Polícia investiga se há envolvimento de policiais com quadrilha presa

 

Os criminosos que foram presos na praça de pedágio da Rodovia Marechal Rondon, em Agudos (SP), na manhã desta quinta-feira (4), após explodirem caixas automáticos na cidade de Cabrália Paulista, chegaram no fim da manhã na delegacia de Agudos, onde foram ouvidos. Porém, um deles, o último a se entregar após mais de 3 horas de negociação com a polícia, foi levado escoltado por agentes da Corregedoria da Polícia Civil e também da Polícia Rodoviária. Antes de se entregar, ele citou possível envolvimento de policiais do Deic e deve ser ouvido para mais esclarecimentos.

Uma equipe de reportagem da TV TEM acompanhou a negociação com o criminoso e, da janela do ônibus, que foi fretado pela quadrilha para cometer o crime, o homem disse que o dinheiro do assalto seria para pagar uma suposta extorsão de policiais e citou o DEIC – Departamento Estadual de Investigações Criminais do Estado de São Paulo.

Ele disse que o dinheiro do assalto seria para pagar uma extorsão a dois policiais do departamento. “Os caras me deram prazo para estar pagando eles até sexta-feira agora, depois do carnaval. Se não os caras iam jogar, ia prender eu, jogar um monte de B.O e eu nem estava (sic)”, disse.

O criminoso falou ainda o valor da suposta propina que deveria pagar. “Pediu R$ 400 mil, nós já demos R$ 150 mil sendo que eu não tinha dinheiro. Eles prendem meus carros, eu pedi os carros para eu poder vender e pagar, os caras não quiseram dar prazo, certo, por isso que eu estou aqui, vim roubar para poder pagar os caras”, completou.

A Corregedoria da Polícia Civil vai investigar o suposto caso de extorsão envolvendo os policiais. “Esse é um bandido com um grande histórico criminal e é comum, até para desviar o foco, que tem policiais envolvidos. O importante é o seguinte, a Corregedoria vai investigar, mas a gente vê com muita reserva e preocupação, porque é fácil jogar nomes de policiais. Esse bandido não tem nada a perder, mas os policiais sim”, explica o delegado do Deinter 4, Marcos Mourão.

Em nota,  a Secretaria de Segurança Pública confirmou que a Corregedoria da Polícia Civil de Bauru apura a denúncia. Informou ainda que um dos suspeitos presos e os policiais militares envolvidos na ação foram ouvidos nesta quinta-feira sobre o caso.

Os demais criminosos foram ouvidos na delegacia de Agudos, eles já passaram por exame de corpo delito em um hospital da cidade. Após os depoimentos eles devem ser encaminhados para cadeias da região. De acordo com o delegado Kléber Granja, da Delegacia de Investigações Gerais, que vai assumir as investigações do caso, os homens vão ser indiciados por formação de quadrilha, porte ilegal de arma e tentativa de latrocínio, já que um deles atirou contra os policiais. Ele disse ainda que vai ser investigado se os criminosos participaram de outros roubos.

“Nós temos um protocolo de roubo a bancos em que inquéritos policiais, a medida que eles foram sendo praticados, todos eles estão sendo cruzados, todos os dados de telefones, armamento para análise balística, impressões digitais e agora vai ser feito um trabalho meticuloso para tentar descobrir se eles estão envolvidos em outros casos”, diz o delegado.

A ação
Nove homens foram presos na ação policial. Segundo informações da polícia, eles chegaram à Cabrália Paulista em dois carros e explodiram dois caixas automáticos de uma agência bancária, conseguiram pegar todo o dinheiro e ainda tentaram explodir caixas em outra agência, mas não conseguiram.

Para fugir, eles abandonaram os veículos e seguiram em um ônibus de turismo fretado pelos próprios criminosos. O veículo foi interceptado pela Polícia Militar Rodoviária na Rodovia Marechal Rondon, próximo da praça de pedágio de Agudos. As placas de Sumaré, o horário e também o fato de todas as cortinas estarem fechadas chamou a atenção dos policiais que estavam em uma viatura e deram sinal de parada, que não foi respeitado.

“Um dos policiais lembrou que indivíduos e tempos passados fizeram um roubo a caixa eletrônico utilizando um ônibus na fuga e desconfiaram que os indivíduos no ônibus poderiam ser os que efetuaram o estouro do caixa eletrônico”, explica o major Ordival Afonso Júnior, da Polícia Rodoviária.

No pedágio de Agudos, a polícia conseguiu cercar o ônibus. Oito criminosos se entregaram na hora e desceram do veículo. Mas quando os policiais foram vistoriar o ônibus, foram surpreendidos por tiros de fuzil. “Eles disseram que não havia mais ninguém no ônibus e no momento que entramos para fazer a vistoria fomos recebidos a tiros”, afirma o sargento Gustavo Acosta Jorge.

O criminoso continuou no ônibus e durante quase quatro horas negociou com a polícia para sair do veículo. Por volta das 8h, o trânsito na Rodovia Marechal Rondon sentido capital já passava de 7km. O criminoso primeiro jogou as munições. Depois, os carregadores, colete a prova de bala, uma pistola, uma escopeta calibre 12 e dois fuzis. A tensão só terminou depois que ele se entregou.

Segundo as investigações, os integrantes da quadrilha vieram das cidades de Campinas e Sumaré (SP). O ônibus usado na fuga teria sido alugado pelos criminosos e para não levantar suspeita, depois de explodirem os caixas eletrônicos, primeiro eles fugiram em dois carros e depois pegaram o ônibus no horto florestal de Cabrália Paulista.

Como ainda havia explosivos dentro do ônibus, uma equipe do Gate, grupo de Ações Táticas Especiais da Polícia Militar, de São Paulo, foi até a cidade para avaliar a situação. Quando eles chegaram o trânsito voltou a ser interditado.

Com roupas especiais, eles desativaram o explosivo e guardaram em caixas especiais. Na vistoria feita no ônibus, os policiais retiraram seis caixas com dinheiro, que foram furtadas dos caixas eletrônicos. Elas estavam lacradas, mas foram abertas e nenhum dinheiro foi encontrado, segundo a polícia. A informação foi confirmada pela gerência do banco.

Do pedágio de Agudos, os agentes do Gate foram para Cabrália Paulista, onde houve as explosões. Eles vistoriaram as duas agências, e uma dinamite também foi recolhida em uma delas. O material explosivo foi levado pelos agentes do Gate, que não informaram se vão detoná-lo. A área onde ficam as agências foi isolada para o trabalho da perícia da Polícia Civil que chegou ao local logo após a saída do Gate no início da tarde desta quinta-feira. Fonte G1