A reportagem da TV TEM teve acesso ao vídeo do circuito de segurança que registrou a abordagem policial ao carro em que o jovem Bryan Bueno, de 22 anos, estava quando foi morto por um policial militar em Ourinhos (SP), no dia 9 de junho. As imagens foram cedidas na tarde desta quarta-feira (22) pelo Conselho Estadual de Defesa Humana (Condepe) que também apura o caso. O jovem foi morto com um tiro no pescoço e a Polícia Militar alegou que o tiro foi acidental. O policial envolvido na ação chegou a ser preso, mas foi solto até que a investigação seja concluída.
morte do jovem (Foto: Reprodução / TV TEM)
Nas imagens é possível ver que a rua está bem movimentada por causa da feira de exposições que era realizada na cidade na época. Às 2h37, passa uma viatura da Polícia Militar, instantes depois, um policial pede para um carro azul parar. Nele estão Bryan e outros quatro amigos. O policial que parou o carro vai até a janela e logo depois aparece um segundo policial que caminha até o carro, saca a arma da cintura e logo atira, assim que chega na janela. É possível ver o clarão do disparo.
O vídeo é do circuito de segurança de um estabelecimento comercial que fica em frente ao local da abordagem e a Polícia Civil só teve acesso ao material, que estava com a Polícia Militar, na semana passada, após o delegado responsável pelo caso enviar um ofício à Justiça solicitando as imagens.
Entenda o caso
Bryan Bueno, de 22 anos, morreu baleado durante uma abordagem da Polícia Militar, na madrugada de quinta-feira (9), próximo ao recinto da Fapi – Feira Agropecuária e Industrial de Ourinhos -, que fica na Avenida Jacinto Ferreira de Sá, em Ourinhos. Segundo informações da Polícia Militar, o carro andava em zigue-zague e um dos meninos teria derrubado alguns cones de sinalização.
Dois policiais pediram para que o carro parasse. Bryan estava no banco da frente, do lado do motorista, e levou o tiro de um dos policiais. “O policial não declara que fez o acionamento desse gatilho. Ele declara um recuo diante desse esboço de reação da vítima. E nesse recuo que ele fez, com esse passo para trás, que ele teria dado esse disparo”, explica a comandante do Batalhão da Policia Militar de Ourinhos, Cenize Araújo Calasane.
O jovem, que morava em Santa Cruz do Rio Pardo, foi atingido no pescoço. Ele foi socorrido pelo Samu, mas chegou já sem vida na Santa Casa.
Sem reação
Um dos amigos do jovem, que estava no carro, contou que eles não tiveram tempo de sair do carro. “O Bryan estava no banco da frente e ele fez uma brincadeira, colocou a mão para fora do carro e pegou um dos cones. Um dos policiais que estava ali na frente viu e deu sinal de luz para que a gente parasse. Nós paramos certinho, não tivemos nenhuma reação. Aí um dos policiais veio em uma das janelas e outro, que estava mais exaltado, foi na outra janela e ele já veio com a arma apontada, pegou no colarinho da camisa do Bryan e mandou ele sair do carro e nisso atirou. Nós só descemos do carro depois que ele atirou, quando pediram para parar. Não deu nem tempo de fazer nada, não fizemos nada, foi coisa de segundos”, afirma o estudante Wesley Moraes, amigo da vítima.
Ainda segundo o jovem, Bryan não teve nenhuma reação. “Não deu tempo dele fazer nada. Como o policial chegou, pegou no colarinho dele e já atirou e ele já abaixou a cabeça”, completa.
em SP (Foto: Imagens cedidas/ Condepe)
A mãe do jovem também confirmou a versão dos amigos de Bryan em depoimento dado em uma reunião na ouvidoria das polícias em São Paulo. Valdinéia Pontes foi ouvida pelo representante da ouvidoria no dia 14 de junho. Ainda muito abalada, ela pediu justiça. “Para mim foi um assassinato, uma execução, por isso eu quero a ação da promotoria, do júri, para que esse caso seja julgado como um homicídio doloso e não culposo. Porque ele teve a intenção de matar o meu filho”, afirma a mãe.
