O policial chegou pelo lado do Bryan e pegou ele pelo colarinho da blusa e com a arma na outra mão, mas os meninos disseram que foi tão rápido que ele (o policial) já chegou e atirou. O tiro passou pelo pescoço do meu filho, perfurou o coração dele e pulmão e atingiu o banco do menino que dirigia o carro, quase atingiu ele também. Ele (Bryan) num teve tempo nem de tirar o cinto, o tiro passou pelo cinto. Ele num teve nenhuma reação”, afirma.
Ameaça e direitos humanos
O caso também teve outros desdobramentos. Uma equipe do Samu que foi parada pelos policiais após Bryan ter sido atingido pelo tiro registrou um boletim de ocorrência em que afirmou que foi ameaçada pelos policiais para prestar socorro ao rapaz. Segundo informações da ocorrência, a médica e a enfermeira estavam com um paciente dentro da ambulância quando foram paradas pelos policiais.
A Polícia Civil anexou essa ocorrência às investigações e também vai apurar esse fato, que pode ser um agravante à conduta dos policiais. Ainda segundo a Polícia Civil, nenhum delegado foi chamado no momento do crime e nenhuma arma foi entregue à perícia. O carro onde o jovem foi morto foi lavado no batalhão de Polícia Militar. O fato chegou ao conhecimento do Conselho Estadual de Direitos Humanos. “Os policiais arbitrariamente pararam essa ambulância e fizeram o paciente sair para colocar o Bryan e isso ao nosso ver foi uma simulação para alterar a cena do crime, porque os próprios amigos disseram que ele já estava morto, que ele morreu no local, então eles quiseram simular um socorro e inclusive ameaçaram a médica com arma em punho dizendo que se caso ela não tirasse o paciente e colocasse o Bryan ela seria presa por desacato”, afirma Lúcio França, um dos representantes do Conselho.
Representantes do órgão conversaram com a família da vítima e com testemunhas, como os outros quatro jovens que estavam no carro. Depois de ter ouvido os depoimentos, o conselho disse que vai denunciar o policial à corregedoria da PM e à ouvidoria das polícias do estado. “Nós vamos encaminhar essa representação à promotoria dos Direitos Humanos do Ministério Público e nós também iremos encaminhar a família até a Defensoria Pública para que ela possa entrar com uma ação para que eles possam pedir uma indenização à Polícia Militar e ao estado”, afirma Lúcio França, um dos representantes do Conselho.
O caso é acompanhado pelo Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana (Condeph). Para Luis Carlos Santos, relator da Condeph, o caso não é normal. “Não é normal o que aconteceu naquela cidade, no caso do Bryan. Aconteceu que o policial militar conduziu toda a ocorrência, passando por cima de uma resolução 40. O local tem que ser preservado e toda a condução dos fatos tinha que ser apurada inicialmente pela Polícia Civil.
A família pretende entrar com uma ação contra o policial militar que fez o disparo e contra. Fonte G1