Tenente-coronel que ameaçou PM por guinchar carro de vereadora pede licença em Marília

Toda a conversa teria ocorrido porque o policial guinchou o carro da vereadora que estava com licenciamento vencido em Marília — Foto: TV TEM/ Reprodução

A comandante do Batalhão da Polícia Militar de Marília (SP), a tenente-coronel Márcia Crystal, pediu licença de seu cargo por 15 dias. A informação foi emitida nesta quarta-feira (26) pelo Comando do Policiamento do Interior (CPI-4) que, em nota, informou que “a licença já estava prevista para este ano”.

A licença, que começou a vigorar no último domingo (23), foi solicitada dias depois da polêmica causada após a vereadora Daniela D’Avila Alves, conhecida como Professora Daniela (PL), fazer uma ligação para a oficial pedindo para não ter guinchado seu carro que estava com documento vencido.

Nesse período, o comando interino do Batalhão ficará com o Major Fabiano Soares de Mendonça, subcomandante da unidade.

O anúncio da licença acontece no mesmo dia em que a Câmara de Marília protocolou um pedido de abertura de Comissão Processante (CP) feito por um morador para apurar a conduta da vereadora. A expectativa é que essa votação aconteça já na próxima sessão, na segunda-feira (31).

Como a vereadora não pode votar em tema que envolve seu próprio nome, a Mesa Diretora da Câmara anunciou nesta quarta-feira (26) que convocará o suplente do PL, o agrônomo Sílvio Harada, para votar o pedido de instauração de apuração por quebra de decoro parlamentar.

A convocação é necessária para garantir o quórum de 13 votos. A votação do pedido de investigação deve ser realizada na sessão ordinária desta segunda-feira (31), durante a Ordem do Dia.

Depois de conversar com a vereadora, a oficial da PM Márcia Crystal ligou para o policial de trânsito que apreendeu o carro da parlamentar.

Segundo o policial, o veículo foi apreendido porque estava com o licenciamento vencido e pneus gastos. O Comando da PM abriu um inquérito para apurar a conduta dos envolvidos.

A conversa no telefone, na qual a tenente-coronel pede para que o PM não guinche o carro porque Daniela é vereadora e ameaça trocá-lo de função por não ter “bom senso”, viralizou nas redes sociais e causou polêmica na cidade. (Ouça abaixo.)

CONVERSA NO TELEFONE

Na ligação a que a TV TEM teve acesso, o policial explica que constatou que o carro da vereadora não tinha licenciamento e estava com os pneus gastos, motivo pelo qual decidiu abordar a filha dela, que dirigia o veículo, na Rua Carlos Botelho.

O policial informou, no áudio, que deu a oportunidade para que ela fizesse o pagamento via aplicativo, mas a jovem e o pai, que chegou ao local mais tarde, teriam dito que não tinham condições.

Depois de ouvir a história, a tenente-coronel pede para que o policial não ficasse “tumultuando” e diz que ele deveria ter apenas feito a orientação, sem apreender o carro.

“Porque isso daí é falta de bom senso, tá? Ela é vereadora. É, é, a condição, você pode muito bem estar fazendo e orientando, tá? E aí segunda-feira, ela pegaria o documento e não precisa apreender o veículo”, diz a tenente-coronel no áudio.

Em seguida, a comandante ameaça trocar o policial de setor se ele continuar agindo de tal maneira, já que ele teria desobedecido uma ordem superior.“Se for desse jeito é o que eu to falando, você não vai estar mais segunda-feira no trânsito (…) porque essa aqui é uma ordem minha, você vai responder também”, continua a tenente coronel.

A conversa continua por mais alguns segundos e a tenente-coronel repete que o policial de trânsito deveria ter tido bom senso ao analisar a situação, já que a mulher é vereadora.

“Olha o que você tá causando, porque politicamente ela é vereadora. Não teve nem uma conversa, o que você está achando que você é?”, questiona no áudio.

O Comando do Policiamento do Interior da região de Bauru (CPI-4), ao qual é subordinado o Batalhão de Marília, informou que o policial que efetuou a apreensão não foi afastado, mas estava matriculado em um curso em São Paulo, agendado para o dia 24 de agosto.

Por causa disso, segundo a PM, ele não vai exercer suas atividades em Marília até a conclusão do curso em 4 de setembro. Depois disso, deve retornar às suas funções habituais.

“Após tomar conhecimento da gravação, o comandante regional instaurou inquérito policial militar para esclarecer todos os fatos que envolveram a apreensão do veículo e as condutas da comandante e do policial militar”, completou a corporação.

A vereadora Professora Daniela se manifestou por meio de nota. Ela disse que, “em nenhum momento seu telefonema para a comandante tenente-coronel Márcia Crystal teve o objetivo de praticar tráfico de influência” e que foi apenas para ver se havia a possibilidade de não ter o veículo apreendido.

Daniela comentou também que “não houve nenhuma indagação para que o referido militar fosse punido ao exercer suas funções” e que ficou preocupada com a filha. Além disso, informou que os pneus não estavam gastos.

Por fim, a vereadora afirmou que concorda com os procedimentos determinados pela legislação de trânsito e que “vai tomar as atitudes jurídicas para o caso, prezando pela verdade e justiça”.

Na ligação, a tenente-coronel afirma que o policial pode ser transferido do setor — Foto: TV TEM/Reprodução