Ainda de acordo com ela, os amigos contaram que Bryan não teve nenhuma reação e que foi tudo muito rápido. “O policial chegou pelo lado do Bryan e pegou ele pelo colarinho da blusa e com a arma na outra mão, mas os meninos disseram que foi tão rápido que ele (o policial) já chegou e atirou. O tiro passou pelo pescoço do meu filho, perfurou o coração dele e pulmão e atingiu o banco do menino que dirigia o carro, quase atingiu ele também. Ele (Bryan) num teve tempo nem de tirar o cinto, o tiro passou pelo cinto. Ele num teve nenhuma reação”, afirma.
O caso também teve outros desdobramentos. Uma equipe do Samu que foi parada pelos policiais após Bryan ter sido atingido pelo tiro registrou um boletim de ocorrência em que afirmou que foi ameaçada pelos policiais para prestar socorro ao rapaz. Segundo informações da ocorrência, a médica e a enfermeira estavam com um paciente dentro da ambulância quando foram paradas pelos policiais.
reunião na ouvidoria (Foto: Reprodução / TV TEM)
A Polícia Civil anexou essa ocorrência às investigações e também vai apurar esse fato, que pode ser um agravante à conduta dos policiais. Ainda segundo a Polícia Civil, nenhum delegado foi chamado no momento do crime e nenhuma arma foi entregue à perícia. O carro onde o jovem foi morto foi lavado no batalhão de Polícia Militar. O fato chegou ao conhecimento do Conselho Estadual de Direitos Humanos. “Os policiais arbitrariamente pararam essa ambulância e fizeram o paciente sair para colocar o Bryan e isso ao nosso ver foi uma simulação para alterar a cena do crime, porque os próprios amigos disseram que ele já estava morto, que ele morreu no local, então eles quiseram simular um socorro e inclusive ameaçaram a médica com arma em punho dizendo que se caso ela não tirasse o paciente e colocasse o Bryan ela seria presa por desacato”, afirma Lúcio França, um dos representantes do Conselho.
Representantes do órgão conversaram com a família da vítima e com testemunhas, como os outros quatro jovens que estavam no carro. Depois de ter ouvido os depoimentos, o conselho disse que vai denunciar o policial à corregedoria da PM e à ouvidoria das polícias do estado. “Nós vamos encaminhar essa representação à promotoria dos Direitos Humanos do Ministério Público e nós também iremos encaminhar a família até a Defensoria Pública para que ela possa entrar com uma ação para que eles possam pedir uma indenização à Polícia Militar e ao estado”, afirma Lúcio França, um dos representantes do Conselho.
O caso é acompanhado pelo Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Humana (Condeph). Para Luis Carlos Santos, relator da Condeph, o caso não é normal. “Não é normal o que aconteceu naquela cidade, no caso do Bryan. Aconteceu que o policial militar conduziu toda a ocorrência, passando por cima de uma resolução 40. O local tem que ser preservado e toda a condução dos fatos tinha que ser apurada inicialmente pela Polícia Civil.
A família pretende entrar com uma ação contra o policial militar que fez o disparo e contra o estado. Ainda esta semana estão marcadas reuniões em São Paulo com a promotoria de Direitos Humanos e a Defensoria Pública.
Para o comando da PM, o policial afirmou que o disparo foi acidental. Segundo um dos delegados que investiga o caso, o trabalho da Polícia Civil foi prejudicado pela Polícia Militar. Nenhum delegado foi chamado no momento do crime. A arma do policial também não foi entregue para perícia. E o carro onde o jovem foi morto, foi lavada dentro do Batalhão da PM.
Nós entramos em contato com a Polícia Militar solicitando uma posição sobre o assunto, mas não recebemos resposta até o momento desta edição do Hora 1. Fonte G1