Polícia fecha fábrica clandestina que trocava rótulo de cerveja
Polícia Civil, por meio da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), realizou uma operação, na manhã desta quinta-feira (14), que terminou com um depósito de bebidas alcoólicas falsificadas fechado, na região do Jardim Nicéia, em Bauru. A polícia estima que a produção clandestina chegava a 1 mil caixas por semana e a um faturamento aproximado de R$ 200 mil por mês. Um homem de 30 anos foi preso acusado de gerenciar a atividade ilegal no local, ele já era procurado por outros crimes na Capital.
No galpão, localizado na quadra 2 da rua Sérgio Arcângelo, outras doze pessoas foram encontradas pela polícia atuando em ambiente insalubre e em regime análogo ao trabalho escravo. Eles atuavam em linha de produção informal onde trocavam o rótulo e a tampa de cerveja de garrafa de qualidade inferior (Acerta) por de marcas conhecidas (Skol, Antártica e Brahma). O caso foi descoberto após denúncia e as investigações duraram até 3 meses.
TRABALHO ESCRAVO
As doze pessoas foram arroladas como vítimas no inquérito, após a polícia desnudar como o esquema funcionava. Oriundos do Tocantins e Goiás, os homens tinham idades entre 20 e 30 anos e, após serem atraídos para a cidade com promessas de emprego pela internet, eram mantidos sob ameaças e violências física e psicológica no galpão. O local funcionava há cinco meses, aproximadamente. V.T. (apenas as iniciais fornecidas pela polícia) acompanhava os trabalhadores 24 horas por dia e inspecionava a produção, que acontecia de forma ininterrupta das 5h às 23h de segunda a segunda.
“Ele mantinha um porrete e não deixava ninguém sair do galpão, também controlava a comida. Os trabalhadores eram obrigados a comprarem dele itens básicos de higiene e outros tipos de produtos a valores exorbitantes. Um guaraná, por exemplo, era R$ 50,00. E eles ganhavam 6 reais por engradado de cerveja produzido, ou seja, sempre ficavam devendo”, explica o delegado titular da DIG Cledson Nascimento.
O homem detido deve responder por adulteração de alimentos, crime que prevê de 4 a 8 anos de reclusão, e por redução a condição análoga à de escravo, que prevê até 8 anos de reclusão.
“O inquérito deve apurar ainda outras pessoas e empresas que se beneficiavam do esquema. E identificar quem são os compradores que receptavam os produtos falsificados”, ressalta o delegado Giuliano Travain, delegado assistente da DIG.
A Polícia Civil, inclusive acionará o Ministério do Trabalho e Emprego para fins de aplicação de multas, assim que o esquema desnudar as demais participações, inclusive de gráficas que produziam os rótulos clandestinos.
As bebidas falsificadas foram apreendidas e serão destruídas pela polícia.
A reportagem acionou a Ambev, mas a empresa, que também é vítima do ocorrido, preferiu não se manifestar.
As doze vítimas foram encaminhadas para um albergue e serão assistidas pela Secretaria Municipal de Bem-Estar Social (Sebes), que providenciará as passagens de volta.
‘Passei sede, fome e muito calor’
Sem ver o sol desde que chegou a Bauru, há aproximadamente 15 dias, Roberto (o nome é fictício, porque a vítima pediu para não ser identificada) diz que se sentiu aliviado ao ver a polícia ontem. Ele conta ter largado seu emprego de técnico de informática, a esposa e a filha de 14 anos em Goiás para tentar oportunidade melhor. A promessa de ganhar mais de R$ 2 mil mensais e moradia, contudo, não detalhava a ilegalidade do serviço. Por aqui, Roberto viveu os piores dias de sua vida. “Passei fome, sede (dois dias sem água) e muito calor. Percebi que algo estava errado logo quando cheguei, mas, por medo, fiquei quieto. Vi gente apanhando. Tinha hora que as costas travavam de tanto trabalho e ele (gerente) até nos dava dipirona, mas cobrava caro por isso”, relata, demonstrando alívio em poder voltar para casa.