Polícia investiga participação de adolescente de Jaú em ‘jogo da Baleia Azul’
A Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Jaú (SP) abriu uma investigação para apurar a participação de um adolescente de 13 anos no jogo da “Baleia Azul”, que propõe 50 desafios aos adolescentes e sugere o suicídio como última etapa. Segundo a irmã do menor, que prefere não se identificar, ele estaria participando de um grupo em que era obrigado a realizar tarefas de um jogo ligado à automutilação e ao suicídio. Ele tinha cortes nos braços, pernas e pescoço feitos com uma lâmina.
A delegada Isabel Cristina Martignago, que investiga o caso, informou que ainda vai ouvir o menor e familiares.
“Preciso ouvir as partes, ver se houve ameaças e o que houve de fato. Vamos investigar os eventuais crimes”, disse em entrevista ao G1.
O “jogo da Baleia Azul” é uma espécie de disputa que propõe desafios aos adolescentes, como bater fotos assistindo a filmes de terror, automutilar-se, e na etapa final cometer suicídio.
A irmã do adolescente contou que ele sempre foi uma criança introvertida, com poucos amigos, mas ultimamente a família notou uma mudança no comportamento dele, que passou a se isolar ainda mais, chamando a atenção inclusive dos professores. O adolescente foi diagnosticado com depressão e recebe um acompanhamento médico psicológico para tratar a doença.
Estranhando o comportamento do irmão, a jovem descobriu no computador que ele havia entrado em um grupo com mais de 6 mil membros. Ela conta que viu conversas do irmão com “curadores”, nome dado aos administradores do grupo, que propõem os desafios aos membros. Eles geralmente usam perfis falsos para conversar com os adolescentes.
A vítima já havia recebido dois desafios, mas que ainda eram parte de uma enquete, segundo a irmã. Na primeira pergunta, ele tinha um prazo para responder o que deixava ele triste e em outra ele precisaria perguntar para pessoas de sua convivência as coisas boas que ele tinha feito por elas.
A mãe foi chamada na escola porque o comportamento dele estava ainda mais estranho, segundo a professora, que conseguiu tirar dele uma lâmina que ele tinha levado para sala de aula. Na bolsa dele, a irmã encontrou uma faca de cozinha.
O Conselho Tutelar foi acionado e ajudou a família a conseguir uma vaga em um hospital de referência em tratamento psiquiátrico, onde ele permanece internado.
Ações preventivas
Em Bauru, o prefeito Clodoaldo Gazzetta determinou nesta quarta-feira (19) às Secretarias de Educação, Bem Estar Social e de Saúde que desenvolvam ações preventivas junto aos pais e jovens atendidos por serviços da rede municipal depois que um caso relacionado ao “jogo” foi registrado na cidade, segundo os bombeiros.
A corporação foi acionada para atender uma tentativa de suicídio de um adolescente de 17 anos que estaria tentando pular do viaduto Colina Verde sobre a Rodovia Marechal Rondon, na terça-feira (18). Ainda segundo os bombeiros, a vítima não conversava e estava focada no “jogo Baleia Azul”. Além disso, ele também apresentava cortes no braço no formato de uma baleia. Ele foi levado para o Pronto-Socorro Central (PSC). O caso não foi registrado na Polícia Civil.
Recomendações
As recomendações para as famílias são: monitorar o uso da internet, frequentar as redes sociais dos filhos, observar comportamentos estranhos e, sobretudo, conversar e conscientizar os adolescentes a respeito das consequências de práticas que nada têm de brincadeira. Atenção redobrada com os jovens que apresentem tendência a depressão, pois eles costumam ser especialmente atraídos por jogos como o da Baleia Azul.
Também as escolas devem colocar o assunto em pauta e incorporar no currículo, cada vez mais, a educação para a valorização da vida, o respeito pela vida dos outros e o uso consciente das mídias e tecnologias.
O G1 ouviu especialistas que dão dicas de como lidar com o tema:
1. Fique atento à mudança de comportamento
Uma mudança brusca de comportamento pode ser sinal de que a criança ou o adolescente esteja sofrendo com algo que não saiba lidar, segundo Elizabeth dos Reis Sanada, doutora em psicologia escolar e docente no Instituto Singularidades.
