‘Vivo com medo’, diz estudante ferida por bala de borracha da PM em festa

 

Uma semana após o confronto entre policiais e estudantes em uma festa de república em Bauru (SP), uma das jovens que ficou ferida na confusão afirma que o fato mudou a rotina de todos os envolvidos. “A gente está muito abalado ainda. Vivo com medo, se ouço sirenes meu coração dispara. Estamos tentando entender ainda o que aconteceu, o porquê de tanta violência. Foi brutal”, lembra Flávia Gândara Simão, estudante de jornalismo que foi atingida por uma das balas de borracha disparada pelos policiais.

O confronto aconteceu no dia 15 de maio. Segundo a Polícia Militar, uma viatura foi até a casa onde ocorria uma festa para averiguar uma situação de perturbação de sossego. E chegando ao local, os policiais teriam sido desacatados por um dos estudantes e dado voz de prisão ao rapaz e foi quando a confusão começou. Segundo a PM, dois jovens ficaram feridos, um por causa de um tiro de bala de borracha e outro teve ferimentos no rosto ao ser algemado. No entanto, os estudantes afirmam que seis deles ficaram feridos, dois por tiros de bala de borracha e outros quatro porque apanharam.

Flávia conta que não sabe como a confusão começou porque no momento em que os policiais chegaram ela estava dentro da casa. “Quando vimos que tinha algo errado, eu e um amigo resolvemos sair e vimos outro amigo sendo agredido pelos policiais do outro lado da calçada. Foi aí que resolvemos entrar novamente e os policiais entraram juntos. Nós falamos várias vezes que eles não poderiam entrar sem um mandado, que eles não podiam fazer isso, mas eles entraram já agredindo, batendo com o cassetete nas pessoas. Eu me senti uma bola de beisebol, estou com as costas acabada. E foi nessa confusão que eles disparam as balas de borracha. Eu estava a uns dois metros de distância e a bala atingiu minha perna, meu amigo também foi atingido, mas estava mais perto, foi a queima roupa, ele teve que dar sete pontos”, afirma.

Segundo a nota da Secretaria de Segurança Pública, um dos estudantes teria tentado pegar a arma do policial e ela disparou, no entanto, o comandante do Quarto Batalhão da Polícia Militar, Flávio Kitazume confirmou que três tiros de borracha foram disparados.

O comandante também disse que diante da situação foi acionado o reforço policial e dez viaturas se deslocaram para o endereço da festa, cerca de 20 homens da PM. Segundo a estudante, quatro policiais entraram na casa e um deles chegou a entrar na cozinha e, ainda de acordo com Flávia, ele procurava o estudante que recebeu voz de prisão. “Ele sabia que não poderia ser preso sem o RG e por isso ele entrou na casa para pegar o documento”, conta.

O estudante foi um dos mais agredidos e teve ferimentos no rosto, principalmente nos olhos. No dia seguinte às agressões, ele não quis dar entrevista a equipe de reportagem da TV TEM que foi até a casa onde ocorreu a confusão, mas deixou que a equipe fizesse imagens dos ferimentos. De acordo com a colega de faculdade, ele passou por cirurgia para reconstrução da parte superior de um dos olhos em São Paulo. O G1 tentou contato com o jovem para saber sobre o estado de saúde dele, mas ele não atendeu às ligações.

Ainda de acordo com Flávia, o grupo registrou um boletim de ocorrência no dia das agressões e passou por exames de corpo de delito no dia seguinte. Ela contou que os estudantes vão entrar na Justiça para pedir indenização pelos danos físicos e psicológicos sofridos, mas devem aguardar a recuperação de todos e a conclusão do inquérito policial.

Investigação policial
A Polícia Civil abriu um inquérito para investigar abuso de autoridade, lesão corporal, perturbação de sossego e desacato. De acordo com o delegado coordenador da Central de Polícia Judiciária, já foram requisitados os exames de corpo de delito e a polícia agora deve ouvir as partes. “As intimações já foram expedidas e entre 15 a 20 pessoas devem ser ouvidas nos próximos dias. Foi feita a requisição também de imagens, o que tiver de registro da ocorrência como parte do material de investigação”, explica o delegado Dinair José da Silva.

A Polícia Militar também abriu um inquérito para apurar os fatos e informou que qualquer irregularidade na conduta dos policiais será devidamente punida. O tenente-coronel Flávio Kitazume informou que está recolhendo provas como fotos e filmagens para a investigação.

Algumas pessoas foram ouvidas informalmente. Ele disse que os policiais envolvidos  continuam com suas funções normais e que, somente depois das investigações, que será possível alguma punição, se for comprovado abuso. “Seria prematuro falar em punição neste momento. Se ao final das investigações ficar comprovado que houve crime, as medidas cabíveis serão tomadas. Os envolvidos podem responder judicialmente e também na esfera administrativa na Polícia Militar.”

O processo será encaminhado ao Ministério Público e a promotoria deve analisar a denúncia. “Se alguém errou, o promotor vai analisar e isso pode virar uma denúncia”, explica o promotor Hercules Sormani Neto.

O número de policiais envolvidos na ocorrência, aproximadamente 20, foi uma das questões que gerou revolta dos estudantes, além da forma da abordagem.  No entanto para o presidente da comissão de segurança pública de Bauru, Alessandro Carrenho, o procedimento realizado foi padrão.

“Em relação à quantidade de policiais empregados, o procedimento preconiza que a abordagem deve correr preferencialmente em superioridade numérica para garantir a integridade física do policial. De acordo com o procedimento não houve abuso no reforço policial, se são 50 pessoas, não houve superioridade numérica, está dentro do procedimento padrão para a segurança dos policiais.”

O número de policiais envolvidos na ocorrência, aproximadamente 20, foi uma das questões que gerou revolta dos estudantes, além da forma da abordagem.  No entanto para o presidente da comissão de segurança pública de Bauru, Alessandro Carrenho, o procedimento realizado foi padrão.

“Em relação à quantidade de policiais empregados, o procedimento preconiza que a abordagem deve correr preferencialmente em superioridade numérica para garantir a integridade física do policial. De acordo com o procedimento não houve abuso no reforço policial, se são 50 pessoas, não houve superioridade numérica, está dentro do procedimento padrão para a segurança dos policiais.” Fonte G1