Polícia divulga escutas telefônicas de operação que prendeu quadrilha
A Polícia Civil interceptou mais de 40 mil ligações durante uma megaoperação que deteve 41 pessoas envolvidas com tráfico de drogas que agia dentro e fora de presídios do interior de São Paulo. Segundo a polícia, o grupo vinha sendo monitorado há quatro meses. Nesta quarta-feira (27), foram cumpridos 48 mandados de prisão de integrantes da quadrilha na região Centro-Oeste Paulista.
Em uma das ligações divulgadas pela polícia, o traficante Heitor Santos, de 23 anos, fala de dentro de um presídio de Bauru (SP). Ele pede mais drogas para Diego Mateus Santos, de 28 anos, apontado pelos investigadores como chefe da quadrilha.
Heitor:“Dá uma batida nos meninos lá. Vê se tem como soltar umas duzentas hoje pra vir amanhã sem falta, mano”.
Diego:Vou ver mano. Vou trocar umas ideia.
Em outra ligação, o preso conta que aproveitou a saidinha de fim de ano para lucrar com a venda de drogas.
Heitor:“Na outra saidinha, três dias que eu vendi mano, 1.800 com meu irmão naquela pista de skate, mano. Eu vendi bagulho de 50 em dois dias, mano”.
Todos os detalhes eram informados aos chefes do tráfico, em tempo real, pelo telefone, das drogas que chegavam e as que eram vendidas. A quadrilha só não sabia que todas as ligações eram gravadas pela polícia com autorização da Justiça. Foram mais de 40 mil escutas telefônicas.
As gravações também revelam o envolvimento de mulheres com o tráfico de drogas. Em uma gravação, uma jovem conta para amiga que escondeu a encomenda de uma usuária de drogas na mochila da filha pequena.
Traficante:“A menina querendo pó e eu não sabia onde que estava, não sabia onde estava. Sabe onde estava?”
Mulher: “Na onde?”
Traficante: “Na bolsa da creche da Leona”!
Mulher:“Ai menina doida”!
Traficante:“Ainda bem que eu vi antes dela ir para creche”.
Presos na região
Dos 48 mandados de busca e apreensão, 43 deles foram cumpridos em Lençóis Paulista, um em Bauru (SP) e quatro em Botucatu(SP). Ainda segundo informações da polícia, no total, 41 pessoas foram detidas, sendo 28 homens, 11 mulheres e dois menores e, ao todo, 178 policiais participaram da ação. Sete pessoas continuam foragidas.
Segundo o delegado Luís Claudio Massa, os integrantes compravam drogas no Paraguai e na Bolívia e distribuíam na região de Bauru. As investigações também mostraram que a quadrilha controlava bocas de fumo em várias cidades do interior fornecendo drogas e recebendo uma porcentagem de tudo que era vendido.
“Havia preços estipulados para determinados pontos de drogas, chegava até R$ 40 mil. O traficante, então, cedia esse ponto, a pessoa que locava era obrigada a adquirir a droga dele, mas o traficante não precisava ficar lá. Ele simplesmente, semanalmente, passava refazendo a recolha do valor estabelecido e a pessoa que explorava o ponto de droga ficava com a porcentagem dela”, explica o delegado Luís Cláudio Massa.
Quem assumia o ponto de venda assinava até contrato com a quadrilha, uma espécie de franquia do crime. “Eles passam o dia inteiro no presídio como se fosse um escritório do crime. Fazendo contatos, vendendo drogas, encomendando crimes, é assim o dia inteiro”, afirma Massa.
Todos os envolvidos estão com prisão temporária de 30 dias e foram encaminhados para presídios da região. Pelo menos sete pessoas ainda estão foragidas. O G1 entrou em contato com a Secretaria de Administração Penitenciária sobre o uso de celulares dentro dos presídios e aguarda uma resposta. Fonte G1