“Isolamento, mudança no apetite, o fato de o adolescente passar muito tempo fechado no quarto ou usar roupas para se esquivar de mostrar o corpo são pistas de que sofre algo que não consegue falar”, diz.
2. Compartilhe projetos de vida
Para entender se a criança ou adolescente está com problemas é fundamental que os pais se interessem por sua rotina. Elizabeth reforça que este deve ser um desejo genuíno, e não momentâneo por conta da repercussão do “Jogo da Baleia”.
“Os pais devem conhecer a rotina dos filhos, entender o que fazem, conhecer os amigos”, afirma a Elizabeth. Ela lembra que muitos adolescentes “falam” abertamente sobre a falta de motivação de viver nas redes sociais. Aos pais cabe incentivar que os filhos tenham projetos para o futuro, tracem metas como uma viagem, por exemplo, e até algo mais simples, como definir a programação do fim de semana.
3. Abra espaço para diálogo
Filhos devem se sentir acolhidos no âmbito familiar, por isso, Elizabeth reforça que é necessário que os pais revertam suas expectativas em relação a eles. “É preciso que o adolescente se sinta à vontade para falar de suas frustações e se sinta apoiado. Se ele tiver um espaço para dividir suas angústias e for escutado, tem um fator de proteção”, afirma Elizabeth.
Angela Bley, psicóloga coordenadora do instituto de psicologia do Hospital Pequeno Príncipe, diz que o adolescente com autoestima baixa, sem vínculo familiar fortalecido é mais vulnerável a cair neste tipo de armadilha. “O que tem diálogo em casa, não é criticado o tempo todo, tem autoestima melhor, tem risco menor. Deixe que ele fale sobre o jogo, o que sente, é um momento de diálogo entre a família.”
Angela reforça que muitas vezes o adolescente não tem capacidade de discernir sobre todo o conteúdo ao qual é exposto. “Por isso é importante o diálogo franco. Não pode fingir que esse tipo de coisa não existe porque ele sabe que existe.”
4. Adolescentes devem buscar aliados
O adolescente precisa buscar as pessoas em que confia para compartilhar seus anseios, seja no ambiente escolar ou familiar, segundo as especialistas. “Que ele não ceda às ameaças de quem já está em contato com o jogo e entenda que quem está a frente deles são manipuladores”, diz Elizabeth.
5. Escolas podem criar iniciativas pela vida
Assim como a família, as escolas podem ajudar a identificar situações de risco entre os alunos. “Não é qualquer criança que vai responder ao chamado de um jogo como esse, são os que têm situações de vulnerabilidade. A escola ajuda a construir laços e tem papel fundamental de perceber como os alunos se desenvolvem”, afirma Elizabeth.
Alguns colégios, já cientes da viralização do jogo, começaram a pensar em alternativas para aumentar a conscientização sobre a importância de cuidade da vida. No Colégio Fecap, que fica na Região Central de São Paulo, essa ideia virou projeto escolar: a turma de alunos do ensino médio técnico de programação de jogos digitais começou a criar uma espécie de “contra-jogo” da Baleia Azul. “O jogo ainda está sendo produzido pelos alunos. Eles estão se reunindo e debatendo a questão. Serão 15 desafios de como desfrutar melhor da vida e celebrá-la”, conta o professor Marcelo Krokoscz, diretor do colégio.
Durante o curso, os estudantes aprender a aplicar linguagens de programação para criar jogos para computadores, videogame, internet e celulares, trabalhando desde a formação de personagens, roteiros e cenários até a programação do jogo em si. Segundo Krokoscz, a ideia é que o jogo, ainda sem prazo de lançamento, esteja disponível on-line para o público em geral.
Ele afirma que o objetivo é a ajudar os jovens a verem o lado bom da vida. “Impacta mais fortemente nossos alunos a partir do momento que eles mesmos criam um jogo a favor da vida.”
*Com informações de Lucas Alonso/TV TEM