PRIMEIRO DE ABRIL
Dizem que a mentira tem pernas curtas. O compositor e poeta austríaco Iohanns Strauss provou que ela tem pernas longas. Há 150 anos ele compôs ao piano uma das mais belas mentiras de que se tem notícia. A valsa Danúbio Azul. O Danúbio nunca foi azul. Suas águas são cinzentas ou cor de barro, principalmente quando passam por Viena, a terra natal do autor. Sem ritmo de valsa, as águas do Danúbio atravessam aos trancos e barrancos seis países da Europa.
Pelas águas do Danúbio trafegaram os bárbaros de Átila que invadiram a Europa. Por suas margens cavalgaram os muçulmanos comandados por Suleiman, em sangrentas invasões. Os soldados do Império Romano sob o comando de Trajano percorreram o Danúbio para expansão do império de César.
Pouco importa as histórias que se contam do velho Danúbio. Para Strauss, na sua sensibilidade poética, o Danúbio sempre foi azul. Mesmo sabendo que 500 mil soldados de Napoleão por ali passaram para invadir a Rússia. Quando tocou os primeiros acordes do “Danúbio Azul” em sua casa, em Viena, Strauss jamais imaginaria que anos mais tarde, guardas comunistas varreriam as margens do rio com rajadas de metralhadoras, na segunda guerra mundial. Para o poeta o Danúbio é azul e ponto final. Mesmo que o seu leito nunca tenha trafegado em ritmo de valsa. Que o digam os que já passaram por lá. Ele é impetuoso, turbulento e cheio de redemoinhos. Aliás, a única coisa que o faz bailar.
Mas para o poeta Strauss o que valia era o seu sonho. E um sonho não pode ser sonhado sozinho. E o mundo todo ajudou Strauss a cantar o seu sonho. Ele queria o que o Danúbio fosse azul, e foi com essa cor que ele coloriu o rio na célebre partitura que atravessaria os séculos. Um sonho honesto às vezes é mais forte do que a verdade. A valsa “Danúbio Azul”, composta por um sonhador mentiroso, é a mentira mais linda de que se tem notícia. Que se lixe o Primeiro de Abril. No Dia da Mentira, falemos de coisas mais amenas, falemos do Danúbio Azul. De um sonho, que mesmo sendo uma utopia, acabou em valsa. Convenhamos, uma linda valsa.
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(Alcindo Garcia é Jornalista) e-mail: alcindogarcia@uol.com.br